sábado, 2 de agosto de 2008

Insisti em insistir...

… mas sempre dá pra mudar de idéia e desistir!

Eu sou daquelas pessoas que demora muito pra abrir mão seja lá do que for. Nem sei se você sabe disso. Perceber, é fato, você nunca percebeu. Talvez você nem se lembre do meu rosto se cruzar comigo na rua. Afinal, você sempre me viu em casa e, como eu moro sozinha, impossível me confundir com alguém. Talvez se eu tivesse uma samambaia existiria probabilidade disso acontecer. Mas não tenho. Aliás, isso de você sempre me ver em casa, de vir aqui, me incomodava muito. Bem cômodo a parte delivery da história toda, é verdade. Mas chato, previsível e, aceitação pública é, minimamente, considerável. Agora já não importa mais. Não vai mais acontecer.

Hoje, quando eu disse que você me tratava mal, pisava nos meus sentimentos, eu não me referi ao fato de você ser seco e sucinto nas palavras. Me referi ao fato de você nunca dizer com todas as letras que queria ou não, seja lá o que fosse. Estava falando sobre essa história ridícula que eu mantive por todo esse tempo. Por tudo que eu aceitei. Estava me referindo às suas gracinhas e meiguices que eu adorei num dia e que, no dia seguinte, se transformavam em desdém. E que você fazia eu me sentir culpada e aceitar calada tudo aquilo. Foi só uma das muitas situações que você se fez desprezível e que, se não fosse por um surto de sanidade meu, eu relevaria mais uma vez.

E não venha me dizer que você é assim com todo mundo. Eu não acredito. Não acredito que muitas pessoas continuariam sequer a conversar com você se você agisse sempre com elas da forma que você age comigo. E claro que eu também sou responsável por isso. Eu sempre aceitei que você agisse assim. Sempre entreguei o recibo que “tudo bem, não faz mal, eu te entendo e parece exagero da minha parte”. Acreditava mesmo que era exagero meu. Insisti em insistir. Não porque imaginei que você iria mudar “quando”, “desde que”, “logo depois de”. Insisti em aceitar todo o pouco que você sempre me deu só porque acreditava não precisar – e não merecer – mais do que aquilo. Você sempre me passou o recibo que eu merecia muito pouco. E toda vez que eu ameaçava esbravejar e pedir um pouco mais, você me colocava direitinho no meu lugar: lá embaixo, lá no fundo. Prato cheio pra uma pessoa com a auto-estima comprometida como eu.

Apesar que eu também acredito que você sempre fez isso pra manter a sua dinâmica. E dinamicamente coerente, você se escondia na desculpa que estava confuso ou que precisava resolver “umas coisas”, que estava fechado para balanço na questão relacionamentos amorosos. Uma forma de pedir permissão para transferir sua falta de perdão consigo mesmo. Descontar suas angústias e vontades reprimidas em alguém que sempre estava disposta a te ver, disponível para te escutar e te ter nos braços. Você não se perdoava por querer continuar com alguém que te trouxe sofrimento e massacrou a sua auto-estima e, ao invés de se permitir ficar com alguém que não te faria passar por metade do que você passou em outros carnavais, você fazia exatamente igual. Muito ego fora do lugar: você não queria que fizessem com você, nunca quis abrir mão do que te fez mal (e pior, nunca assumiu o fato de te fazer mal, afinal, traição é coisa que acontece!) mas fazia igualzinho comigo. Não através de traição. Mas de todas as outras formas mais sutis e igualmente baixas.

Não venha me dizer que eu deixei isso acontecer sozinha. Você mesmo, esses dias, falou com todas as letras: só vai acabar quando eu quiser. Você sempre soube o quanto eu estaria disposta a suportar. Sempre soube que meu limite era bastante alto. Sempre abri as cartas e mostrei que insistiria em insistir. Sempre te passei toda a segurança do mundo para você ser inseguro e indeciso com as suas outras questões. Sempre foi “hoje, não”. Como se fosse sim em algum outro dia. No fundo, eu era sua segurança, seu suporte, para você criar coragem e seguir insistindo nos seus outros erros.

De certa forma, eu entendo o que você faz. Talvez seja porque você me vê fazendo exatamente o que você faz por outra pessoa: praticar o ato de rastejar e engolir o que o estômago não consegue digerir. E isso, no fundo te incomoda. Porque, vamos ser sinceros, é realmente triste. Eu, finalmente, desisti.

Desejo a você um caminho lindo (e bem mais curto que o meu). Seja feliz.