terça-feira, 18 de outubro de 2011

E aqui estou eu

E aqui estou eu. Com insônia, assistindo Being Erica. Ok, já parei, continuo com insônia e com uma vontade absurda de escrever. Sinto como se minha vida estivesse um caos, nem no trabalho eu consigo me concentrar sem me sentir irritada por isso. Eu sei que o fato de estar gostando de alguém não é motivo. E muito menos de que esse sentimento não vai me levar a lugar nenhum por enquanto. Nem em um mês, quem eu quero enganar dizendo "por enquanto"?

A falta de perspectiva me traz um pouco de aflição e eu sinto vontade de fazer minhares de coisas ao mesmo tempo. Então vou tentar respirar fundo e fazer só uma de cada vez. Saber que eu deveria estar dormindo neste momento não ajuda. Saber que eu não deveria pensar nele e ter uma vida mais organizada - ou pelo menos começar a tentar organizá-la - não me faz fazer isso de fato.

Saber que eu cresci me assusta um pouco. E que eu sou adulta e não admito mais ajuda dos meus pais. Dessa vez não é ser orgulhosa. É só uma tentativa de ser madura. Mas quem eu quero enganar com isso também, não é? Cheguei em casa às oito e meia da noite e não fiz nada produtivo. Eu poderia ter lido um livro, poderia ter lavado a louça, poderia ter estudado e pesquisado escolas de psicologia ou tentado encontrar algo que eu realmente ame. Mas eu posterguei, mais uma vez. Como se algo de bom fosse acontecer. Como se eu esperasse só o dia de amanhã para as coisas serem diferentes. Mas, como eu ando fazendo, com o que eu ando fazendo - muito pouco! - amanhã sempre vai ser igual.

Eu finjo que esperar é só ter paciência. Mas paciência é algo que, no contexto que eu tenho usado como aplicação, é só ser alheia. Estou alheia à minha vida, alheia às minhas vontades. Ando me cuidando demais, nas coisas erradas. Ando me sufocando pra não ter que escutar o que está gritando dentro de mim. Tenho a sensação de que eu tenho tentado apagar quem eu sou, só pra não ter que enfrentar a minha vida. Pra não ter que me encarar de peito aberto e queixo erguido. E logo eu, que sempre falei e defendi a ideia de aceitar ser quem se é e trabalhei - com anos de terapia - nisso. Não, não tenho aceitado ser quem eu sou. Tenho fugido. E ficado alheia à mim mesma e às minhas vontades. E logo eu que sempre falei sobre capacidade de enfrentamento, tenho me esquivado de enfrentar até coisas banais, coisas que sempre me aconteceram vida afora.

Nunca tive medo de enfrentar um não como resposta. De tomar uma decisão difícil porque as consequências eram mais do que eu poderia suportar. Nunca tive medo de levar um fora de quem sequer tinha me dito um sim até então. Nunca tive medo de quebrar a cara, arrumar as malas e começar tudo de novo. E aqui estou, com medo, inerte, esperando o amanhã chegar e ser tudo igual.

Parece que eu esqueci de que tomar decisões é tomar riscos. E não há garantias na vida. Esqueci todas as aulas de economia, de repente. Deixei minha leveza de lado pra sentir um peso nos ombros de medos que nunca fizeram parte de mim. Não importa de onde eles vieram, desde que eles vão embora. Mas eu sei - bem lá no fundo, eu sei - que vou ter que entender cada grama do que eu estou sentindo pra me livrar tudo isso de novo.

Eu me calei. Parei de escrever por um tempo. Escrevi só para as pessoas com quem eu parecia tanto me importar. Vivi vidas alheias para esquecer da minha. E quando os problemas dos outros parecem estar relativamente organizados, começo a olhar pra minha vida que deixei pra trás. Não me arrependo de ter feito isso. De ter ajudado como eu pude outras pessoas a seguir em frente, ou virar à direita ou à esquerda. Porque mudar de direção também é caminho. Mas fiz isso - em partes - pra esquecer de mim mesma. Não foi tempo perdido porque se aprende muito também vivendo vidas alheias. Mas não é a minha, entende? As pessoas seguem, vidas mudam, e no fim, sou só eu comigo mesma. Tenho vontade de falar tanta coisa pra algumas pessoas mas tenho deixado pra lá. Tenho sofrido espasmos de vontade em relação à mim mesma, e também deixado pra lá. Tenho tido vontade de conversar. Não pra dizer algo sobre mim, ou dividir algo da vida. Mas só como um processo de alienação. Tenho falado tanto, conversado tanto, mas tenho me escondido atrás de ideias superficiais e frases feitas.

Eu poderia dizer que estou apaixonada e que isso tem me feito bem. Mas esse sentimento todo só me mantém em pé. E fujo disso pra não ter que enfrentar o que minha vida seria com o pouco que eu tenho. Com um sentimento que é só meu. Ando me escorando em paredes de papelão que, no fundo, só me deixam com a sensação de que está tudo organizado e sob controle. E dou passos falsos e delicados, sem me apoiar, porque elas vão desabar. E aqui estou eu. No fim de um texto confuso, no meio de uma noite linda, dentro de casa, sentada no sofá, de frente pra porta. Sabendo que ninguém vai chegar pra me tirar daqui.