sábado, 20 de outubro de 2007

Tanto por tão pouco

Segundo dia assim. Hoje já um pouco melhor do que ontem. Talvez seja só o simples fato da proximidade do final de semana. Chega sexta-feira e eu sei exatamente como serão as minhas noites até domingo. Facilmente previsível. Ontem o dia passou rápido, mas a aula durante a noite se tornou tão insuportável que eu precisei sair dali. Não suportei ficar mais uns minutos ao lado dele, aquele maldito celular recebendo mensagens sem parar. Meus olhos se encheram de lágrimas, sem que ele tenha notado, por três vezes, numa mistura de ódio, raiva, de querer que tudo fosse diferente, ou que nada, EXATAMENTE nada tivesse acontecido nas últimas semanas. Quarta-feira, depois de três dias só olhando (mal olhando!), sem saber de nada, sentindo que do outro lado nada existia (nenhuma gota de sentimento, talvez só migalhas), precisei me deixar de lado.

Uma certa vez escrevi algo como “tudo que eu mais quero hoje é que ele não faça mais nada do que eu sempre quis que ele fizesse”. Acho que meu desejo hoje é quase tão organizado quanto este. Mas tem uma parte minha, nem tão pequenina assim, que gostaria muito de ser surpreendida. Positivamente, é claro. Nenhuma surpresa megalomaníaca. Uma surpresa boba, um olhar de rabo de olho ou só um sorriso de canto de boca. Mas não é o tipo de coisa que se cobra. Só se quer. E é quase triste quando isso não vem. Mas tudo bem.

Da primeira vez até hoje (e nem faz tanto tempo!), muita coisa já se perdeu. Lembro ainda daquele primeiro email, depois da nossa primeira noite juntos: “disfarça o sorriso”. Quando lembro, é quase distante, mas ainda tenho aquela lembrança de disfarçar o sorriso com os lábios e meus olhos continuarem sorrindo ainda por algum tempo… Até ontem, quando acordei. E hoje, nem sei… Provavelmente, nada. Nem curioso com o meu texto no papel azul ele ficou. E o sorriso dele já é amarelo, diferente do sorriso “eu te quero” de dias atrás. Bom, pelo menos eu tentei…

Ainda faço as minhas escolhas

Já é quase a coisa mais chata do mundo problematizar certas coisas. Nem graça mais tem em se sofrer por amor. Ou pela falta dele, que seja. Eu sei que a menos de cinco minutos atrás eu estava fazendo exatamente o contrário: eu estava tentando problematizar o que nem chega ainda a ser um problema. No melhor estilo “ó céus, ó vida!”.

Tudo bem. Tá certo que eu adoro exagerar. Sempre gostei um pouco de ser fora do padrão. Mas penso que, mesmo sem fazer isso, enxergar problema onde não tem, amar quem ainda nem ocupa espaço na minha vida, continuo um tanto fora do padrão. Até porque penso que não existe um padrão, uma regra em que se diz: “sofra por isto, não sofra por aquilo”, “sofrimento permitido somente após o segundo mês completo de envolvimento emocional”. Talvez impor regras claras ajudasse muito àquelas pessoas que adoram seguir regras, mas no meu caso, não faria a menor diferença. Acho que essa coisa de sofrimento tem muito de escolha e, consequentemente, muito do que se valoriza na sua vida em determinado momento. Eu, como tudo que eu faço, levo as coisas sempre muito a sério. Muito mesmo. Com o sofrimento não seria diferente. Se é pra sofrer, eu vou sofrer “direito”. Vou ficar sem dormir, torcer para o telefone tocar e ficar péééssima quando isso não acontecer, vou pensar numa pessoa todos os minutos do dia e ficar exageradamente chateada se não for recíproco (e caso se torne recíproco vou achar tudo muito chato e sofrer para terminar tudo sem fazer a outra pessoa sofrer!). E como tudo que se faz “bem” feito, sofrer desse jeito demanda tempo e energia.

Dessa vez, escolhi não sofrer. Talvez simplesmente porque eu tenha resolvido, desta vez, dedicar todo meu esforço e minha dedicação, todo meu tempo e minha energia, em coisas menos complexas do que esse sofrimento. Preferi dormir as mesmas horas de sempre, estudar como se deve e tentar ocupar a minha vida com a minha vida! Sofrer “mais ou menos” não tem graça! É claro que eu vou me sentir triste algumas vezes. No entanto, é só não dar tanta importância pra tudo aquilo, vivendo sim todo aquele sentimento, mas de uma forma redimensionada, dando só a devida importância praquela tristeza. Sabendo que essa tristeza é só um pedacinho (e um pedacinho que acaba!) da sua vida. Talvez comparada a uma unha quebrada. Que incomoda assim que quebra e você sente certo incômodo durante toda uma semana. Mas quando você pára de olhar pra ela (ou simplesmente quando aquela pequena semana acaba!), a unha já cresceu e você mal se lembra daquilo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

E segue o baile

Agora a pouco, conversando com o meu irmão, ele colocou em palavras exatamente o que eu sinto. Ele disse: acredito que o sonhar também faz parte do viver. Muito diferente do que escutei da minha psicóloga essa semana: você entra de cabeça em tudo o que você faz. Apesar que, indo um pouco longe, essas duas falas até se complementam. Talvez eu sonhe tanto e tão alto, e acredite tanto nesses sonhos, que acabo entrando de cabeça neles. É… talvez seja isso que eu faço… Acho que o problema de entrar de cabeça nas coisas é que, muitas vezes, esqueço que posso acabar dando um salto triplo mortal numa piscina bem rasa. Mas no fundo, não me importo de quebrar a cabeça em cada um desses saltos. Geralmente o que acontece é que eu fico naquele estado meio inerte, meio confuso durante um tempo e, no final, nem restam traumas. Tanto que vou lá, preparo mais uma vez o meu salto triplo, e lá vou eu.
É como escorregar num baile, no meio do salão (e de escorregões eu entendo bem mais que salto em piscina!). Você finge que nada aconteceu, abre aquele sorriso amarelo, e segue! Meio zonza, com o vestido sujo, mas segue!
Mas entendo também o problema de levar as coisas muito a sério. Pelo menos no meu caso… O que acontece é que, quando se leva tudo muito a sério, se pensa muito. Se pensa em tudo! Em cada detalhe, em cada ponto de interrogação. A cada passo que se dá, você racionaliza os próximos dez passos, sempre planejando o caminho correto. E se esquece, muitas vezes, que antes de dar o décimo passo, você terá outros nove antes. E que nesse caminho todo, muita coisa pode mudar e o décimo passo nunca acontecer.
Interessante que hoje acordei com a estranha sensação que muitos padrões da minha vida tinham mudado. Não aquela mudança brusca, daquelas que você entra num cabelereiro e pede para pintar seu cabelo de rosa-choque. Mas uma mudança sutil, que você pede para cortar um mísero centímetro do cabelo e, quando acaba, você percebe como até seu rosto mudou.
Hoje foi assim. Não ganhei na loteria. Nem ganhei um aumento. Muito menos recebi um telefonema. Nem por engano. Mas acordei com a sensação de que aquela rigidez toda de quem planeja todos os dez passos não existem mais. Pelo menos é nisso que eu quero acreditar. Que, de agora em diante, um passo de cada vez é o suficiente. Mesmo que eu me jogue de cabeça neste momento. Não quero mais contar cada um dos passos, vivê-los antecipadamente, tentando entender cada vírgula e cada ponto de interrogação. Agora eu vou só sonhar com o décimo passo. E viver cada um dos nove anteriores no seu tempo. Sem fazer questão de chegar no décimo da forma que eu imaginei. E esperar pra ver o que acontece. Talvez eu nem chegue no décimo passo. Mas não vou ficar pensando em como isso pode ou não ocorrer. Muito menos calcular a probabilidade de cada evento. Tentar prever como tudo acontecerá até lá não me satisfaz. E nem me acrescenta.
Querer, por hoje, basta. Vou continuar sonhando, acreditando só que o sonhar também faz parte do viver. E se o sonho não acontecer, não faz mal. Já o vivi em sonho. E outros sonhos sempre virão…