Muitas vezes sentir saudades vem da mesma forma que sentir raiva. Nenhum dos dois sentimentos são racionalmente explicáveis. Pelo menos quando não se têm argumentos que sustentam um ou outro sentimento.
E sustentar sentimento é racionalmente inaceitável.
Puf… Nem me importo com a tal racionalidade. A racionalidade só me serve como suposição de modelos econômicos, em que as preferências são transitivas e completas. Não são! Não as minhas. Eu prefiro tudo ao mesmo tempo agora! Não sei viver um dia de cada vez e não sei transitar linearmente entre as minhas preferências. Mas não é sobre minhas preferências que quero falar. É sobre sentimentos que vêm e vão.
Os meus – seja lá que tipo de sentimento – vêm rápido e com muita intensidade. E não tem o que explique.
Eu sinto saudades quando eu tenho um pouco de tudo aquilo que eu quero e gosto. Quando quero mais daquilo que não matou a minha sede e a minha fome. Quando não matei a minha vontade. Mas hoje não é a saudade que me sufoca. É a raiva que transborda.
Sinto tanta raiva que ela só chega a diminuir quando eu me imagino apertando seu pescoço até você ficar sem ar e sem movimentos. Quando quase sinto sua pele gelada e esbranquiçada. Diminui a minha raiva e quase sinto uma felicidade mórbida. E por quê de tanta raiva? Não sei explicar. Só sinto. Mas a sua distância só me faz pensar, agora sim de uma forma mais fria, que é fácil te esquecer. Afinal, da mesma forma que você não existia até bem pouco tempo atrás, você deixará de existir daqui bem pouco tempo a frente.
Talvez a raiva toda não seja pela distância e sim pelo desinteresse. Ou melhor, pelo interesse distorcido e oco. Pelo conveniente, pela falta de nexo. Tanta falta de nexo que chega a ser previsível. E tudo que é previsível demais, é chato. Até aqueles que vivem em cima do muro são previsíveis. Estão lá, no meio e em cima, na média. Surpreende pela previsibilidade.
E nesse momento minha raiva passa. Eu volto a ser quem eu era, sem rancores. Pois é. Com a mesma intensidade em que construo castelos de areia, as ondas chegam pra coloca-los abaixo. E é como se eles nunca tivessem existido.
Só permanece a sensação de que é possível sempre construir castelos de areia num dia ensolarado de praia.
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