sexta-feira, 28 de novembro de 2008

E lá estaremos nós...

“E lá estaremos nós com pés no chão mas encontrando o céu com a palma das mãos”…

Talvez só ele entenda esta frase. Talvez nem ele… Mas não me importa se alguém entende ou não o que eu digo. Isso não muda em nada o que eu sinto. Ainda sou daquelas que acredita que um olhar vale mais que palavras…

Admiro muito todos aqueles que conseguem ser claros e objetivos. Muitas vezes acredito que sou bastante clara. Mas objetividade… puf… passo longe! Em todas as outras vezes, aquelas em que meu objetivo foi a clareza, me perco nos meus sentimentos e todas as palavras não dizem quase nada de tudo que eu queria.

Mas acredito que muitas vezes palavras são ditas para serem ignoradas. Uma forma nada sutil de auto-engano. Tentamos dizer com convicção aquilo que nós mesmos achamos dever acreditar. E, no fundo, não acreditamos.

Eu sou exemplo disso. A Sra. Racional, muito prazer. Mas só aos olhos dos outros. Só o que eu tento acreditar. Mas no fundo eu sei bem que sou pura alma, movida a paixão. No fundo, e nem tão no fundo assim, eu não vivo sem as borboletas…

Preciso me apaixonar todos os dias. Por alguém, por alguma coisa e, algumas vezes por mim. Não necessariamente nesta ordem e nunca uma coisa de cada vez!

Mas nos meus poucos momentos de lucidez em que a clareza alheia tenta se impor através das palavras, percebo que não sou a única que tenta acreditar naquilo que sai da própria boca. No momento em que ele diz que depois de hoje demoramos a nos ver, eu não acredito. Pelo simples fato que ele também não acredita.

Acredito na lucidez dele. No bom senso, nas idéias claras bem argumentadas. Mas não consigo acreditar que hoje ele só me olha da forma que me olhou a primeira vez. A forma dele dizer que nos veremos daqui um bom tempo não parece refletir o que ele parece só tentar dizer. Desta mesma forma, concordo e finjo aceitar. Só finjo. E ele sabe.

Tentei dizer o que eu realmente queria e acreditava. Mas as palavras ficam meio tortas quando tento querer acreditar no que ele acredita tentar dizer. E no meio de tantas tentativas frustradas não foi dito nem falado o que eu sinto. Que momentos de vida e prioridades podem ser distintos quando o momento de cada um se torna o momento dos dois por algumas horas. Quando ninguém tenta dizer o que não se acredita. Apenas sente. E o que não foi dito, foi falado de outra forma.

Nessa hora, as palavras se tornam insignificantes e as palavras não têm significado perto de tudo o que não se falou. Ele nega, mas ele sabe.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Em resumo

Tem dias que dá vontade de jogar tudo pro alto e tentar ser quem você era quando tinha 17 anos. Mas quando você pensa duas vezes e olha pra trás, percebe que mesmo aos trancos e barrancos, você fez muita coisa da qual se orgulha. Aos 17 eu pensava saber exatamente o que eu queria. Aos 27, percebi que só faço idéia de poucas coisas que eu quero. Todas elas, no entanto, são vontades e desejos das quais duvido abrir mão, caso eu não os alcance com 37.
Não sei se posso dizer que meus valores são outros. Penso que meus valores são tão concretos que não imagino tê-los construído. Quase que herdados de vidas passadas. Hoje só tenho um pouco mais consciência deles. De tudo aquilo que me move e me paralisa. Do que me causa enjôo, desânimo e do que vale a pena ser vivido. Dos tipos de pessoas que causam frustração, das que merecem meu perdão, daquelas que ficaram para trás e das que ainda cruzarão a minha vida e só cruzarão. E até mesmo daquelas que ficarão pra sempre, mesmo a quilômetros de distância ou com escolhas diferentes das minhas.

Dos meus 17 anos pra cá, acumulei mais erros do que eu gostaria mas, aos 27, aceito que foram muitos desses erros que me fizeram ser quem eu sou hoje. Fiz milhares de escolhas erradas que foram as mais sensatas no momento em que eu as fiz. Revisar a própria vida por vezes e vezes seguidas também ajuda a crescer. E talvez seja por isso que não canso de me revisitar tanto e tanto. E hoje, se pudesse, mudaria quase tudo em quase todos os meus momentos passados. Não lamento o que já foi. Passar o tempo lamentando é se auto-apunhalar pelas costas e isto requer um senhor contorcionismo.

E nessas curvas seguimos, acumulamos histórias, multiplicamos amizades, colecionamos amores. Quebramos a cara e o coração milhares de vezes. Desejamos morrer muitas vezes e matar outras tantas. Mas não fazemos nem uma coisa nem outra. Eu sou uma eterna exagerada. Já perdi a conta de quantas vezes morri de amores pra me apaixonar de novo. Mas nenhum deles foi vivido pela metade. Nenhuma das minhas cartas não enviadas foram escritas em momentos de delírio e alucinação. Mas até certos amores vêm com o prazo de validade vencido e, mesmo assim, eu os experimentei. Toda a frustração verdadeira, toda a lágrima fundamentada. Claro que nem tudo é sofrimento e minha vida, apesar de bem parecida, está longe de uma novela mexicana. Já vivi momentos perfeitos ao lado de pessoas tão imperfeitas quanto eu. Já enrosquei minhas pernas em outras pernas, já passei noites em claro sem dizer uma só palavra experimentando outros corpos, já tive orgasmos múltiplos verdadeiros e já fingi ter um ou outro.

Eu também já fui muito filha da puta, com quem mereceu ou não. Com amigos e com amores. Já deixei de atender o telefone e já passei trote também. Dos 17 aos 27 anos. Já traí e me arrependi. Já traí e gostei, pra poder mudar de idéia depois e nunca mais fazer. Já fui traída e perdoei e deixei pra lá e também já perdoei sem ter me perdoado por isso. A traição é a forma mais fria da covardia e eu aprendi a não ter medo de sentir medo.

Já decepcionei as pessoas e já fui decepcionada por elas. Já senti tesão por admiração e já perdi o tesão por decepção. E se decepcionar com alguém muitas vezes é pior do que se decepcionar consigo mesma. Mas mesmo assim é possível perdoar. Porque cada um sabe a escolha e a decisão que pode suportar.

Aprendi a não desistir de certas coisas. Mas, pra mim, ainda tem mais valor aprender a desistir de outras. Aos 27, aceito a realidade que quase sempre certas coisas não dependem só de mim. Que tudo tem seu tempo certo e que só eu passei por determinadas situações. Aprendi que na maioria das vezes um conselho é só um conselho e que conselhos não têm ecos quando não se têm ouvidos.

Hoje, muito mais que aos 17, deixo pra lá o que não vale a pena e carrego comigo tudo aquilo que eu acredito. Continuo sem escutar a maioria dos conselhos e continuo escutando meu coração. E penso menos em jogar tudo pro alto pra continuar vivendo um dia de cada vez.