domingo, 22 de março de 2009

Em dias como hoje

Depois de fazer com que essa semana terminasse, o dia se arrastou. Um domingo eterno chuvoso ainda me parece um consolo ou uma desculpa boa até para a crise de choro que tive no meio do supermercado, em plena dez da manhã, olhando para a prateleira de shampoos e tentando explicar a bagunça da minha vida.

Já saber o que eu não quero não faz tanta diferença. Talvez porque eu já soubesse. Mas acho que a partir daí surge meu desassossego. A partir do momento em que eu reconheço e assumo o que eu não quero, o próximo passo é ir atrás do que eu quero. E isso eu ainda não sei.

Ainda não descobri se esta é a melhor ou a pior parte: saber de onde não vem tudo isso. Certas mudanças são necessárias na vida. Mudar a cor do cabelo, trocar de emprego, casar, descasar, parar de beber ou de fumar. Geralmente sabemos porque estamos mudando. Ou, pelo menos, o que deixamos de suportar. Eu assinalo quase sempre a segunda opção, infelizmente.

Sempre tentei tanto deixar cada coisa no seu devido lugar, que era pra eu não sofrer demais. E fazia as mudanças sempre uma de cada vez. Até que perdi a noção de como, talvez, eu seja realmente perigosa a mim mesma e resolvi fazer tudo ao mesmo tempo: parei de fumar, comecei a fazer dieta com direito a exercícios físicos no mínimo três vezes por semana, procurei um clínico geral que me passou sete fichas frente e verso de exames, fiz um quase-pedido de demissão, abri meu coração para que certas pessoas se aproximassem devagar sem eu assustá-las e sem criar expectativas, voltei a frequentar aulas de inglês.

Voltei a acreditar que eu era dona do meu nariz e que "a dor é necessária, o sofrimento opcional". Mas tem doído muito. Não consigo assumir a mim mesma que não sei o que eu espero de mim vivendo a minha vida. Me dói assumir que eu tenho todo o tempo do mundo pra saber o que eu quero fazer nos meus dias. Me dói toda a minha fraqueza, minha vontade de acender um cigarro no primeiro copo de cerveja. Cheguei ao ponto de me culpar pelo chocolate do meio da tarde, pelas horas dormidas a mais em troca dos seis km não corridos pela manhã.

Já não sinto mais vontade de ter dias mais assim ou assado. Em certas épocas a lei da compensação da vida não funciona. Até o pouco se esvai e eu não sei mais por onde começar. Sofrimento e dor, tudo junto. Não me importo. Sei que eles vão se separar. Tudo no meu tempo.

Aos poucos fui me afastando das pessoas que, tenho certeza, não me deixariam despencar desse jeito ou que eram fortes o suficiente pra me dar um tapa na cara e me fazer acordar pra vida ou pelo menos me convencer a fazer u-m-a-co-i-s-a-d-e-c-a-d-a-v-e-z. Me mantive próxima das que não me conhecem tanto nem muito. E me decepcionei.

Não acho ruim não. Acho, no fundo, que é um espasmo de realidade vindo a tona, um suspiro antes de abrir os olhos e acordar. Perceber que meus critérios para abrir a porta ainda são fracos. E eu sou muito mais carente e sonhadora quando estou passando por mudanças fortes na vida. Talvez isso alimente essa espécie de raiva que eu sinto de mim mesma. Mesmo no meio do meu caos eu ainda encontro espaço para deixar certas pessoas entrarem na minha vida e arrumo um canto todo arrumadinho pra elas. Fora do caos, das dúvidas, da correria do dia a dia. E quando isso acontece, essas pessoas destroem o único lugar que havia me restado sadio. Não se importam. Tudo bem, não era pra ser. De novo.

Em dias como hoje, ainda vou aprender que devo deixar certas pessoas tocar a campanhia sem resposta, que o sofrimento é realmente opcional. Que é fácil perder alguns muitos quilos em poucos dias e eu farei isso por mim, sem provação e sem sacrifício. Que não importa não saber o que se espera da vida hoje se você conseguir olhá-la daqui alguns anos e saber que tudo valeu a pena e que você foi verdadeira consigo mesma. Que você pode - e deve - se despedir de certas pessoas da sua vida antes que elas destruam o que te resta de sadio, de mais valioso em você. Que o que importa são as pessoas que te enxergam e não as que nem te vêem.

Em outros dias como hoje, em que o melhor que se tem a fazer é fechar a janela, eu ainda vou desenhar o sol na parede para secar as lágrimas que transbordam toda a minha dor. Nesses outros dias, serão só dores. O sofrimento não será mais opção.