sábado, 22 de maio de 2010

Chove-não-molha

Todo dia ela chegava cedo. Ele já estava lá, sentado ao lado de onde ele sabia que ela sentaria. Ela tentava ser indiferente mas acabava sempre cedendo, sorrindo. E sentando no mesmo lugar. Todos os dias ela chegava determinada a ser educada e distante. Séria. Mas ela não sabia deixar de ser ela mesma, especialmente com dele.

Ela ajeitava suas coisas devagar. Enchia a garrafa de água, pendurava o casaco, arrumava a mesa enquanto ele olhava pra ela. E ele a olhava de cima a baixo, sem dizer nada. Depois mexia nos cabelos dela, arriscava fazê-la cócegas. Não importa como, ele a tocava. Era uma forma de dizer bom dia. De dizer que sentiu saudades. Ela sorria mais, tentando deixar de sorrir. Sentia culpa mas, ainda assim, se sentia mais mulher.

Ele era casado também com uma Maria Luiza, o mesmo nome que o dela. Sabia que toda vez que ele dissesse seu nome, era da esposa que ele lembraria.

Ela não estava apaixonada, não desta vez. Ela sempre gostou de inventar paixões, grandes amores pra sua vida. Mas dessa vez era mais leve. Sem invenções, sem peso. Sem borboletas no estômago para dar nó nas emoções e confundir as vontades. Era flerte por esporte. Sem possibilidades de passar disso.

Os incentivos eram todos errados. Ele a olhava com malícia. Mexia com ela só porque ele sabia que ela se sentiria mexida. Era só prática de sedução. E ela respondia com os olhos, como quem diz que talvez sim, caso as circunstâncias fossem diferentes.

Ele se aproximava por vaidade. Ela respondia por carência. Mas, com razão, mantinham uma linha entre eles que não seria ultrapassada. Ninguém queria arriscar seja lá o que fosse passando daqui. Ele tinha um casamento a perder. Ela, o senso de realidade, que demorou pra resgatar.

De qualquer forma, ele já fazia o suficiente por ela. Ela reaprendeu a ser mulher. Recuperou sua vaidade. Lembrou de como era ser olhada por um homem que poderia levá-la no colo. Lembrou sobre a teoria que desenvolvera na adolescência de que homens deveriam carregar suas mulheres nos braços. Riu dela, anos atrás, lembrando de como era sonhar de verdade.

Ela começou a pensar na razão do "chove-não-molha" e percebeu que não fazer nada às vezes é fazer tudo. Que sair na chuva pra se molhar nem sempre te ensina alguma coisa. Já tinha cansado de viver molhada e levar a vida sempre resfriada. Percebeu que também se vive uma vida sem romances. Que às vezes basta alguém pra te colocar no lugar que você merece estar.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Durante a aula - Parte 2

Leia a primeira parte aqui!

A segunda parte da aula começou e estávamos todos agitados. Uma mistura de euforia coletiva em que todos riem e falam ao mesmo tempo. Foi quando o Bob, nosso professor, falou: "vocês podem perguntar qualquer coisa, sobre qualquer assunto, algo que vocês realmente queiram saber sobre mim. Pode ser pessoal, profissional, sexual. Qualquer coisa."

E foi quando Roy, nosso queridíssimo mexicano de quase dois metros de altura perguntou: "por que vc casou?"

Antes de falar da resposta que o Bob deu, preciso dizer duas coisas. Primeiro é que este texto não vai descambar para discutir casamento, relacionamentos amorosos de longa data e discutir porque duas pessoas dão certo juntas. Não vou falar sobre um encontro de almas e um destino porque, sinceramente, não acredito nisso. Mas vou falar do que eu sempre pensei e simplifiquei na minha forma de pensar e que vira e mexe eu pensava que eu estava enlouquecendo e que era uma coisa muito utópica, mas não é! A segunda, é que preciso falar um pouco do Bob, já que quem está lendo isso aqui não deve fazer a mínima ideia de quem ele seja e por que teria algum valor o motivo que ele casou ou deixou de casar.

O Bob é meu professor por aqui. Ele não tem o maior pudor de falar sobre a vida dele. Imagino que além da personalidade dele, isso também faz muito parte do processo de aprendizado. Acredito que uma boa parte do aprendizado vem da abertura dada pelo professor para os alunos. O que possibilita que os alunos não mantenham muros, restrições para tudo aquilo que está chegando de novo de informação e conteúdo. Canais abertos, via de mão dupla. Não acho que seja forçado em nenhum grau, mas tenho absoluta certeza de que ajuda muito. Ele já teve um ataque cardíaco com 30 e poucos anos, hoje ele é vegetariano, budista, parou de fumar e só come comidas saudáveis. Já morou em quase todo o mundo e fala mais de 8 línguas, a maioria bem estranha, dessas que você não consegue nem identificar pelo som. Ele é escritor, fotógrafo, jornalista e professor. E não se gaba de nada disso. Claro que, olhando a informação assim toda condensada, parece que o cara chegou e vomitou isso pra gente, no primeiro dia. Mas não foi o que aconteceu. Só resumi a informação para eu não ter que escrever um texto sobre ele por semana. Mas garanto que bastam 5 minutos do lado dele para você se dar conta de que não importa quem você é e o que você já fez na vida. Não importa pra onde você está indo. O que importa mesmo é quem e o que você faz as pessoas no seu caminho serem, como faz elas se sentirem.

E a resposta dele foi:

"Quando conheci a minha esposa, ela era realmente muito pobre. E, além disso, era mãe solteira. Começamos a namorar. Claro que eu gostava dela e ela gostava de mim e éramos bons juntos. Mas resolvi me casar mesmo porque percebi o quanto eu poderia fazer diferença na vida daquelas duas pessoas.

Eu nunca tinha pensado em me casar antes disso. Mas a minha forma de pensar foi mudando. Não foi porque eu acredito em almas gêmeas, que tínhamos nascido um pro outro ou que eu jamais amaria outra pessoa daquela forma que não fosse ela. Já amei muitas mulheres na minha vida e fui sincero com todas elas (com exceção dos meus 19 anos). Naquele momento, eu percebi que eu tinha muito a agregar na vida daquelas duas pessoas, que eu poderia fazer com que aquelas duas vidas fossem diferentes.

Não me casei por caridade, ou por pena. Mas percebi que me casar com ela, querer fazer diferença na minha de alguém da forma que eu poderia fazer, faria realmente diferença na minha vida! Ela faria tanto por mim quanto eu estaria fazendo por ela e pelo filho.

Claro que tem momentos que eu penso por que raios eu me casei com ela. Da mesma forma que ela também se pergunta. Mas esses momentos passam rápido. Mas tem muito mais momentos que eu tenho certeza que tomei a melhor decisão que eu poderia tomar.

Mas, no fundo, o motivo é simples. Resolvi me casar pra fazer diferença na vida de alguém. Me perguntei: por que não me casaria com ela? E fiz dar certo porque ela também queria que realmente desse certo. Não acredito em grandes sentimentos. Acho que duas pessoas podem ficar juntas se realmente quiserem que isso aconteça, quiserem fazer diferença na vida do outro!"

Eu escutava enquanto eu não conseguia conter as lágrimas que brotavam e escorriam devagar. Da mesma forma que acontece agora, lembrando da fala dele, falando com calma, olhando pro vazio, com um sorriso nos olhos. Nada mais simples do que ter a consciência de duas pessoas quererem ficar juntas. Para fazer alguém crescer na presença do outro.

E pensar que a gente espera tanto, suporta tanto e inventa tanta desculpa para permanecer junto, para permanecer separado, pra tomar decisões.

Durante a aula - Parte 1

Minha TPM sempre me deixou muito sensível. Digo, MUITO sensível. Porque muito sensível eu já sou nos dias mais comuns. Não no sentido de ser frágil, mas de não precisar de muito para me emocionar. Não precisa de muita coisa pra me fazer pensar em algo e, a partir disso, eu já expandir meus pensamentos em um milhão de outros sentimentos, costurar assuntos, enxergar novos caminhos.

Então, imaginem o que não vira esse meu traço de personalidade vivendo em outro país, experimentando outras culturas misturadas. Um milhão de estímulos novos e uma pessoa em especial canalisando e potencializando todas essas experiências, na figura de um professor. Além disso, misture TPM. É assim que eu estava hoje.

Todos os dias saio da aula um pouco transtornada. Hoje eu transbordei. O assunto da aula era: despedida. Me lembrei de como é difícil pra mim me despedir, de pessoas e de coisas. Abrir mão de algo. Penso que poderia ter poupado alguns sofrimentos - meus e, com certeza, de outras pessoas - se conseguisse continuar a minha vida deixando algumas coisas pra trás com mais facilidade.

Lembrei que 3 grandes amigos que fiz aqui já estão voltando para os seus países e senti saudades antecipada. Podemos nao perder contato, mas o que vivemos aqui, o que experimentamos juntos, não volta. Mas a vida segue. No fundo, sempre seremos sós. Lembrei daquilo tudo que já me despedi. Me despedi da casa dos meus pais, da minha posição de filha. Depois dos meus amigos de faculdade. De Porto Alegre, de um emprego e de uma vida financeira estável, de um salário bom. De um namoro falido acomodado. Me despedi do país que eu nasci e, daqui a pouco, vou ter que me despedir do lugar que mais aprendi a ficar bem comigo mesma, sem importar como e o que estava acontecendo. Eu sempre estou andando e deixando as coisas para trás. Por muitos motivos e até por motivo algum. Chega uma hora em que eu me despeço. Em silêncio, com lágrimas e soluços, sem querer me despedir, quando eu já sei que vou arrepender... milhares de formas possíveis e sentimentos misturados num mesmo gesto que significa sempre, muita coisa.

É claro que hoje eu sinto saudades dos meus pais, dos meus amigos. Sinto também muita saudades do meu apartamento e da comida. Mas é a primeira vez que experimento sentir o que estou sentindo aqui. É como se eu estivesse no meio de um furacão, sentada, parada. Como se tudo voasse, ventasse, e se tornasse uma enorme bagunça ao meu redor. Vento, chuva, pó, frio na minha pele. E, mesmo assim, estivesse tudo bem. Como se eu pudesse ficar ali sentindo tudo isso.

Depois de me emocionar e lembrar quantas vezes me despedi, percebi que, mesmo com dificuldades, eu consigo fazer. Consigo me despedir e, então, depois de feito, eu não lamento o que ficou pra trás. Sempre existe uma nova forma de viver a vida. Se adaptar com as faltas, com o vazio dos mesmos espaços que eram preenchidos. Talvez seja só uma impressão errada que eu tenho sobre eu mesma. No fundo, mesmo insegura, eu me despeço e sigo. Mesmo com dor, mesmo que algumas vezes eu pense que não possa suportar, eu ainda assim, faço.

Senti uma calma muito grande, senti paz em relação às minhas escolhas. Sorri ao perceber que nessas muitas vezes eu consegui me despedir... apesar da dor, apesar daconfusão, da solidão.

[continua...]

terça-feira, 4 de maio de 2010

Giving up

Talvez aquele tenha sido o dia mais díficil para ela no último mês. E o último mês não foi nada fácil. Muitas mudanças. Quem estava de fora provavelmente nem percebeu. Ela sempre foi boa nisso de levar até as piores coisas como se fossem leves e fáceis. Tinha essa mania de sofrer com um sorriso no rosto, de escutar os problemas alheios mesmo quando os dela gritavam e bagunçavam a sua cabeça. Sabia que poderia dar conta de tudo. Ia fazendo. Ia sentindo. E ia vivendo, como dava. Tentando não magoar os outros e, algumas vezes, magoando a si mesma.

Teve lá um tere-te-tê com um homem que conheceu por aí. Tere-te-tê que virou amizade para ele. Ela tentou acreditar que era só isso, mas não se mente pro coração. Além do mais, ela sempre ficava se perguntando como é que uma coisa que começa assim como tere-te-tê vira amizade, essa coisa com nome e forma, que é até bonita de dizer. Não enrosca e não confunde como tere-te-tê. Ela foi levando assim, como amizade, já que não poderia passar disso. O tal homem era comprometido. Vivia aos tapas e afagos com a namorada mas o compromisso sempre existiu. E ela era só a amiga, depois de já ter experimentado a cama dele.

Ela conseguiu mudar tudo. Colocou em prática todas as suas decisões. Mudou o cabelo, de amigos, de emprego. Até de país ela mudou. Mas não teve coragem de mexer no que sentia por ele, no que persistia dentro dela. E continuava repetindo para si: somos amigos. Ele me adora, mas ama a namorada dele. Esqueceu que ela era responsável também pela sua felicidade.

Mas lembrou. Não de uma hora pra outra. Depois de dias seguidos, lágrimas escondidas a milhares de quilômetros de distância ela se viu em cacos. Ajoelhada, tentando juntar o que tinha sobrado, tentando entender o que aconteceu. Como uma pintura que vai trincando, mantendo as cores vivas e que, depois de um dia seco, solta os pedaços todos de uma vez. Ela estava assim. Aos pedaços, trincada, espalhada pelo chão. E no meio daquele sofrimento todo, tentando negar para si que nada era como parecia ser, ela decidiu decidir o que procrastinou por aquele tempo.

É, ela era como todo mundo. Que posterga as dores de conta gotas para se proteger de uma dor maior, definitiva. Mas ela abriu mão. Do que sentia, da amizade, de pensar nos outros, de sorrir no meio de lágrimas. Cansou. Resolveu não fazer com a sua vida o que ele resolveu fazer com a dele. Ele escolheu continuar num relacionamento para sofrer. Não era isso que ela queria pra ela.

Ela entendia as decisões dele. Ela entendia tudo sempre. Por mais que doesse. Por menos que concordasse. Ele sumia quando ficava feliz com a namorada. Talvez as pessoas não precisem de amigos quando estão felizes, ela pensava. Passava os finais de semana triste. Mesmo aqueles que não eram seus amigos perguntavam por ela. Ele gostava de conversar com ela quando se sentia sozinho e vulnerável. Nos outros dias, pra ele, tanto fazia. Ela se contentava com os restos de quem já havia gasto todo o seu amor, com a falta que ele sentia da namorada. Vivia disponível, pronta pra recebê-lo com um sorriso no rosto, com colo e calma.

Talvez o melhor fosse se despedir em silêncio. Sumir. Talvez ele demorasse alguns dias para perceber a ausência dela. Talvez ela não conseguisse lidar com a incerteza da indiferença. Enlouqueceu de imaginar não saber. Falou, abriu, caiu em lágrimas. Resolveu contar rapidamente pra ele sobre o que seriam dos seus dias nos próximos meses. Anos? Contou que ela o tinha tirado da vida dela. Queria que ele também a tirasse da vida dele. Mas só ele poderia decidir isso. Apesar que, ela sabia, qualquer uma das duas coisas também era escolha dele!

Não conseguiu falar muito sobre o assunto. Ele também não perguntou muito. Talvez ela também não conseguisse explicar se ele perguntasse. Depois, ela mesma se perguntou: houve um motivo? Ele fez algo que me deixou triste ou irritada? Não, não tem. Não, não fez. Ele sempre foi ótimo com ela. E ela sempre gostou muito dele. Mas já pensava diferente.

Ela não mudou de ideia. Só desistiu. Não desistiu dos sentimentos que ela cultivou durante algum tempo. Desistiu dele. Ele, que nunca sequer apostou nela. Ele, que não desistiu de um amor, porque estava sofrendo. Ela desistiu.

Não foi nada do que ele disse. Não foi nada que ele fez. Talvez seja só o que ele não quis ser, não quis fazer. Mas ela não quis mais entender, dessa vez. Só desistiu. Só...

domingo, 2 de maio de 2010

Chega uma hora que eu canso

Meus textos, nesses tempos, não serão sobre estes três meses. Simplesmente porque eu continuo sendo eu mesma, onde quer que eu vá. Claro que tem muita coisa mudando, muita coisa nova. Meu olhar sobre o mundo, sobre a vida, é cada dia diferente. Mas isso ele sempre foi. Meu humor sempre mudou com a Lua e minha sensibilidade é mais ou menos intensa dependendo de milhares de fatores que, mesmo aos milhares, eu consigo entender bem. Parece tudo igual, só que tudo intenso nesses 15 dias que se passaram. Nesses dias, me sinto numa espécie de TPM contínua e boa. Como quem sabe que vai explodir em cores, em sons, em música e gargalhadas. Misturar lágrimas de transbordamento com felicidade. Inteira... Às vezes, vazia. Mas mesmo assim, inteira. E quem nunca teve que jogar o velho fora pra dar espaço pro tudo de novo que estava por vir?

...

Minha vida é recheada de coincidências, pessoas em muita sintonia comigo. Dessas que adivinham o que você está sentindo, pensando. Não sei explicar direito e não acontece com todo mundo. Mas existe meia dúzia de pessoas na minha vida que simplesmente sabem. Não importa se faz um ano ou uma hora que não conversamos, que o contato não seja diário. Tem algumas pessoas que eu nem conheço pessoalmente mas que falam exatamente o que eu preciso escutar no momento certo. E o momento certo faz toda a diferença.

E na semana que passou, no ápice de uma das minhas confusões que, enfim, começam a se resolver, um desses grandes amigos me falou: "te admiro, só apertaria uns parafusos em você". A conversa foi longa e ele me disse isso de forma carinhosa. Nos conhecemos há algum tempo atrás, fomos e somos importantes na vida um do outro mesmo que tenhamos nos encontrado pouco. Eu ri do que ele disse e, curiosa, perguntei por quê, achando que ele diria que eu sou fora da média e que eu o faço rir. Mas não. Ele disse que eu era muito melhor do que eu poderia imaginar e que ficava puto (sim, foi essa a palavra que ele usou!) quando me vê aceitando muito menos do que eu mereço.

Meus olhos encheram de lágrima quando li aquilo. Conseguia ver a expressão do rosto dele, séria, me falando aquilo. E eu, sem conseguir desviar o olhar dele. Só consegui responder um "eu sei" e ele já sabia o que estava se passando na minha cabeça. Se despediu, dizendo o que tinha que fazer e que ele já sabia que eu tinha bastante coisa pra pensar depois disso.

"Você é muito melhor do que pode imaginar". As palavras dele ficaram ecoando na minha cabeça. Porque não é o mesmo que você ler isso num livro de auto-ajuda barato, que vem junto do jornal de domingo. Nem o mesmo que uma amiga de infância te falar. Não tem o mesmo eco. Para mim, esse amigo é o exemplo de homem que eu quero do meu lado, em todos os aspectos. Cheguei a dizer isso pra ele e ele veio de novo com o chicote: isso é só uma tentativa sua de enxergar seu ideal em alguém e depositou suas fantasias em mim.

Fiquei pensando sobre o que ele falou. Sobre tudo. E claro que concordo com ele. O problema nunca foi enxergar isso. Eu enxergo. Só não consigo fazer diferente algumas vezes. Mas sabe, quando eu não consigo fazer diferente por mim, eu começo a fazer diferente pelos meus amigos. Por esses, que sentem por mim, que estão do meu lado mesmo sem conversar comigo todo santo dia. Fiquei pensando na expressão dele quando contei sobre a confusão que eu estava tentando (e falhando!) em resolver. Me senti ridícula e fiquei com vergonha. Me senti na obrigação de fazer diferente. Por mim. Por saber quantas pessoas queridas não olham para os meus atos e pensam: "ela não precisa disso".

Além da auto-estima baixa de quem se submete a coisas que até Deus duvida, eu tenho uma dificuldade enorme de abrir mão dessas coisas. Não sei abrir mão e é difícil admitir que não tenho o controle e não consigo fazer certas coisas serem diferentes. Então eu persisto tentando andar no gelo, patinando sem sair do lugar. Gastando uma energia filha da puta pra nada.

Mas chega uma hora que eu canso. Hoje em dia, demora um pouco menos, mas ainda não chega a ser rápido. E, muito menos, não deixou de acontecer, como deveria ser no melhor dos mundos. Mas essa hora chegou. Hora de abrir espaços pras coisas novas, pra pessoas que valem a pena, pra amores novos que tenha cara de amores (e não de amizades, ou seja lá o que for!). Hora de deixar a vida mais simples, mais leve. Que é como ela deve ser!

Obrigada a todos os meus amigos de alma. Que sabem o que eu sinto mesmo que não saibam exatamente o que acontece. Fatos, muitas vezes, são vazios de significado. Se eu pudesse resumir esses 15 dias por aqui, falar sobre o que eu realmente aprendi, eu diria: aprendi a reconhecer meus amigos. Os de sempre, os novos (principalmente os novos! Fiz amigos de uma vida nesses 15 dias e me aproximei de outros com milhares de quilômetros de distância). E que eu possa continuar fazendo minha vida valer a pena. Por mim e, quando não for possível, por vocês!