terça-feira, 29 de julho de 2008

Passando? Passou...

E quando a gente menos espera, a vida já passou. E tudo continua sendo como antes.

Aquele menino de olhos escuros e cílios compridos, que gosta de cartas, fala pouco sobre si e ainda assim consegue ser sincero, quase já voltou com a namorada. E mesmo sem escutar sua voz, sinto um nó de arrependimento em sua garganta. Mas não posso dizer nada. Não dessa vez. Quero que ele seja muito feliz. Isso me basta. E tudo o que eu sinto? Vai continuar por um tempo. Até se transformar tudo em saudade.

Comecei a pensar no que poderia ter feito diferente para ser diferente. Desviei com cuidado e, mesmo sem vontade, deixei pra lá. Existem coisas que só devem ser sonhadas, não vividas. Sorri, lembrei do que não foi. Muita coisa já ficou pra trás sem mesmo ter ameaçado acontecer. Nada demais. Só pequenos momentos feitos das pequenas coisas consideráveis.

Ele quase já voltou com ela. Eu estou me despedindo. A contragosto, é verdade. Está passando. E amanhã? Amanhã vou ter que voltar a viver a minha mesma vida antes de conhecê-lo. Pouca coisa mudou. Só que agora tem a saudade, com cor de nostalgia e gosto desconhecido.

domingo, 20 de julho de 2008

Final de semana e começo de...

O sábado passou mais rápido do que eu imaginava e mais lento do que eu gostaria. Sinto uma ansiedade latente por esses dias, como quem espera por grandes mudanças anunciadas mas não faz a mínima idéia do que está por vir. Dormi a tarde um sono pesado e gostoso. Acordei com a certeza de ter de novo meus 15 anos. Talvez por reviver o que era costume naquela idade. Acordei quase noite com a estranha falta de sentir falta de alguém do meu lado. Não queria conversar com qualquer pessoa naquele momento. Andei pela casa, lembrei que não havia almoçado, descongelei um dos pratos feitos pela minha mãe e matei um pouco a saudade de casa. Li muitas páginas de um livro jogada no sofá, debaixo de uma manta. Eu já estava de pijama desde às quatro da tarde e isso não me trouxe qualquer incômodo ou estranhamento. Muitas páginas depois, voltei a dormir para só acordar no domingo.
Acordei nem muito tarde nem muito cedo. Separei a roupa sem muita atenção. Já tinha passado da hora de tirar os pijamas. Caminhei até a padaria da esquina para tomar café. Isso faz parte de uma das minhas regras criadas a pouco tempo: sair de casa pelo menos uma vez ao dia. Para me livrar logo da obrigação – e como forma de cumprir a regra com certa picaretagem – encontrei o lugar mais próximo e mais rápido. Senti uma certa raiva a alguns passos de chegar ao meu destino. Um homem sentado na mureta de um dos prédios logo antes da padaria virou pra mim e disse: achei que você fosse cair andando desse jeito. Respondi resmungando: e o que me interessa o que você acha ou deixa de achar, infeliz? Sorte a dele não ter escutado.
Um café puro depois, senti muita vontade de chorar. Na padaria tinha muitos casais, alguns com filhos pequenos. Depois chegou uma família inteira: pai, mãe, filho e avós. Lembrei que não tenho mais avós. Lembrei que quero ter filhos, me tornar mãe e um dia ficar bem velhinha pra estragar meus netos deixando eles comerem bolo antes do almoço. Comecei a pensar – e não cheguei a lugar algum – sobre o que eu estou fazendo da minha vida. Algumas vezes tenho vontade de deixar tudo, voltar pro interior e viver onde eu ainda lembro de ter sido feliz em algum momento. Não que agora eu não seja. Mas penso que, a cada dia que passa, eu me imponho mais e mais metas para me permitir viver satisfeita. Por um lado, buscar satisfação me satisfaz de alguma forma. No entanto, a falta de saber exatamente o que me satisfaz é que me tira do eixo.
Chorei lágrimas de desespero na volta pra casa. Como se, depois da decisão de mudar de uma semana atrás eu tivesse deixado muita coisa pra trás e agora eu não fizesse a mínima idéia de como preencher todo o vazio que ficou. Bem sei que não me adianta passar mais um dia de pijamas ou lamentar o que deixei pra trás. Nem ansiar por pedras no meu caminho. Porque elas virão, isso é certo. Mas só serão pedras quando eu desconhecê-las e tiver que passar por elas. Não adiantar ansiar pela nova leveza da alma, pelas borboletas no estômago, pela beleza do novo e por olhar para o novo com olhos de criança. O realmente novo é desconhecido e, uma vez desconhecido, não se sabe o que será nem quando virá.
E assim, outra semana começa com a nova rotina para fazer as mesmas coisas de forma diferente.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Invisível

Durante uma conversa telefônica despretensiosa no fim de um dia anormal de uma semana normal, comecei a me aceitar em luzes e sombras. E enxerguei algumas coisas que já fiz e me tornaram um pouco mais desprezível do que já sou. Mas cada um sabe a dor e a delícia de ser quem se é. Uns dias mais “delícia” e outros mais de “dor”.

Estava a prestar atenção em alguns pensamentos que geralmente passam e não ocupam muito do meu tempo em épocas que minha vida se resume a trabalho-casa (mais trabalho do que casa) e uma pergunta quase de cunho existencial me escapou para um guri que passou pela minha vida na época errada.

Um guri lindo que conheci durante uma das tempestades que atormentavam meus sentimentos no início desse ano. E não estou falando só da beleza física (que juro que é de se encher os olhos!), mas de uma criatura de paz inigualável, de coerência e atitudes lineares, congruência de pensamentos e valores. Chegamos a ter um tere-tê-tê dos bons, que acabou depois de alguns surtos meus fora de propósito e mal direcionados. Muitas vezes eu vomito coisas em cima da pessoa errada, faço uma bagunça só, exagero as palavras e distorço os fatos pra tentar amenizar – e esconder, eu confesso – coisas que deveriam ter sido apagadas há tempos atrás.

Talvez pela segurança inexplicável e pelo respeito e consideração que sinto por ele, virei e perguntei “quais são as minhas atitudes que me tornam quase invisível como mulher?”

Taí uma resposta que só eu – e talvez nem eu mesma – poderia ter. E foi tentando responder a essa pergunta com a ajuda dele que percebi outras coisas sobre mim mesma. Percebi o quanto eu distorço fatos, pessoas e circunstâncias para deixar intacta certas fantasias que eu criei em cima de certa pessoa. Descobri a falta de fundamentação teórica e prática dessas fantasias e tive a percepção real da intensidade de investimento emocional que eu aloco para que minhas invenções se mantenham no exato lugar que eu destinei a elas. E, desta forma, a realidade se esvai e escapa dos meus pés na medida em que eu uso e abuso dela para sustentar minhas fantasias.

É bem difícil aceitar a fantasia como fantasia e a minha falta de consideração pela realidade. Difícil aceitar a falta de consistência em construir alguma coisa – qualquer coisa – em algo não palpável. Dói um pouco perceber que palavras foram ditas pra pessoa errada. Pra alguém tão real e que me enxergou além dos meus surtos sem propósito e reações exacerbadas. É triste enxergar que diminuí ou aumentei situações de forma caótica e genérica. Que me afastei um bocado da coerência que sempre quis pra mim. É… aconteceu. Mas nada como perceber a falta de realidade para poder se aproximar dela.

[F., obrigada principalmente pelas frases não ditas e por me mostrar, de certa forma, que a paz que busco agora é de uma simplicidade tamanha e totalmente possível e real. E que a minha falta de critérios ainda tem solução!]

domingo, 6 de julho de 2008

E pensar que já fomos ótimos juntos

Eu sei que já critiquei várias vezes a sua falta de memória. E que vira e mexe eu brinco com isso. Mas juro que hoje, e nas últimas semanas, foi exatamente a sua falta de memória que eu invejei. Eu queria conseguir esquecer do nosso primeiro email trocado, da primeira vez que você me trouxe em casa e que eu não sabia se você queria ou não me dar um beijo. Dos dias que se seguiram depois disso e que eu me pegava revivendo o curto caminho da sua casa à minha, aquela ansiedade e insegurança de uma menina de 15 anos que se sente boba em esperar um beijo e ele não acontecer.
Mas aconteceu. Depois de alguns dias, de olhares trocados, do meu interesse explícito que eu tinha certeza que conseguia disfarçar. Numa noite de setembro, na estação do metrô, eu nojenta depois de um dia todo de trabalho e três horas de aula, você encostou as duas mãos no meu rosto, me apertou a bochecha bem devagarinho, olhou bem no fundo dos meus olhos e me perguntou se estava rolando alguma coisa entre a gente. Eu fiquei apavorada em saber que eu nunca tinha disfarçado coisa alguma e, por não conseguir fugir do seu olhar, respondi como você sempre me respondeu quase tudo: “não sei. Está?”.
Me senti boba e insegura. Você riu, encostou sua testa na minha e disse que achava que sim. Meus joelhos ficaram frouxos e naquele momento eu já poderia ter certeza que você não seria qualquer pessoa na minha vida. Antes da gente conseguir se beijar naquele momento mais bonitinho do mundo, o trem chegou. Sentamos os dois bem no canto e nos beijamos até chegar na estação mais próxima da sua casa. Descemos juntos e sentamos naquele boteco da esquina, que me faz lembrar de você até hoje, quando passo por lá.
A noite parecia que não tinha hora pra terminar. E foi nesse boteco, sentados nós dois na calçada, que você me disse que eu era linda e muito feminina e logo depois me alertou que você era confuso e complicado com relacionamentos. Eu queria não ter memória pra lembrar disso tudo. Lembrar do jeito que você me olhava e que você parecia encantado com tudo aquilo, da mesma forma que eu também estava encantada. Foram poucos nossos momentos de encanto mútuo como aquele, aquela mesma sintonia. O encantamento deve acontecer de forma mais intensa quando duas pessoas se conhecem pouco e existe mais espaço pra fantasia.
Lembro do dia seguinte você não ligar. Mas lembro também quando chegou um email seu dizendo: “Disfarça o sorriso!”, como se você soubesse exatamente como eu me sentia naquele momento.
Depois desse dia, passamos poucos meses nos vendo todos os dias. Não sei exatamente como você se sentia, mas a minha vontade sempre foi uma só. Era estar nos seus braços, sentir o seu gosto, me enroscar nas suas pernas e rir das coisas bobas que sempre acabávamos conversando jogados no sofá da minha casa. Você nunca foi transparente, apesar de eu sempre tentar adivinhar o que se passava e te dizer com convicção que eu sabia e entendia o que se passava na sua cabeça e no seu coração.
Entre aquela noite de setembro até o final de outubro tentei, em vão, não pensar muito no que aconteceria com a gente. Hoveram dias em que consegui deixar de pensar. E eles foram ótimos. Imagino que foram os mesmos dias que você também não pensou em nada. Foram dias que você não pensou em dizer que queria me ver e que estava vindo pra casa depois de deixá-lo em casa. Dias não. Noites ou madrugadas. Nessas noites você nem se preocupava se era tarde demais e que eu teria que acordar cedo no outro dia. Eu também não me importava. Na verdade, horário nunca foi problema pra eu te ver! Nunca foi problema te esperar e, de certa forma, ainda não é. Queria que fosse. Queria achar que já se passou tempo demais pra eu ainda sentir tudo isso que eu ainda sinto. Se pelo menos eu não tivesse a memória que eu tenho, todas as lembranças já teriam minguado devagarinho…
Lembro das noites que saíamos do curso e íamos tomar cerveja no bar de sempre. E você pegava na minha perna por baixo da mesa sem ninguém perceber. E da vontade que eu tinha de te dar um beijo enquanto todo mundo falava ao mesmo tempo e eu só conseguia prestar atenção nos meus pensamentos. Lembro das trocas de mensagem no meio da aula, da sua curiosidade em saber o que tanto eu escrevia ao invés de prestar atenção na aula. Lembro das minhas crises de ciúmes e da vontade que eu tinha de te enforcar. Lembro de irmos uma vez tomarmos chopp e que você pedia pro garçom um “rabo de peixe”, achando graça na expressão, e que, nesse dia, eu te dei um banho de chopp. Eu morri de vergonha e você achou bonitinho. Lembro de toda a minha felicidade nesse dia por te ter só pra mim. Depois a gente se agarrou até perder o fôlego e embaçar os vidros no carro na frente de casa porque você não podia subir nesse dia já que me irmão estava em casa.
Lembro de uma certa noite que você chegou em casa e me abraçou forte. E que ficamos um tempão nos abraçando e nos agarrando. Tudo bem, a maioria da vezes sempre era assim. Eu abria a porta e a gente já se agarrava. Mas essa certa noite foi muito diferente. Você estava inteiro, como se precisasse realmente estar ali. E fomos ótimos juntos. Na verdade, todas as vezes que estivemos juntos, fomos ótimos.
Lembro que quase caímos da cama na última noite que nos encontraríamos todas as noites. Bêbados e felizes. Tínhamos ido no mesmo boteco onde tudo começou. Nessa noite, não sei como consegui passar tanto tempo ao seu lado sem te beijar. E depois disso, passamos algum tempo sem nos vermos. Era final de ano, você viajou. Fiquei triste por alguns dias e depois tentei me conformar dizendo a mim mesma que seria melhor assim. Que eu te esqueceria e que tudo acabaria com o fim de 2007. Mas, antes disso, te mandei uma figura por email que era a sua cara e que você vira e mexe coloca como foto do seu msn. E, quando eu estava quase conseguindo juntar meus pedacinhos, você me enviou um texto que eu já tinha te enviado antes e disse que estava com saudades. Era quase madrugada e eu fui dormir chorando baixinho depois de abrir seu email.
No primeiro dia de 2008, e seu aniversário, te mandei um email lindo, que escrevi numa sentada só. Fiquei imaginando como você o leria e, até hoje, não sei como você o fez. Não preciso de memória para lembrar que coloquei muito de tudo que eu sou naquele texto. Apesar que todo o sentimento do mundo não cabe em palavras.
Alguns meses de 2008 se passaram, você estava fora de São Paulo e já não fazia tanto estrago no meu coração. Mas confesso que aquele friozinho na barriga sempre voltava quando nos falávamos pela janelinha. Comecei a tentar te esquecer. Mas não sei se sou eu ou é você quem não quer que isso não acontecesse e, sei lá por quê, voltamos a nos ver numa dessas madrugadas.
Ainda era verão. Muita coisa tinha mudado. Para mim e imagino que para você também. Eu estava mais magra, minha casa estava com móveis novos, eu já estava no emprego novo. Parecia tudo novo na minha vida. Só você continuava no mesmo lugar que ocupava na minha vida. No meio tempo em que te convenci a vir aqui e você chegar, senti medo de você me olhar com estranheza e até medo de eu mesma te olhar assim. Mas aconteceu tudo da mesma forma que sempre aconteceu. Eu abri a porta antes de você tocar a campainha, você me abraçou pela cintura e eu pelo seu pescoço. Eu passei meu rosto devagarinho no seu pra ter certeza que a sua barba mal feita ainda me fazia arrepiar e já nos beijávamos enquanto andávamos como caranguejos grudados até o quarto. Eu ainda lembrava de tudo. Lembrava do gosto, do beijo, do peso do seu corpo no meu, do jeito que você arrepiava quando eu te mordia de leve na barriga e de como você ameaçava sorrir quando eu ia pra cima de você. Lembrava da paz que eu sentia quando eu deitava nos seus braços e me enroscava nas suas pernas e de como seus pés e suas mãos sempre foram bem mais quentes que as minhas.
Hoje em dia o tempo se espaça cada vez mais antes de nos encontrarmos de novo. E a sensação que eu tenho é que isso não vai mais acontecer. Talvez seja proposital pois, com a sua falta de memória, você lembre bem pouco de quase tudo. E eu queria ter também essa falta de memória. Mas eu lembro muito de quase tudo…