sábado, 27 de dezembro de 2008

Como eu já disse

Desculpa, mas eu não sei brincar de disputar.

Onde é que eu assino o seu recibo?

O que mais que você quer? Saber quem eu sou? Se sou magra, bonita? Se sou boa de cama? Se já li meia dúzia de livros que você considera inteligente? Se sou digna de ser considerada cult, os 10% do mundo do qual você faz parte?

Olha. Eu sou feia, chata e gorda. E burra. Não sou boa de cama. Sou péssima. Odeio luz acesa e não tenho coordenação. Gosto de livros de auto-ajuda. Filmes, só os da sessão da tarde (é com 2 S’s mesmo?). Dublados, que você tem preconceito.

Durmo cedo e acordo cedo. Como quem trabalha em chão de fábrica. Que precisa manter sua rotina para se sustentar. Bebo um pouco mas não fumo. Uma pessoa completamente desinteressante. Mesmo gorda, corro quase 10 km. Mas não se preocupe. Isso não faz de mim uma pessoa melhor.

Pronto. Viu só, sou a pessoa mais 80% do mundo. E namoro com um cara que faz parte das minhas escolhas certas. Eu não gosto de escolher errado. O cara mais normal do mundo, exatamente acima da média da distribuição normal padrão. Um Sr. Zero.

E, não sei como, tenho amigos inteligentes, por quem com certeza você se arrastaria apaixonaria. Talvez meus amigos inteligentes, que leriam seus livros, sejam ainda meus amigos por pena. Ou piedade. Ou caridade, talvez. Ou porque, de tão feia, chata, gorda e burra, eu ainda seja um tantinho simpática. Ou só porque tem certas coisas que a vida não explica mesmo. Como paranóia.

E aí, onde é que eu assino?

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Férias?

Não é que eu saí pra viajar, passar Natal em família nem nada. Não estou de férias. Ou talvez esteja, não sei. Esta é talvez uma questão semântica. Mas o fato é que tirei uns dias pra viver. Falar menos, pensar menos e fazer mais. Chega de remexer sentimentos, querer tirar coisas fora para liberar espaço pro novo.

Minha casa já está arrumada. Daqui outros dias eu bagunço tudo de novo. Mudo a cor das paredes, troco tudo de lugar. Alguém um dia disse “que eu possa me perder pra me reencontrar” e eu adotei como verdade minha.

A noite de ontem, após a ceia, tudo pareceu tão familiar. Me ganhei de Natal. Talvez seja por estar com alguém do meu lado que se parece tanto comigo. Só que mais louco. Deliciosa loucura…

Horas no mesmo bar de todos os anos para reencontrar amigos de toda uma vida. Adoro o 25 de dezembro. Horas de rock’n roll. Eu quase já tinha esquecido do gosto de beijar alguém com a boca gelada do gelo da vodka, num calor insuportável de dezembro, escutando Pink Floyd. Relembrei a fantasia que tenho quando tocou Roadhouse Blues, do The Doors. [Ele olhou para mim e só disse: "eu lembro". E retribuiu meu sorriso malicioso enquanto aproximava a boca para sussurrar-me no ouvido.]

Uma garrafa de vodka, alguém que entenda de rock, de guitarras e de mim, amigos de uma vida. Deixo pra pensar depois.

Cheguei em casa, dia claro. Nove da manhã. Em noites de Natal e Rock’n Roll prefiro camas separadas. Ressaca de felicidade. E só. Um sorriso de quem ainda esconde certas coisas. No fundo, só estou vivendo. Por esses dias…

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Fora de contexto




Você gostou de mim porque eu era racional e eu de você porque você era real. Eu fazia parte das suas fantasias e você era só uma pessoa que me chamou a atenção pela inteligência racional.

E tudo aconteceu. Trocamos de expectativas e de visão um pelo outro e, no meio de conversas pontuadas por subjetivas intenções, vontades e desejos se tornavam explícitos. Eu fingi negar e você insistiu. Não de forma truncada, categórica. Só bem argumentada. E eu não resisti aos seus argumentos.
Nada de jogos de sedução. Conversamos brincando de teoria aplicada, temperada de bom humor.

Você enfrentou as minhas inseguranças e fez eu mudar de idéia. Atravessou a cidade e chegou em casa, sóbrio. E eu me sentia completamente embriagada de insanidade. Respirei fundo, tentei disfarçar. Conversamos olhando nos olhos até o ponto em que deixamos nossos corpos e sentidos falarem por nós.

Das horas seguintes lembro cada detalhe. Cada cheiro e cada gosto. Palavras sussurradas e respiração descompassada. Mas sou incapaz de descrevê-las. Me falta racionalidade e senso de realidade para isto. E sairia do contexto desse texto tão curtinho que escrevi lembrando de você.

Para Maria da Graça

Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.
Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.
A realidade, Maria, é louca.
Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?"
Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.
A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.
Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.
Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.
A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?"
Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! mas quem ganhou?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre onde quiseres, ganhaste.
Disse o ratinho: "A minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance só é o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energeticamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.
Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente.
E escuta a parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios, disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom-humor.
Toda a pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões.
Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas".
Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: É feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

Paulo Mendes Campos

Descobrindo o meu lado agape

Nunca foi segredo pra ninguém que eu sempre gostei das borboletas no estômago. Que sou passional, que adoro um amor inventado. Que me jogo de olhos fechados a hora que eu encasqueto que “é esse”. [Nunca foi, mas enfim... é só um detalhe!].

Mas simplificando bem as coisas como acontecem e olhando de forma bastante racional, o negócio é que eu sempre gostei de me apaixonar, de idealizar um relacionamento, de encontros inusitados, daquela loucura toda da novidade. Quanto maior a confusão e quanto mais enrolada fosse a história, lá estava eu, me enrolando toda. No fundo, no fundo, eu achava o máximo quando, depois de uma confusãozinha, um pouco de incertezas, eu tinha um encontro de soltar faíscas. E era tudo suuuperr divertido! Por 1 noite. No outro dia, todo o vazio, a angústia, as dúvidas, voltavam. E permaneciam por um bom tempo até eu cansar de sofrer ou ter outro encontro intenso, fulminante. E não venha me dizer que isso não é uma forma de amor. Os gregos diria que esta é uma forma possível de amar e a chamariam de Eros.

Mas, como tudo que dura demais, cansa, resolvi ter novas experiências. Comecei a olhar certas coisas com outros olhos e a me perguntar: “por que não?”. Outra forma de amor definida pelos gregos é agape, em que o amor é visto como um amor de afeição elevada, que transcende o contato físico, mas não o exclui. Um amor igual a nós mesmos.

Pois é. Não sei se ele me venceu pelo cansaço ou por nos darmos tão bem durante tanto tempo. Sempre fomos amigos e já tivemos uma quedinha um pelo outro. Talvez não os dois ao mesmo tempo. Já tínhamos nos agarrado algumas vezes. Por carência, por vaidade ou por farra. Mas os dois conheciam muito bem seus limites. E nunca deixamos que a amizade acabasse. Nem o respeito, nem o bem querer.

O Rafa, sempre foi meu irmão mais velho, meu anjo, meu braço direito (e algumas vezes o esquerdo também!), minha consciência (eu precisava ter uma, mesmo que fosse emprestada!), meu breque e meu acelerador. O Rafa gosta mais de matemática e estatística que eu mas eu escrevo melhor que ele. E essas diferenças sempre nos deixaram mais próximos.

O Rafa já me colocou muitas vezes pra dormir mas nunca foi pra cama comigo. Mesmo quando eu insisti. Ele sempre me dava um beijo na testa depois de me fazer tomar Epocler e dizia: estou no quarto ao lado. E no outro dia ríamos da cena da noite anterior tomando café na padaria da esquina. E ele me lembrava do que eu tinha feito na noite anterior.

O Rafa já me viu gorda, magra. Namorando, solteira. Rastejando, chorando, sofrendo. Jurando nunca mais passar por isso. E também já me viu feliz, tranquila, empolgada. E ele sempre esteve ali. Ou pra me apoiar ou pra me puxar a orelha quando eu precisava.

Eu também já dei umas broncas nele. Principalmente por causa das gurias que ele insistia em telefonar de volta sem o meu aval. Mas tudo bem, eu não poderia privá-lo de levar certas rasteiras da vida já que eu mesma também levava as minhas.

De uns tempos pra cá aconteceu que ficamos algumas vezes. Nos tornamos mais que amigos, e menos que namorados. Discutimos algumas vezes por estarmos no meio termo. Ele querendo dar um passo a frente e eu querendo dar um passo para trás.

Acabamos nos afastando e eu senti muita falta dele. Não aquele sofrimento de amor louco. Falta com uma pontinha de tristeza. Éramos ótimos juntos. Resolvi ser dissimulada e ir atrás dele, como se nada tivesse acontecido. Como quem não quer nada. E ele, que me conhece e não é bobo nem nada, foi claro e objetivo quando me disse que ele não esperava mais só uma amizade entre a gente. Ele queria mais.

Eu, nessa brincadeira de tudo ou nada, mesmo com medo, escolhi tudo.

Ele sabe que não será assim, uma coisa fácil. Que eu vou tentar fugir vez ou outra. Por medo ou por tédio. Mas espero – e que fique aqui resgistrado! – que ele não deixe.

Tantos amores eros, tantos Fabios, Marcelos, Joãos, Ricardos, Diogos, que espero mesmo bastar num amor agape.

Rafa, que sejamos a paz um do outro. Que consigamos continuar do jeito que sempre fomos, sentindo aquilo que já sentíamos. Talvez eu estivesse ocupada demais sofrendo por quem não me enxergava que esqueci de viver ao lado de quem me enxergava exatamente como eu era. Nem mais, nem menos. Eu sei que muitas vezes você não me entende (como eu também não te entendo!). Mas sei que você aceita meus detalhes, não está nem aí pros meus defeitos. Que você me banca em todos os sentidos.

Obrigada pelo tudo ou nada. Por saber como e quando fazer isso comigo.

[E obrigada aos meus amigos Renato, Carlinhos e Du, que são meus amigos e não conhecem o Rafa, mas ficaram do lado dele mesmo assim!]

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Gêmeos com ascendente em Câncer

Nunca me achei diferente. Nem superior a nada nem ninguém. Só inferior. E isto é é uma outra história. Sempre me preocupei em viver só a minha vidinha torta. Mas que era minha!

Todas as coisas que quis provar um dia não era pra ninguém além de mim mesma. Todas as vezes que alguém tentou me desafiar eu dizia “não, obrigada”. Nunca quis ser melhor que ninguém, então porque eu precisaria provar isso? Então, se me desafiavam, me enfrentavam, eu entregava logo o recibo que a pessoa precisava para mostrar ao mundo que era melhor que eu. Hoje, pensando, entendo porque essas pessoas ficavam mais frustradas que felizes quando eu fazia isso. Parece que a insegurança era delas e não minha.

Por outro lado, eu sempre fiz com que meus anjos e demônios discutissem muito. Minha razão e minha emoção parecem ter se desenvolvido na mesma proporção. E elas disputam tanto a minha atenção que poucas vezes sobra espaço pra outra coisa.

Todos os livros que li na infância e adolescência, roubados da biblioteca de casa, muitos que eram da época da faculdade de psicologia da minha mãe, eu lia escondido. Não sobrava ninguém para discutir aquelas páginas. Mas eu nem me importava. Acho que, por ser tímida demais, “jacú” como me defino até hoje, eu me sentia muito bem protegida no meu quarto enquanto minhas amigas do colégio iam ao clube tomar sol e paquerar os garotos nas férias de verão. Ah, as férias de verão… Pareciam eternas! Era quase sofrimento!

Quando novembro terminava e as aulas da escola de ballet davam tempo demais para minhas bolhas dos pés respirarem e minhas unhas crescerem saudáveis, todos pareciam felizes e empolgados para colocar seus trajes de banho. Eu me sentia muito mais à vontade no palco, com a luz da platéia apagada.

Talvez esteja aí a raíz das brigas e discussões entre a minha razão e minha emoção. Nasci de uma mãe psicóloga e cresci em cima de um palco. Talvez esteja aí também a minha falta de empenho em provar algo para alguém. As luzes da platéia sempre apagadas. Se alguém me julgasse, eu simplesmente não enxergava. Bastava só o que eu estava vivendo lá em cima. Bastava só o que eu esperava de mim mesma. E era muito, hoje vejo.

Não sei se pela timidez, por ter tido vivências diferentes e, desta forma, gostar de coisas diferentes das minhas amigas do colégio, eu sempre vivi mais pra dentro do que pra fora. Nunca tive problemas para falar o que se passava pela minha cabeça e pelo meu coração, mas parece que a intensidade sempre era acima da média. Não no sentido de ser melhor, porque melhor ou pior é juízo de valor. E eu sempre fui péssima com juízos de valores. Não sei comparar coisas e decidir o que é melhor ou pior. Está muito aquém da minha competência.

Mas muitas vezes parecia que só eu enxergava certas coisas, sentia certas coisas. Era como se tudo desse muito só existisse no meu universo particular. Uma vez, num jantar das minhas amigas de faculdade de final de ano tinha uma cartomante. Claro que, mesmo sem acreditar nessas coisas, eu fui consultá-la. Ela me perguntou minha data de nascimento e o horário que eu nasci e me disse o que eu já sabia: Gêmeos com ascendente em Câncer. E não me impressionei quando ela começou a descrever as características do cruzamento desses dois signos. E, não por acaso, um movido à razão e outro movido à emoção.

Como geminiana, sou excessivamente curiosa, tudo que é diferente chama a minha atenção. Faço milhares de coisas ao mesmo tempo, falo sobre qualquer assunto mesmo sem saber sobre e me interesso por tudo. Já disseram que quem é de gêmeos tem duas caras. Eu tenho várias… Não no sentido de ser falsa, mas por me identificar com diversas coisas e tipos em tempos diferentes. Ao mesmo tempo, também enjôo fácil das coisas e das pessoas. Se estou numa situação ou com alguém em que não estou aprendendo nada de novo, eu mudo de lugar e de pessoa. E não venha tentar me convencer o quanto você é bom e interessante. Eu até posso acreditar nisso, mas pode ser que talvez você já tenha caído na mesmice pra mim. E acho pessoas que fazem questão de se mostrar interessantes, inteligentes, diferentes e melhores que as outras muito chatas! E quando são óbvias, pior ainda! Eis meu lado geminiano…

Já câncer me faz ser meiga, sensível, apaixonada e até um pouquinho romântica. Me faz sentir muito, sentir tudo! Acabo sendo muito olhos, muito cheiro, muito gosto, muito ouvido, muito pele. Meus cinco sentidos multiplicados por dois. Exageradamente exacerbados! Sinto muito, sentir é muito lento! Se estou feliz, estou muito feliz! E se fico triste, fico muito triste. É aquela passagem “seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito”.

Esses meus dois signos, com esses dois lados, brigam o tempo todo. Meus anjos e demônios. Já aprendi escutar os dois ao mesmo tempo e dar ao anjo o que é do anjo e dar ao demônio o que é do demônio.

Não sou melhor que ninguém por viver bastante tempo no meu universo particular. Por ter lido livros e visto filmes com outros olhos. Na verdade, isto nunca me importou. Eu sempre estive tão ocupada fazendo outras coisas, vivendo de outro jeito que pra mim nunca fez sentido enfiar goela abaixo a minha forma de sentir, de viver e de enxergar o mundo. Seja o meu, seja o de todos. E sinceramente não sei como as pessoas me enxergam. Acho que isso depende mais delas do que de mim. Já me disseram que sou frágil demais, que sou sensível demais, tímida demais. E também já me disseram que aguento muito calada com um sorriso no rosto. Já me disseram que sou gorda, que sou magra e que sou gostosa. Mas no fim, eu só escuto o que eu quero. E assino o recibo do que quiserem para não ter que espernear e provar alguma coisa a alguém. Prefiro viver essa minha vidinha torta do jeito que eu vivo. Uns dias mais de gêmeos e outros mais de câncer.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Nunca me achei diferente. Nem superior a nada nem ninguém. Só inferior, e isto é uma outra história. Sempre me preocupei em viver minha vidinha torta. Mas que era minha!
Todas as coisas que quis provar um dia era pra eu mesma. Todas as vezes que me desafiavam, eu dizia "não, obrigada".

Um dia normal

Acordou. Levantou com sono. Se olhou sem vaidade. Se vestiu sem vaidade. Sentia-se feliz de certa forma. Pensou que ainda precisava se acostumar com esse tipo de felicidade. A dos dias simples, sem grandes acontecimentos. Sem tragédias e sem grandes surpresas. Afinal, um grande amor ou uma grande desilusão não se encontra em todas as esquinas.

Por rotina, vestiu os saltos, secou o cabelo, combinou a calcinha com o sutiã. Totalmente sem vaidade.

Ela nem sabe quantos minutos demorou para chegar ao trabalho naquela manhã. Distraiu-se ouvindo as notícias econômicas pela rádio e nem falou sozinha sobre os últimos acontecimentos. Parecia ter se esquecido de todo o tumulto vivido em pensamentos na noite anterior.

Cumprimentou a todos com um sorriso educado. Respondeu emails, terminou relatórios, conversou com clientes. Não almoçou. Recebeu elogios e agradeceu. Viveu. Sem vaidade.

Despiu-se de toda sua normalidade para uma conversa que durou mais do que imaginaria. Lembrou de algumas noites vividas e sentidas. Arrepiou da cintura à nuca quando insinuaram as mesmas lembranças que as suas. Suspirou.

Jantou com seu irmão um rodízio de comidas japonesas. Lembrou como “ele” gostava tanto disso e o imaginou dizendo: “gostoooso!”.

“Gostoso seria poder te abraçar com as pernas e sentir frio e calor ao mesmo tempo”, pensou. Sorriu e sentiu-se envaidecida.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Cansada

Antes de amanhecer o dia, a noite de ontem deixou leve até os assuntos mais áridos com os quais tenho tratado de me ocupar nas últimas duas semanas. Rir a gosto acompanhada de marguerita frozen sentada frente a frente a uma irmã de coração não é solução, mas é uma deliciosa forma de deixar pro outro dia todas as coisas chatas que não se resolverão.

É. Às vezes, tentar resolver só piora certos problemas. Às vezes, deixar de resolver faz com que os problemas sumam por si só. E enquanto isso, mais uma marguerita frozen, por favor.

Mais tarde que de costume, deitei ainda vestindo meu rosto levemente rosado, rindo mole e dormi um sono só. Sonhei sonhos reais. Daqueles que se sente o cheiro, a textura da pele alheia, as borboletas no estômago. Ele chegava atrasado para a aula, atravessava aquela sala imensa e sentava ao meu lado. Sem dar atenção no que o professor se esforçava para explicar, ele olhava pra mim com um sorriso sincero e suspirava fundo. Quase que aliviada de vê-lo ali, o puxava devagar pelo braço e estalava um beijo meigo na sua bochecha. Depois disso, o sonho mudou e eu lembro de pouca coisa.

Mais cedo que de costume, como é costume só de algumas quintas, levantei ainda com resquícios. Das margueritas e do sonho. Desci a Angélica ainda meio zonza, mas já disposta a digerir certas coisas. Última sessão do ano. Falei durante 1 hora e meia, em meio a lágrimas incessantes. Desconfio que dezembro também sirva pra isso. Para pararmos em algum dos seus 31 dias para pegarmos sentimentos, pensamentos, valores, padrões, olharmos de perto um por um, recuperar tudo aquilo que cada um deles te causa e saber o que se quer levar pro próximo ano e o que se deve deixar pra trás.

E nesta manhã, ao invés de ter que juntar meus caquinhos, fui obrigada a quebrar meu gesso com as próprias mãos. Mexer as articulações, sentir de novo a pele em contato com a seda do vestido. Voltar a ter segurança para largar as muletas de uma vida toda e andar de novo.

Estranheza e leveza. Percebi o quanto estava cansada, esgotada de carregar todo aquele peso do gesso. Leveza e dor. Como era difícil não depender mais do meu gesso, mexer de novo tudo aquilo que se manteve fixo, imóvel, durante todo o tempo.

Dirigi devagar até o trabalho. Chorei de forma inconsolável até lá. Doía tanto… Dói ainda. Muito. Fiquei engessada tempo demais… Troquei meses de aflição por dias de redenção durante anos. Uma troca burra. Quem, além de mim, estaria disposta a fazer uma troca dessas? Quem, em sã consciência, usa gesso sem ter uma perna quebrada? Ainda não sei como me acostumei a sempre estar disposta a sangrar tanto durante tanto tempo por um curativo sem pontos, só band-aid.

Esperei, insisti, tive paciência, investi. Meses e meses. Por dois dias de beijos vazios que, mesmo assim, alimentavam os próximos meses e meses. E hoje, percebi que estava morrendo de fome, de sede. Que só me acostumei a beber água com conta-gotas. Mas que estava era mesmo morrendo desidratada. Eu queria ter abandonado o conta-gotas e ter tido uma morte mais rápida. O conta-gotas, no fim, só me proporcionou uma sobre-vida.

E de forma antagônica e real, ainda é assustador imaginar beber água num copo…

Chorei durante todo o dia. Olhos parados no monitor, me sentia sangrar. Mas rejeitei o band-aid. Tem horas que precisamos sangrar até cicatrizarmos sozinhos. E assim foi. Sentindo cada ferida aberta, respirei fundo e deixei sangrar. Era disso que eu precisava hoje.

Cheguei em casa mais cedo. Queimei em febre. Deitei. Meu corpo doente parecia reconhecer tudo aquilo que me faltava. Tive delírio e alucinação já caída na cama. Mas, algumas horas depois, tudo parece começar a tomar novo lugar. Estou cicatrizando, devagarinho. Recuperando-me do cansaço. E sentindo a nova sensação boa do meu vestido de seda tocando a minha pele.

E devagar também a estranheza se transforma em outras coisas que não só alívio… uma certa satisfação, talvez…

[... e este texto não acaba. Ainda não basto em mim e não consigo definir todos os sentimentos e sensações. Nem dos que virão e só um pouco dos que ficaram pra trás... e que eu terei que viver sem eles!]

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

...

Não sei
Se a vida é curta ou longa demais para nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
Se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser :
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja curta,
Nem longa demais.
Mas que seja intensa,
Verdadeira,
Pura...
Enquanto durar...
Feliz aquele que transfere o que sabe
E aprende o que ensina

Cora Coralina

Dias curtos de dezembro

Dias curtos de dezembro que parecem não caber em mim.

Que o ano termine logo mas que fique tudo de melhor que 2008 me trouxe. A algum tempo atrás, eu pediria que 2008 levasse embora o que já não funciona. É quase igual, e muito diferente.

Sinto tanto de tudo, tudo de um tanto, que quase chego a ter vontade de gritar. Euforia, quando passa, acaba. Dessa vez é diferente. Vem em doses certas, equilibradas. Deixando sã a minha loucura.

Tão sã que nem parece real. A minha realidade se parece um pouco com a idealização de muitos. Até mesmo com as fantasias que eu idealizava para mim.

Não desacredito. Só vivo. Esses dias curtos de dezembro.

Deixo a chuva cair lá fora e saio sem guarda-chuvas. Ah, as chuvas de dezembro. Que terminam de lavar as paranóias que já foram um dia. Quase irreais, um breve lapso quebrando a uniformidade de toda minha inteireza instalada.

Que os dias curtos de dezembro se prolonguem por um ano. E mantenham reais o que já foi fantasia um dia. Alegria?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê?Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida.Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir a! o cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais !!!A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."

Drummond

Em dezembro...

Ando contando os dias para este ano acabar. Dezembro virar janeiro. Nada do mesmo e tudo igual. Mágica!

Não porque 2008 foi ruim. Só por ansiedade mesmo. Esperanças as mesmas, vontade do novo. Dias inteiros por mais doze meses!

Viver sempre me agradou. Dias mais outros menos. Janeiro ainda me chega diferente. Outro mês, outro gosto. Outro ano dos meus 21 completos.

Últimos dias. 2008 quase já foi. Eu aqui. Delicio-me com o gosto de Dezembro, que finda devagarinho e deixa saudades.

Pedido de menina...

Minhas tolices não cabem em mim. Não hoje.

Transbordam caoticamente através de idéias soltas, fixas. Idéias que pulam feito pipoca estourando na panela no óleo quente.

Tenho tanto medo que isso não passe um dia. Queria colo, queria paz. Queria que alguém trouxesse tudo embrulhadinho num papel bonito e uma fita vermelha.

Mas o correio só vem amanhã pela manhã. E, mesmo assim, o interfone não toca.

Queria uma boa notícia por email ou por sinal de fumaça. Uma notícia para colocar ordem nos meus sentimentos.

Queria você do meu lado quando eu acordasse pela manhã. E dizer que o sonho ruim já terminou.

Ah... eu queria tanta coisa, sabe? Mas vou ser menina de novo, conversar baixinho com os meus monstros e só pedir para nos tornarmos amigos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Achando graça

Ontem, relendo meu texto e saboreando devagar o que enfim, sentia, pensei comigo:

“Dessa vez escrevi o texto por mim. E cada um deles, todos eles, quando lerem esse texto, vão ler e identificar-se. Vão achar que, mais uma vez, como sempre, esta é só uma forma de manter-me próxima, chamar atenção.”

Sorri sozinha. Que bobagem!

O ego é uma coisa louca e eu sei que não adianta espernear, e gritar, e pedir pe-la-mor-de-deus para que cada um deles acredite que minha postura em relação às coisas que me fazem mal mudou. Que comecei a valorizar certas coisas simples e fáceis. E proporcionais. E que perder tempo com a pessoa errada é só perder tempo…

No fim, cada um acredita só no que quer. E eu não faço mais questão de provar nada a ninguém.

Se o texto é pra você? Se ele te serve, então ele é pra você. Mas no fundo, o texto anterior foi feito pra mim. Para que eu possa lê-lo e relê-lo cada vez que eu sentir aquela vontade em repetir meus padrões. Cada vez que eu me olhar e me enxergar andando novamente na corda bamba. E poder lembrar que eu já acordei!

Pra sentir novamente e reafirmar as minhas vontades de ser diferente… Que de confusões já bastam as minhas.

Não vou tentar convencer ninguém de nada. Acredite no que quiser. Já não me importo… Mas quem se importa?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Hoje acordei diferente

Hoje acordei diferente. Hoje acordei como quem consegue abrir mão de tudo aquilo que não me preenche. Hoje acordei e dei bom dia para o meu vazio e jurei para o espelho que minha escolha, a partir daquele momento, seria não mais venerá-lo.

Por toda uma vida cultivei tudo aquilo que se manteve sempre na superfície e que não existia possibilidade para ser diferente do que era. Tudo aquilo que eu acreditava poder dar certo de alguma forma. Menti a mim mesma que tudo isso, só dependia de mim. Acreditava no que não era e no que nunca se tornaria.

Cultivei as firulas, os detalhes. E me esqueci que detalhes são só coisas muito pequenas e que não significam exatamente nada sem ter algo parrudo para que os detalhes então façam a diferença. Detalhes por eles mesmos não preenchem o vazio, por menor que o vazio se apresente. O que seria de um botão sem uma camisa? O botão só se torna algo desejado quando alguém veste a camisa. Ah… Como é bom brincar com botões!

Hoje acordei diferente e quis uma camisa com muitos botões. E principalmente alguém que a vista para que eu possa despí-lo para me despir. Qualquer coisa menos que isso não me serve, se tornou inútil.

Hoje acordei cansada e achando sem graça tanta coisa… Tanta coisa que me impulsinou durante toda uma vida. Aquela vida vivida até ontem. Cansei de caminhar na corda bamba, entre a dor e o desejo, esperando encontrar o amor.

Vivi até hoje acreditando que muitos amores poderiam ter sido e não foram. Mas quer saber? Nenhum deles poderiam ter sido. Todos eles, sem exceção, se tornaram amores só por eu amar demais. Porque eu amei demasiadamente os fracos espasmos que apareceram na minha vida. Eu só queria um botão. E um botão não é nada sem uma camisa…

E por amar demais, amei de menos…

Por ser fraca e não escutar tudo que chegava aos meus ouvidos aos berros, cultivava os detalhes. Os pequenos momentos insignifcantes (e um tantinho belos) eu fazia virar um um amor que poderia ser. E que nunca foram.

O amor, aquele que eu quero hoje, ecoa. Te devolve tudo aquilo que você sente e faz. Em alto e bom som. O homem que merece ser amado te enxerga, até naqueles momentos em que você desejaria ficar invisível. Conhece seu gosto e seu cheiro na mesma proporção que você conhece o gosto e o cheiro dele.

Hoje acordei querendo um amor proporcional e deixei de lamentar todos aqueles amores que não foram. Eles não poderiam ter sido… E assim foi.

Hoje ainda estou me acostumando com a assertividade que escolhi vestir depois do banho. Comecei a desacreditar nas histórias mal começadas sem embasamento emocional.

Desacreditei que certas coisas podem dar certo quando uma de duas pessoas mantém expectativas no menor patamar possível. E que precisamos ser perseverantes e levar um dia de cada vez. Vivendo um dia de cada vez, míopes, esperando quase nada de quase ninguém é quase morrer a agulhadas.

Até ontem vivi em agulhadas por tentar entender as pessoas que vivem no menor patamar de expectativas. Me sentia sendo cozida em banho-maria e angustiada e louca por querer sempre um pouco mais. Me culpava por não conseguir entender muito bem o que seria esse maldito menor patamar e esperava quietinha, doendo. Como se um dia pudesse ser.

Destruí tijolo por tijolo do meu castelo e não pretendo procurar nada que se salve nas minhas ruínas. Não pretendo mais encontrar o amor entre a dor e o desejo. Demorei para entender que todos os amores que poderiam ser, de fato não poderiam. E parei de lamentá-los. Abandonei meus velhos vícios.

Acordei e olhei minha vida vivida de forma rastejada, implorada por pouco. Não pretendo mais fazer das tripas coração por nada nem ninguém. E isto não diz respeito a nenhum surto egocêntrico porque ainda não sei ser assim. No fundo acho que só deixei algumas coisas tomarem seus lugares naturais e parei de insistir no vazio.

Tratei de pregar todos os botões numa camisa porque os botões soltos já estão ausentes de significância. Deixei que aqueles que são um amontoado de detalhes não tenham mais espaço na minha vida se continuarem a ser detalhes soltos. Depois de insistir em insistir, abri mão. O superfluo permanece também na minha superfície e deixa, então, de me afetar.

Conteúdo e bem mais que inteligência. Bem mais que frases bonitas de efeito. Se duvidar, já prefiro as coisas simples, de homens com menos melindros, menos lustre, menos lantejoulas. Pode parecer mais do mesmo, mais do comum. Mas o comum, o simples é diferente para mim.

Acordei desejando o mundo real, que ainda é mais interessante que o sonho tumultuado e vago. Acordei, enfim.

sábado, 13 de dezembro de 2008

E para fechar a semana

E para fechar a semana, uma sexta-feira.

Não qualquer sexta-feira. Mas esta uma. A de hoje. O dia, a noite, tanto faz.

Não faço muito gosto das coisas pensadas e planejadas. Não gosto de criar expectativas. Mas saber que seu dia terminará de determinada forma é exageradamente delicioso!

O dia começou tão leve que quase não senti o peso do meu corpo sob meus pés quando levantei da cama. Me vi com aquele sorriso de quem acabou de acordar e o vi ao meu lado. Ele adora me ver toda descabelada com cara de boba, sorrindo por ele estar ali. É, foi com o mesmo sorriso que eu acordei só por saber que amanhã é exatamente assim que irá acontecer!

Existem pessoas na minha vida que só existem quando estão do meu lado, sob meu corpo. E existem pessoas que existem para mim independente de qualquer coisa. Que vão e voltam e tudo permanece como sempre. Com aquele frescor, provocando suspiros e uma pitada de euforia. Sempre voltam trazendo as borboletas…

Encontros pontuais seguidos. O que me importa o nome se eu consigo saber exatamente o que eu sinto. Pontuais mas que sempre se repetem. Não sei se sempre estarei aqui quando ele voltar e nem sei se a luz verde continuará acesa por muito tempo. Mas isso não me preocupa e não preocupa a ele.

“Te quero assim pra sempre”… Eu também. E nós sabemos que quando o assim não for mais como é, um dos dois deixa de querer. Mas assim acontece ainda…

Assim com tudo. Assim o jeito que ele me segura pela cintura de costas e sussurra no meu ouvido (e eu estremeço devagarinho!). Assim no beijo, que ele segura minha nuca que me faz chegar mais perto dele. Assim o sorriso meu, bobo e delicado, e o jeito que eu me encaixo no abraço dele. Assim o sorriso dele, de quem vai aprontar, de menino que fez arte (e que só vai me deixar sair dali a hora que ELE quiser…).

Assim o jeito de conversarmos. Assim a forma que a gente se entende. Assim a forma que ele me banca emocionalmente. Porque ele não olha torcendo o nariz para as minhas loucuras e para os meus excessos (ele só acha graça e coisa de menina que quer colo!). Assim as nossas crises de riso, como ele me pega pra dançar. Como a gente volta a ser adolescente bobo juntos.

É… Assim.

E hoje será assim de todas as formas. Desde a hora que acordei hoje, sozinha até quando ele me deixar assim de novo.

Queria sempre ser quem eu sou ao lado dele. Apesar que toda vez que eu começo a me esquecer, ele volta. E tudo volta a ser assim. Como nessa sexta-feira.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Pela falta de nexo

Muitas vezes sentir saudades vem da mesma forma que sentir raiva. Nenhum dos dois sentimentos são racionalmente explicáveis. Pelo menos quando não se têm argumentos que sustentam um ou outro sentimento.
E sustentar sentimento é racionalmente inaceitável.

Puf… Nem me importo com a tal racionalidade. A racionalidade só me serve como suposição de modelos econômicos, em que as preferências são transitivas e completas. Não são! Não as minhas. Eu prefiro tudo ao mesmo tempo agora! Não sei viver um dia de cada vez e não sei transitar linearmente entre as minhas preferências. Mas não é sobre minhas preferências que quero falar. É sobre sentimentos que vêm e vão.

Os meus – seja lá que tipo de sentimento – vêm rápido e com muita intensidade. E não tem o que explique.

Eu sinto saudades quando eu tenho um pouco de tudo aquilo que eu quero e gosto. Quando quero mais daquilo que não matou a minha sede e a minha fome. Quando não matei a minha vontade. Mas hoje não é a saudade que me sufoca. É a raiva que transborda.

Sinto tanta raiva que ela só chega a diminuir quando eu me imagino apertando seu pescoço até você ficar sem ar e sem movimentos. Quando quase sinto sua pele gelada e esbranquiçada. Diminui a minha raiva e quase sinto uma felicidade mórbida. E por quê de tanta raiva? Não sei explicar. Só sinto. Mas a sua distância só me faz pensar, agora sim de uma forma mais fria, que é fácil te esquecer. Afinal, da mesma forma que você não existia até bem pouco tempo atrás, você deixará de existir daqui bem pouco tempo a frente.

Talvez a raiva toda não seja pela distância e sim pelo desinteresse. Ou melhor, pelo interesse distorcido e oco. Pelo conveniente, pela falta de nexo. Tanta falta de nexo que chega a ser previsível. E tudo que é previsível demais, é chato. Até aqueles que vivem em cima do muro são previsíveis. Estão lá, no meio e em cima, na média. Surpreende pela previsibilidade.

E nesse momento minha raiva passa. Eu volto a ser quem eu era, sem rancores. Pois é. Com a mesma intensidade em que construo castelos de areia, as ondas chegam pra coloca-los abaixo. E é como se eles nunca tivessem existido.

Só permanece a sensação de que é possível sempre construir castelos de areia num dia ensolarado de praia.

As cores que eu não sei o nome

“Eu ando pelo mundo prestando atenção nas cores que eu não sei o nome”.

E tantas cores se misturam em cada forma de estar nos mesmos lugares, em diferentes ângulos. Mas é nos lugares diferentes que me encontro cada vez mais no estar de cada coisa. Eu quero chegar antes do que realmente chego…

Nos mesmos lugares acabo vestindo a minha armadura, sem conseguir proteger-me de fato. Não sei mais estar nos mesmos lugares alheia aos mesmos fatos vindos de outras pessoas.

Eu ando pelo mundo com um sorriso no rosto e choro baixinho quando deixo o mundo do lado de fora. Transito entre dois lados. Me mostro, me entrego. Me machuco. Um sorriso mesmo assim. Gosto da sensação dos opostos conflitando dentro de mim. Minha alegreia, meu cansaço. Queria o oposto.

["Meu amor, cadê você? Eu acordei e não tem ninguém ao lado".]

Sede de quê?

Obrigada pela falta de diálogo da nossa conversa de hoje. É em momentos como esse que eu entendo tudo o que não foi dito.

O superficialmente belo escondendo todas as intenções breves e ausentes de concretude. Não suporto mais a minha vida de conta-gotas. Sinto sede. Quero um copo cheio de água. Água, não leite. Quero a transparência, a ausência do gosto amargo. Quero o leve que não seja breve.

Quero o concreto mesmo com os pés longe do chão. Quero o inteiro mesmo que dure meio dia. E em dias inteiros você não preencheu 1/4 com o seu conta gotas.

Não chego a sentir pena da sua covardia. Você nunca tentou me convencer que você era melhor que qualquer pouco que eu já tive. Parecia saber ser pouco perto do pouco que teve.

Obrigada por me ajudar a não ser inteira com quem não preenche meu 1/4. Parece que enfim aprendi a não me desperdiçar com quem enxerga só meu melhor ângulo.

Você me fez lembrar o quanto as pessoas tentam se mostrar interessantes. Tentam. Mas essas pessoas, como você, não sustentam ser como se apresentam. Elas cansam e desistem. Mudam de palhaço para manter todo o sentimento de euforia e curiosidade. Manter a curiosidade alheia. Quase como uma espécie de pavão empalhado. Um bichinho deveras narciso, belo e oco, sem consciência até do óbvio.

Pessoas realmente interessantes não se mostram. São. Assim, sem querer.

Obrigada por me lembrar do que eu quase me esqueci. Que pessoas inteiras, com ou sem penas de pavão, não importa, são aquelas que quero do meu lado. Por uma noite ou por uma vida inteira. Ser breve é completamente diferente de ser superficial.

Me engano todos os dias, é verdade. E dessa vez não foi diferente. Fico feliz por pessoas como você não serem capazes e nem terem a intenção de sustentar o que me atraiu no primeiro instante. Assim continuo me lembrando todos os dias que preciso de um copo cheio para matar a minha sede.

Seja feliz [se é que você sabe o real sentido da felicidade].