segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sobre a paixão (ridícula)

Eu não sei se o mundo está se tornando ridículo ou se fui eu que cresci.

Não, não tem nada a ver com o mundo. São as pessoas. Ou melhor, algumas pessoas: as apaixonadas. Não só apaixonadas, mas ridiculamente apaixonadas.

Alguém ridiculamente apaixonado não me incomoda. Mas confesso que sinto vergonha alheia e me falta coragem para perguntar pra essas pessoas se elas realmente acham necessário mostrar pro mundo aquele mimimi todo. Hoje, quem se apaixona não suspira mais; coloca foto no orkut, no facebook e no twitter. Faz declarações públicas para apagar tudo em menos de 12 meses. Me pergunto se elas se perguntam o que as pessoas que veem tudo aquilo pensam. Não... elas não se perguntam. Ou até se perguntam e acham tudo aquilo muito bonitinho. Se esquecem de quando elas mesmas não estavam apaixonadas e viam de fora aquelas cenas.

Qual será a intenção delas? Causar inveja é a primeira alternativa que me chega. Já até me questionei se a minha reação de ridicularizar a paixão alheia não era inveja minha. Me perguntei se eu mesma não sairia estampando em todos os lugares a minha bobice toda se me apaixonasse de forma ridícula por alguém. Sabe, já me apaixonei muito, mas já sinto de forma diferente. Acho que já repeti paixões suficientes para elaborar todo o processo. E nunca fui de me auto-afirmar através de olhares de terceiros.

Já senti inveja, mas não neste caso. Senti inveja de olhares cúmplices, longe de fotos. De palavras ditas em silêncio. De gestos espontâneos, da sintonia da convivência.

Sei lá, parece que paixão serve só para mostrar ao mundo. Ninguém mais sente ou fala sobre os sentimentos e os clichês gostosos que se apaixonar geram. Se não estiver na vitrine, não vale.

Lembro das minhas paixões platônicas da época da faculdade. De inventar desculpas para aqueles que desconfiavam do meu rosto queimando enquanto eu escondia os meus segredos. Pois é, eu gosto mesmo das paixões secretas, escritas em diários. De nomes trocados, de suspirar pelos cantos. Gosto das paixões guardadas a sete chaves e protegida por quatro paredes.

Essa paixão comercial de vitrine me envergonha, banaliza sentimentos. Estampa fotos e status. Mostra mais do que sente. Prefiro a sensação de me sentir ridiculamente apaixonada mas acho ridículo estampar paixão por aí.

Sou mais egoísta que egocentrista. Gosto dos sorrisos só para mim. De palavras e gestos também. Meu ego não precisa de olhos alheios afirmando tudo aquilo que eu sei que é meu.

Eu realmente não sei o que acontece no fundo, mas não quero entender. Continuarei vivendo paixões quando elas vierem e se vierem (o que parece já ter deixado de acontecer!). Continuarei a ver paixões alheias estampadas, ridículas e breves. E gostando cada vez mais de nunca ter vivido assim.