terça-feira, 28 de julho de 2009

Dos anseios

Um dia aquela sua euforia de quem tem 18 anos passa. Também passa a necessidade de se sentir eufórico e você já não acha que esta é a sensação de felicidade que todo mundo sempre busca. Não, não estou falando em viver de forma intensa. Continuo sendo aquela que assume todos os riscos, que ri, que chora de soluçar, que suspira fundo e sorri com a alma. Ninguém deixa de ser inteira quando perde a euforia.

Aquela sensação de quem quer ter o mundo todo de uma só vez nas mãos some. Desconfio que é a sensação de quem já sabe o valor que tem e que já conseguiu equilibrar o mundo nas mãos. Ou que sabe qual parte do mundo quer para si já que não precisa tanto assim do mundo todo.

Acho que deve ser um pouco o que se sente quando você conhece alguém que você realmente quer ter do seu lado. Você não precisa mais do mundo inteiro nas suas mãos. Você equilibra o mundo nelas e tem os braços de uma só uma pessoa. Você se tem nos braços dela. É dela.

Não sei até que ponto o problema é de medidas. Acho mesmo que é só uma questão de contentamento.

Enquanto você não conseguir controlar a sua compulsão e conseguir medir os seus anseios, até o mundo todo será pouco. E não há nada que faça com que esse seu vazio seja preenchido. Sempre vai ser pouco, insuficiente, oco. Frustrante. E sempre será, já que o tudo é quase nada.

A compulsão e a não saciedade de beijar meia dúzia de pessoas no intervalo de poucas horas. "Você se importa?", tem quem pergunte de forma educada depois de acabar de te beijar. Não me importo mais e você?

Quem tem importância diante de um cenário desses? Pessoas são só bocas. E me pergunto se existiria a diferença entre bocas e copos com gelo. As pessoas ainda hoje preferem se manter superficiais e acreditam que algo de muito bom ou muito importante está acontecendo no raso do mundo. Existe necessidade de auto-afirmação de todos os tipos. Uns escrevem, outros trabalham e ganham salários altíssimos, outros beijam quatro ou cinco por noite emendando prazeres e excessos e vão dormir achando que se bastam. Nem se olham. Talvez se olhem, mas não se enxergam.

Mas um dia, junto com a euforia, a necessidade de auto-afirmação também passa. E aí o mundo inteiro se torna pouco se o mundo inteiro continua raso. Você só precisa mesmo de um dos dois ombros largos e que ele continue com todos os dias pra te ter deitada ali. Em silêncio, só suspirando. Que seja só duas bocas, quatro braços e quatro pernas se confundindo em risos e pranto. E gozo. Sentimentos, sensações, carinho e desejo. E que se percam no tempo e no espaço do quarto.

E foda-se o resto do mundo. Eu não preciso mais dele para ter tudo.

sábado, 18 de julho de 2009

Da solteirice

Sabe aquela história que todas as suas amigas casadas contam para consolar você, a amiga que já está solteira a anos? "Querida, você precisa sair mais, conhecer o amigo do fulano meu marido, vamos marcar um jantarzinho!" Você vai, completamente sem vontade pro programa insosso. Conhece o tal amigo do marido da sua amiga e quer matá-la, ali mesmo, na frente daquele prato minúsculo e caro, com direito a sobremesa diet, provavelmente uma fatia de abacaxi com uma raspinha de limão. Ácida, pra combinar com a dúvida que não sai da sua cabeça: "por que raios eu não estou em casa com um pote de Häagen-Dazs, jogada no sofá de pijama, chorando com uma comédia romântica?"

Geralmente os pretendentes que as suas amigas casadas tentam te empurrar é o amigo chato e sem assunto do marido dela que ela mesma não anda suportando. Claro que elas fazem com a maior boa vontade. Mas acho que geralmente as amigas - as suas e as minhas - esquecem dos seus gostos e das suas peculiaridades. Uma tristeza. Com sorte, você escapa do jantar sem que o fulano te dê uma carona pra casa e sem que você dê seu telefone pra vocês se conhecerem melhor.

Você continua solteira. Solteira, sozinha nunca. E pára de aceitar os convites para os tais jantarzinhos. Mas continua vivendo de amores sobrepostos, com ânsia de viver um amor só e uma agústia que não sabe de onde vem. Segue uma parte dos conselhos das suas amigas casadas, a de sair mais. Se distrai pelas noites mal dormidas, em lugares insuportavelmente barulhentos. No começo, você acha o máximo. Concordo que no início é legal se emperequetar toda, arrumar a postura e desfilar pela balada da moda, fazendo cara de díficil e usando aquele meio sorriso que você treinou tanto na frente do espelho enquanto se maquiava com vaidade. Aprende a tomar vodka com energético, que te ajuda a se manter acordada noite adentro, enquanto aguenta as mesmas conversas superficiais de sempre.

Suas preocupações se resumem a não parecer fácil demais, nem difícil demais, não falar demais, não comentar sobre suas frustrações e o que você pensa realmente sobre a vida. Pois é, você aprende que as pessoas que estampam aquele sorriso superficial no rosto não suportam as próprias frustrações, o que dirá das suas. No fundo, todo mundo só está mesmo preocupado consigo mesmo, poupe os outros da sua vida não superficial, dos seus medos e dos seus anseios. No máximo, isso só é importante pra você mesma.

Começa a considerar até a comprar um vibrador e enxerga isso não mais como um consolo, mas como um investimento. Resolve começar a ler livros de auto-ajuda, crônicas de mulheres fortes, solteiras e felizes e começa até a fazer terapia. Acha que se sentirá menos carente, mais segura, uma mulher independente. Prefere continuar olhando sempre pra fora do que começar a olhar pra dentro. Afinal, pensar que a culpa é do mundo e que você sofre de falta de sorte crônica é realmente muito mais fácil. Mas no fundo, sinto lhe informar, o problema está em você, sempre esteve.

E qual é este problema? Existe várias hipóteses possíveis e não desconsidere todas de uma vez só: talvez você não se sinta merecedora de alguém legal do seu lado, talvez seja carência ou até mesmo um grau forte de miopia. Talvez você seja insegura, traumatizada ou ainda não tenha construído seu ego e sua auto-estima seja baixa demais para suportar que as coisas possam dar certo com você. E aí é muito mais fácil deixar que tudo dê errado sempre, como você sempre achou que ia dar.

Chega uma hora que você cansa de se colocar como vítima das circunstâncias e de torrar tanto dinheiro com vodka, consolos sexuais, livros de auto-ajuda e até com terapia. Resolve namorar com você mesma e aceita que você não é tão ruim quanto você pensa e acha parecer. Larga mão daquelas pessoas que aparecem na hora errada (delas, porque você já sabe que os outros podem ter seus problemas e nem sempre o negócio é com você, thanks god!) e já separa quando o problema dos outros não está em você. Eles que resolvam o problema deles, que você está vivendo a sua vida muito bem, obrigada. Afinal, não é sempre que vale a pena insistir no que já não vai dar certo.

Nesse momento já existe espaço na sua vida para ser preenchido por alguém nem pior nem melhor que você. E você também já não se importa em colocar outras vidas em escala ao lado da sua. São só outras histórias vividas de outras formas. E nada mais clichê e mais verdadeiro do que dizer que é quando você menos espera alguém tromba em você e faz com que a sua vida se cruze com outra vida. Você já não é mais aquela que sofre de amor, que angustia do lado do telefone e se pergunta a todo momento se dessa vez as coisas vão dar certo. Simplesmente aceita que algumas vezes dá certo mas na maioria não. Aceita que um encontro de dois é diferente de um encontro inventado, que não há nada que você faça ou deixe de fazer para que as coisas sejam como você queria que fosse. Você vive o "eterno enquanto dure" e já sabe o que isso significa. Já sabe que ninguém morre de amor e que o que não é efêmero, fica. E vive assim, de dias inteiros, uma vida só. Definitiva. E já não importa o que vai e o que fica.

Texto dedicado às minhas amigas Milena, Fabi, Nina 1, Nina 2, Camila e Andreza.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Naquele domingo

Algumas semanas atrás, conversando com um amigo desses espiritualizados, que mantém um diálogo com começo, meio e fim consigo mesmo e que foge pouco de todas aquelas coisas que resolvemos não enfrentar na maioria das vezes, ele me falou:

- Existe muita gente interessante no mundo. Nem todas servem para você, mas elas existem aos montes. Você só tem que parar e olhar ao redor. Além de abrir mão da sua mania de achar que todas as pessoas que cruzam seu caminho são interessantes potencialmente. Ou elas são ou não são. É simples.

Fiquei pensando depois que realmente acho que todas as pessoas são interessantes potencialmente. Mas o que se define como “ser interessante”? Um amontoado de características e só? Não… Vai muito além disso. Apesar da dificuldade que ainda tenho de definir o que seria. Acho que são os assuntos dos quais se conversa. Talvez não sejam assuntos específicos, mas a profundidade, o interesse e a fluidez com que esta pessoa trata todo e qualquer tópico da vida.

Talvez seja uma questão menos de assunto e mais de postura. Tem pessoas que mantém o mesmo brilho no olhar quando olham para o que os outros são e o que fazem, como pensam. Se interessam mais pelo abstrato do que pelo concreto.

Não me importa o seu nome, nem o seu salário, se você dorme numa cama king size ou num beliche. Me interessa a forma que você enxerga as pessoas, como as trata, independente do cargo que ela ocupa, seja numa multinacional ou na padaria da esquina.

Pessoas interessantes para mim não se escondem atrás das suas qualidades, aumentando e exacerbando o que tem de bom. As pessoas interessantes riem de si mesmas, das suas fraquezas. Pois estão sempre em contato consigo e sabem que nossos próprios defeitos, para serem superados, nem sempre somem. Às vezes só conseguimos lidar de outra forma com eles.

Naquele domingo que te conheci eu ainda duvidava um pouco desse meu amigo. Aos montes pessoas interessantes? Puf… A maioria das pessoas só resolvem conversar com você quando já sabem o seu cargo e a marca do seu carro. E se você é reconhecida pelas colunas sociais.

Você chegou e começamos a conversar em muito menos de cinco minutos. Você já bebeu do meu copo e, mesmo com o corpo cansado, os seus olhos sorriam de forma apaixonada. Não apaixonado por alguém. Apaixonado pela vida, pelo mundo. Eram olhos curiosos como de uma criança que olha tudo como o novo. Era lindo, mesmo não sendo novo, porque é a forma que muitas vezes eu me enxergo: como uma criança de olhar curioso, que sempre olha o mundo e as pessoas como algo novo.

Eu imagino que encontros assim não são frutos da ação dormente da vodka. Lembrei do slogan “Vodka, connecting people”. Mas não era só isso. Quando existe identificação, precisa de coisas muito menos superficiais do que vodka para se conversar em silêncio.

Não imaginei que nos beijaríamos naquele domingo. Não pela conversa, nem por nada. Eu só achei que uma pessoa tão interessante como você não se interessaria por mim. Pois é, o meu maior defeito ainda é a síndrome do patinho feio, ou da Cinderela que só é Cinderela por uma noite e é gata borralheira pelo resto da vida.

Ainda acredito que você só me beijou, no meio da frase que eu ainda não tinha terminado, quando percebeu que os meus olhos começavam a sorrir para outro. Fiquei imaginando se teria sido só porque você me sentiu indo embora ou se olhar para outro quando outro olhava para mim só te fez criar coragem para ser exatamente naquela hora, numa espécie de “agora ou nunca”. Mas aquele momento já passou e foi bom da forma que foi. Independente de motivos e justificativas.

Nos encontramos uma segunda vez. Eu estava estranha, fechada e triste. Talvez você nem tenha percebido, mas eu estava. Eu queria ter muito mais do que te visto naquela noite. Só não aconteceu. Passou. Talvez eu só não servisse para você. E você não servisse para mim. [Mesmo que eu não acredite nisso, mas fazer o quê?]

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Quando tudo acaba

ou quando você faz com que seja assim...

É sempre assim: você vive de restos e de falta. Relacionamentos vazios e superficiais e cada semana se sente apaixonada por um. Todos os dias fantasia em como seria feliz ao lado de cada um desses homens que passou pela sua vida se tivesse oportunidade. Às vezes se pergunta se um dia eles parariam de procurar em outras mulheres aquilo tudo que você já tem e eles insistem em não enxergar. Ou enxergam e dizem que ainda não é suficiente.

Primeiro você sofre, se culpa. Depois percebe que não é se maltratando que chegará a algum lugar. Depois tenta convencê-los, um a um mas ao mesmo tempo, do quanto é gostoso ter alguém parecido ao seu lado, descobrir cada um dos detalhes que fazem vocês, dois a dois, diferentes. Fala sobre você, de como você consegue ser tantas em uma só, e que não há paradoxo nenhum nisso.

Tantas diferenças, tantas possibilidades. Um cesto inteiro de frustração. Até que passa.

Você para de insistir em erros tolos. Demora, mas você pára. Você se contradiz por vezes e vezes seguidas, mas chega uma hora, que você pára. Começa a rir de si mesma e vê que a vida é mais leve do que imaginou. Leve mesmo quando se caminha sozinha. E solidão é diferente de andar sozinha. Andar sozinha é poder acompanhar a si mesma e é assim que você caminha quando tudo, enfim, passa. E passa, sempre passa.

A lágrima seca, o drama se transforma em caricatura. Um risível exagero. Você percebe que implorar por migalhas vai continuar fazer você morrer de fome. E então resolve matar a sua fome de vida com vida! Tão simples quanto isso. As pernas ainda pesam nos primeiros passos, é normal. E um passo depois do outro, insistentemente, começam a te levar a outras pessoas, novos lugares e até aos mesmos, com a melhor companhia de todas: você. É a companhia mais clichê também, mas aposto que não é sempre que você consegue ter uma conversa civilizada consigo mesma.

E quando já não sente mais falta de quase nada, quando restos são só restos e deixa de ser a sua fonte de vida, você percebe que existe muita gente interessante no mundo. Ah, existe um monte de gente interessante nesse mundo! Mas muitas vezes deixamos de conhecê-las porque estávamos perdendo tempo na vida com coisa besta. Tentando convencer quem se acha interessante demais que somos, nós mesmas, interessantes.

E é quando essas milhares de possibilidades te ofuscam os olhos que já passou. Acabou. Fim, pronto. E você se pergunta: e como isso aconteceu? O que eu fiz?

E você só deixou de fazer, de insistir, de querer. Por cansaço, pela última gota de amor próprio que ainda te restava. Por desistir e não ter mais forças de gritar com surdos. Deixou de fazer e disse pra si mesma, em silêncio, que agora bastava. E se bastou.

Tirou os gessos que te deixavam sempre no mesmo lugar para dançar com total abandono, no meio da sala, vivendo a sua vida. Ah, quanta gente interessante nesse mundo! E você lá, amarrada no mesmo lugar.

O problema é quando você demora para tirar os gessos, quando as pernas ainda pesam, quando você ainda quer convencer alguém de alguma coisa. Perca esse tempo com você. Ou só pare agora tudo o que você estava fazendo. Pare e viva a perda. Pare agora tudo o que você estava fazendo. Deixe de agir e pense um pouco. Deixe as cores da sua vida de separarem do cinza. Pare até que você consiga enxergar e separar o que são sentimentos reais e o que você inventou para manter tudo aquilo que você continuava fazendo. Você vai perceber o quanto somos capazes de fantasiar e nos tornamos míopes em nossas fantasias.

Olhe pra si e você verá como o mundo ainda está cheio de gente interessante. E você perdeu todo esse tempo com coisa besta!