quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cadê você

Eu sei que você odeia receber meus emails, do mesmo jeito que você evita conversas mais sérias, mudar as coisas de lugar. Da mesma forma que você evitou ficar sozinho comigo, em pé, por cinco minutos, olhando nos meus olhos.

Naquela noite, depois de tanto alcool, quando você disse que não queria que as coisas mudassem entre nós... exatamente naquele momento, as coisas já haviam mudado. E dessa vez sem a mínima possibilidade delas voltarem a ser as mesmas. Eu entendo o seu jogo. Eu sei o quanto você gosta de ter sempre uma mulher por perto. Alguém que te trate bem, alguém pra conversar quando você está sozinho e de ressaca. Alguém que você não tenha que enfrentar depois de ter passado a noite junto. E eu sei que isso é um grande motivo para que você não quisesse que as coisas mudassem entre nós. Porque você não teria com quem conversar no day after.

Eu sei que eu sou uma companhia agradável quando eu quero. Que eu sei exatamente o que dizer quando tudo parece fora do lugar. Eu sei que você gosta do jeito que eu enxergo as coisas de um ângulo diferente. E que, longe, eu sei exatamente o meu lugar. Ou melhor, longe, é fácil você não me deixar transbordar e ir pra onde eu quero. Porque a distância deixa com que as coisas se mantenham, com que nada saia do lugar e pise na realidade. Porque não sou só eu que fantasio. Você alimenta isso como ninguém. E, sabendo que eu estaria perto em poucos dias, você resolveu se afastar.

Não foi por causa da bebedeira. Não foi porque as coisas começaram a sair do seu controle. Talvez um pouco por isso. Talvez porque nos aproximamos a ponto de nos encontrar e você ter feito questão de dizer que não era eu quem você queria. Claro que não era eu. Pelo menos não daquela forma, de carne e osso. Mas eu já tinha sido por meses seguidos, quando você tinha tudo a perder e nada pra se agarrar.

É claro que eu fantasio. E claro que, nas circunstância, eu fico parecendo a louca da história toda. Mas indivíduos reagem a incentivos, certo? Pelo menos foi assim que eu aprendi nas aulas de racionalização da vida. Sempre foi aí que eu fui parar depois de pensar e tentar explicar cada detalhe, cada merda que eu já fiz na vida. Eu reajo à incentivos. Você reage à incentivos. Todos nós. E a sentença é verdadeira para qualquer tempo e espaço. Aí você faz as coisas e a louca da história toda sou eu. Porque você foge. E eu grito pra ser ouvida.

E quando eu resolvo sair disso tudo, calar e viver a vida, esquecer você, ir pro lugar que eu acho que eu pertenço - porque você disse com todas as letras que não queria nada e, mesmo dizendo que não queria que as coisas mudassem, você mudou e se afastou! - você finge que nada está acontecendo e me pergunta "cadê você". Dessa última vez minha vontade de responder o "cadê você" foi de calar. Pra você ver como é a vida do lado de cá. Mas, mais uma vez, eu fui normal, fingi que nada tinha acontecido e respondi. Como eu sempre faço. E você calou. Mais uma vez. Aí eu me desorganizo, fico puta e você diz que eu sou louca.

Sabe, a impressão que eu tenho é que quando você percebe que eu me afasto e sigo em frente, você me puxa, me cutuca pra eu voltar pro mesmo lugar de antes. Você sente as coisas mudando e tem aversão à mudanças. Não sabe lidar e me testa, me procura, pra saber se está tudo bem ou se eu estou chateada com você. E eu estou. E quando eu reajo de acordo com isso, você não gosta e sai correndo, bravo. Eu chego a pedir desculpas, me sinto exagerada e louca. E começa tudo de novo, do jeito que as coisas sempre foram.

Mas acabou. Porque até eu canso de joguinhos seguros que não levam ninguém a lugar nenhum. Cansei de ficar metida no meio das suas confusões e do seu vazio sem propósito. Viver uma vida Californication parece legal, parece eufórico, parece coisa de macho alpha. Parece. Mas a verdade é que até você precisava fugir disso de vez em quando. Parece que você não consegue viver por muito tempo vivendo ser quem você não é, que precisa sim de um pouco mais do que superficialidade te proporciona. E eu estava sempre aqui. Eu sempre estaria se você quisesse. E não importa o que tivesse acontecido ou deixado de acontecer. Mas dessa vez não fui eu quem estragou as coisas sozinha. Às vezes eu fico pensando no que aconteceu. Eu sei que eu exagero, que eu penso muito. Mas aí eu penso e, desculpa falar isso, mas você é egoísta. Ou é assim que eu sinto as coisas de vez em quando. Você pensa em você e no seu ego grande. E não sei se você sabe que, o que eu sinto, é real. Porque na minha cabeça, se você soubesse o quanto eu te quero bem, você não faria as coisas como tem feito ultimamente. Ser sincero e dizer, assim, com todas as letras, não machuca mais do que você brincar de dar com uma mão e tirar com a outra.

Tudo bem se você perguntasse "cadê você" se você realmente significasse isso. Se você dissesse isso quando realmente quer saber onde eu estou e o que está se passando na minha vida. Quando você sente a minha ausência. Mas não acho que foi bem assim das últimas vezes que isso aconteceu. Porque depois de saber, depois de ter sua dúvida respondida, quem sumiu foi você. Como quem tem a segurança de continuar fazendo exatamente o que estava fazendo depois de saber que eu estava "segura" no mesmo papel, com as mesmas respostas. Com todo o sentimento do mundo, intacto.

Cadê você não resolve mais. Por mais que eu goste e tenha me disciplinado a responder cada uma das vezes que eu vi essa frase em um dos seus emails, no meio da tarde. Dessa vez respondo o seu cadê você com um email longo. Que nunca será lido.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dos últimos dias

Não faz nem uma semana que estou longe de casa e tanta coisa já aconteceu. Ando escrevendo muito, sem pensar tanto, no meu caderninho que carrego na bolsa. Da última quinta-feira pra cá já foram cálculos, planos esboçados, sonhos desenhados, fantasias riscadas, expectativas redimensionadas. A realidade começa a tomar conta dos dias, conforme as páginas são viradas.

Tentei começar a descrever cada um dos dias e do que tem acontecido aqui, mas cansei. Tudo já parecia velho e sem graça no momento que eu tentava pensar sobre isso. As palavras só saíram à lápis, no meio de rabiscos, durante uma pausa e outra de dias tão agitados.

Então, se você quer saber, me pergunte. Porque tenho tido uma vontade incontrolável de calar e só responder o que me perguntam. A minha análise termina onde a vida do outro começa. Eu tenho sim minhas opiniões formadas, mas aprendi que palavras só são válidas quando requeridas. Eu vou mudar de ideia muito em breve, é só cansado e preguiça, eu sei... Mas, por hoje, não quero falar do que passou, nem do que terminou, nem do que nunca existiu. Por hoje, eu só quero dormir e deixar que os sonhos venham, sem desejá-los mais.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

E no meio de tudo isso...

Eu já chorei uma meia hora depois que a gente desligou hoje. E você tem razão quando diz que o problema não é saber o que eu quero pra vida. Porque eu sei, só não tenho coragem. E também acho que você tem razão quando diz que eu preciso de um namorado, que ninguém é feliz sozinho na vida. Mas nessa parte, concordo com metade, só. Concordo mais ou menos. É óbvio que eu quero alguém na minha vida, mas não acho que é o que resolveria toda a angústia que eu ando sentindo.

Eu sei que o que me incomoda muito hoje, aqui, é o fato de eu ter me fechado e negar todas as oportunidades de interação social que me aparecem. Eu sei que a culpa é minha e sei também que não faço nenhum esforço pra mudar isso. Mas ao mesmo tempo entendo minha dinâmica de não querer criar laços e construir uma vida aqui, porque essa não é a vida que eu escolhi e não quero que nada me prenda aqui, por enquanto. Seria muito mais fácil se eu tentasse deixar as coisas mais leves e ir levando, tentando no escuro, pra ver no que vai dar. E ir lidando com as situações que aparecem pelo caminho. Porque ninguém tem certeza de nada nessa vida, né? Mas a verdade é que, além de não querer ficar, eu ainda estou machucada e sei que já machuquei algumas pessoas que senti carinho e, infelizmente, só. Eu ainda não consegui digerir coisas que já deveriam ter ficado pra trás, como a minha história com o Ryan, por exemplo. E foi isso que me deixou tão mal semana passada. Porque ele reapareceu e voltou tudo. Tudo que eu tentei esquecer e achei ter superado, chegou gritando no meu ouvido de novo. Não é por ele e o sentimento que eu tive, nem nada disso. Mas o que eu vivi com ele, é saudade de viver isso de novo e não conseguir visualizar acontecendo, com outra pessoa. É a sensação que eu tinha com ele de que nada ia me acontecer, porque ele estava do meu lado, é a paz que eu tinha quando a gente ficava deitado no sofá, assistindo algum filme antigo e eu quase dormindo. E cada vez que eu lembro de tudo isso, tenho a sensação que a vida me ofereceu a minha única chance e eu fiz alguma coisa de muito errada e acabou. Agora, já era, minha vez já passou e não vai voltar mais. Porque depois dele apareceram sim pessoas legais, mas com alguma coisa de muito errada - comigo e com a situação - que não deixou dar certo. Além do que eu não sentia o suficiente nem pra querer tentar. E eu magoei quem apareceu, saí fora, porque achei que não valia a pena sentir tão pouco por alguém que sentia muito.

Tenho uma sensação muito forte que nada vai mudar, e tanto medo de ter que me despedir de novo, que ando criando barreiras. E isso é horrível! Não tenho deixado ninguém se aproximar direito e, se tentam, eu recuo. E não estou falando só de relacionamentos amorosos nem nada disso. De amizade mesmo. E acho que foi isso que eu fiz com você, inventei motivos pra me afastar de você, cacei argumentos onde não existiam. Porque é mais fácil se afastar com uma briga e falando um monte de coisa que machuca os outros. Dá a sensação de que foi construído um muro, daqueles bem altos e intransponíveis. Mais ou menos o que a minha mãe faz comigo, toda vez que eu saio da casa dela e volto pra minha, seja lá onde minha casa for. Ela briga comigo e fala um monte de coisa que ela sabe que me cutucam, bem no fundo, pra eu sentir bastante dor. Porque é mais fácil cortar os laços dessa forma. E foi isso que parece que eu fiz com você. E parece que é isso que eu tenho feito com todo mundo novo que aparece na minha vida. E arrumo desculpas pra isso. E não é porque elas não são suficientemente boas. É porque eu tenho me isolado e desconfiado - por medo - até da sombra. E quando tem alguém que eu fui deixando entrar despercebido e furando os meus limites, eu faço o que eu fiz com você. E me envergonho disso.

Não estou tentando explicar nem justificar, sabe? Estou escrevendo pra tentar entender tudo isso, de onde vem. Também acho que essa coisa de querer sair correndo daqui - porque é essa a coisa que tem gritado do fundo do meu estômago - é fuga. E eu tenho fugido demais da minha vida. Foi isso que eu quis dizer pra você ontem, quando eu falei que eu achava que a gente deveria ser feliz wherever we are, whatever we do. Porque mudar - de emprego, de cidade, de país - traz a sensação que a gente pode começar tudo de novo, escrever do começo. E a gente pode mesmo. Mas, no fundo, a minha angústia, meu medo, é escrever tudo igual, como eu fiz aqui. Talvez quando eu mudei pra Toronto, eu tenha escrito tudo de novo, mas de um jeito diferente, completamente novo. E eu estava bem satisfeita com isso. Aqui, eu não consegui fazer isso. E não sei se eu vou conseguir de novo. Tá, eu sei que eu posso, mas ainda assim tenho medo. E é difícil mudar o curso do bonde no meio. Tudo bem, pode não ser difícil pra maioria das pessoas, mas pra mim, é. Ter consciência ajuda muito, mas o fato de eu não ter medo de mudar sempre, acaba fazendo com que virar a página e começar de novo seja mais fácil do que reescrever uma história a partir da metade. É por isso minha aflição quando eu digo que "não posso deixar tudo aqui".

Eu sei, é superficial pra caralho ser assim, né? E eu tenho deixado tudo no raso mesmo, que eu ando com medo de morrer afogada. Porque é fácil pra mim estar do lado das pessoas quando elas querem conversar, quando o problema está nelas... É fácil falar do que não me afeta diretamente... com certo distanciamento. Mas também acho que vem daí a minha melancolia... Da minha mentalidade. Eu não me aproximo das pessoas, não me envolvo, não tenho que lidar com isso, logo não sofro. Mas também não vivo. Mas isso tem me feito muita falta. Eu sinto um vazio tão grande no peito que chega, às vezes, a sufocar. E esqueço que, se alguém me perguntasse se hoje, se eu voltasse no tempo, eu iria do mesmo jeito jantar com o Ryan depois de ter encontrado com ele no meio da rua e vivido tudo o que eu vivi, eu iria. Mesmo sabendo que eu choraria 1 mês de saudade depois.

Não estou me fechando a ponto de não conhecer gente nova. Porque eu conheço pessoas no meio da rua, já te contei, né? Mas eu não tenho feito nada pra deixar que elas fiquem, que continuem. E acho que foi isso que eu tentei fazer com você, tentei me afastar, à força. Quando, no fundo, eu não queria. Tem também uma parte de auto-punição da minha parte, em fazer isso, mas nem vou entrar nesse ponto.

Ao mesmo tempo que eu tenho consciência de que existe uma parte em fugir, em querer sair daqui, por causa da história da página em branco, isso não invalida o fato de eu não gostar do que eu faço e saber que não é isso que eu quero. Da mesma forma que não gostar do que eu faço não invalida eu fazer bem o que eu faço. Porque pelo menos no profissional, eu tenho as coisas um pouco mais claras. E sim, você tá certo (você tá sempre certo, né? :P). A gente precisa fazer o que gosta e precisa ter coragem pra ir atrás disso. Acho que tinha uma parte de mim esperando eu ficar bem pra tomar rumo na vida. Mas quer saber? Não vou esperar coisa nenhuma mais. Vou fazer o que eu tenho que fazer pra chegar onde eu quero e ir colocando as coisas no lugar pelo caminho. Na real, a melhor forma ainda de não pensar na vida, é sair e viver. E concordo com você que essa é a parte mais simples. O buraco era bem mais embaixo (ui!).

Vc falou que eu precisava de um namorado e olha o que aconteceu! Ele vai aparecer e as coisas vão acontecer quando eu tiver em paz e menos arisca, mais aberta. Vou conseguir criar laços de novo quando eu não tiver mais medo de cortá-los no tempo certo.

Sobre meu surto, quero pedir desculpas mais uma vez. Vc não fez nada, eu inventei tudo. Achava que eu estava segura a uma distância de milhares de km, atrás de uma tela de computador, com alguém machucado... que não existia a menor possibilidade de qualquer coisa, que não tinha espaço pra nada. E foi eu te sentir um pouquinho mais próximo, que eu não soube lidar. Você não se distanciou em nenhum minuto, fui eu que tentei a todo custo, sair correndo. E quando eu falo que "é feio" quando você diz alguma coisa, quando conta das suas peripécias, eu não acho que é assim tão feio. Eu só estou tentando arrumar desculpa pra não te achar tão bom assim! :p Tipo uma criança de 8 anos. ;)

Vc pode ser o primeiro a eu deixar que chegue perto? Prometo que não rosno - nem surto - mais. Além de desculpas, eu também queria dizer obrigada. Porque não sei se você sabe o quanto é importante pra mim ter consciência de tudo que eu escrevi aqui, e separar as coisas de dentro das coisas de fora. Conseguir colocar cada coisa no lugar. O que é do trabalho, o que são as minhas questões e onde meus sonhos ficaram pelo caminho. Porque agora, como você disse, olhando de fora, não parece tão grande assim. Eu continuo me sentindo sozinha, não gostando do meu trabalho, morando num país que eu não gosto e não comecei a ir atrás do meu sonho. Mas pelo menos não me sinto mais num labirinto sem saída.