domingo, 8 de maio de 2011

Das coisas novas e das frustrações

ou O dia que eu me esborrachei no chão tentando andar de patins

Eu ainda não descobri onde eu estava com a cabeça quando comprei um patins. Poderia ter sido uma decisão impulsiva, dessas que a gente toma quando está de TPM e quer mudar a vida radicalmente. Mas não foi. Eu namorei o patins por alguns meses, me imaginava andando, olhava preço em diferentes sites, via o povo andando na rua e minha vontade só aumentava. E eis que comprei um, do jeitinho que eu queria. Até breque ele tem, como se isso ajudasse em algo no meu caso.

Coloquei o trambolho em casa, pra saber se eu conseguiria ficar em pé em cima daquelas quatro rodinhas alinhadas e achei que estava tudo bem. Andei de um lado pro outro dois dias seguidos, dentro do meu apartamento minúsculo pra tomar coragem e lá fui eu pro parque, pra mais uma situação nova na minha vida. Mas a verdade é que eu não sou uma pessoa assim tão aberta pro novo, ainda mais em sã consciência. Já fiz loucuras relativamente saudáveis quando estava levemente alcoolizada. Já fiz outras no embalo da loucura dos outros. Já me arrependi, já senti medo. Mas nunca dei de bunda no chão como hoje!

Depois de dois tombos consecutivos e três pedaços da minha mão com sangue pisado em menos de cinco minutos, desisti. Não só pela frustração, mas pela dor. Fiquei uns 10 minutos sentada no chão do parque, com aquele troço enorme nos pés, pensando na vida e sentindo dor, vergonha, tudo junto. A vergonha passou rápido. Eu não estava nem aí com o que as pessoas em volta poderiam pensar de mim. Aposto um dedo da mão (roxo, é verdade!) se alguém não deu de bunda no chão quando colocou um patins pela primeira vez. Saí do meio da rua, já com os pés bem firmes pro chão, e fui pra grama, aproveitar o dia maravilhoso de sol e frio que fazia. Tentei levar pra vida o que tinha acontecido ali e sorri quando percebi que nem sempre quando tentamos algo de novo é possível evitarmos a frustração e a dor. Lembrei de quando usava sapatilhas de ponta e de como algumas vezes eu chorava de dor e de tristeza em me ver tentando vezes seguidas sem conseguir fazer o que eu realmente queria, com a perfeição que eu imaginava. Lembrei quantas vezes fui parar no chão, nas torções da coluna, do tornozelo, das unhas roxas. Olhei pra minha mão roxa e ralada e sorri. Poderia doer menos, poderia não ser frustrante. Mas quase nunca temos tudo o que queremos, da forma que imaginamos.

Minha bunda vai doer a semana inteira, é verdade. E eu vou cair mais um punhado de vezes até que eu sinta a liberdade de patinar de um lado pro outro, sem medo. É difícil sair da zona de conforto, enfrentar olhares alheios, pagar o preço pra se tentar ser e fazer o que se quer. E nem sempre vale a pena. Hoje não valeu. Mas outras tantas vezes vão valer, já valeram. Eu ando numa época de auto-proteção, em que eu deixo de viver pra não sofrer. Deixo de tentar pra não doer. E nem sei como hoje eu tomei coragem pra fazer diferente. E sei menos ainda como isso não me afetou tanto como eu imaginaria que me afetaria. A bunda dói, minha mão e meu pulso também. Mas minha cabeça continua com a vontade de voltar pra lá e fazer tudo igual, de tentar novamente.

Vivi tanto tempo me escondendo de perigos inventados que não imaginei que pudesse doer tanto e ainda assim conseguir me levantar tão rápido. E me surpreender comigo mesma traz uma sensação maravilhosa. Ainda mais quando eu estava vivendo pintando meus dias de preto e branco. Clássico, sério. Limitados.

Espero me espatifar muito ainda no chão, tentando fazer coisas que nunca imaginei ter coragem. Mesmo que eu saiba que algumas pessoas não nasceram pra fazer certas coisas. Como eu pra andar de patins! Mas tentar mudar é parte do processo e eu ainda acredito poder me tornar uma pessoa equilibrada. Em todos os sentidos!