sábado, 16 de maio de 2009

try to meet me in my dreams...

Dizer que confundi o real com o ideal e achar que isso basta ainda não me conforta. Não acho que é só uma questão de confusão. Mas não faz assim tanto sentido nesse meu jeito de sentir tanto...


Se conheceram por um terceiro. Nada demais, sem expectativas. Ou melhor, talvez expectativas, mas disfaçaram. Expectativas diferentes, é verdade, mas ainda assim, expectativas.

Depois do primeiro beijo, como sempre, ela ficou encantada. Ele já sabia que seria assim. Ela era inteligente, interessante e um pouco diferente das outras. Também era transparente e previsível. Obviamente encantada, perdia seu encanto. Ela não faz idéia do que passou pela cabeça dele depois daquela noite. E nem das outras que vieram. Só sentia. Não se tratava de não dizer, também não mostrava. Só um pouco dele, que ela via através de seus olhos. Ah, os olhos dele... Ela nunca havia encontrado com olhos expressivos que não pudesse decifrar, como os dele. Não era curiosidade o que ela sentia, só não conseguia explicar. Assim que se conheceram, ela queria ter conversado mais mas só disfarçou e deixou tudo como estava.

Na primeira vez que saíram só os dois, ela sentiu borboletas no estômago. Sufocou-as. Se sentia insegura na frente de alguém bastante seguro. Ele já sabia o que iria acontecer. Foi então seduzida, como sempre gostou de ser, pelos olhos dele. Gostava de se sentir como quem flutua e tem medo de abrir os olhos para saber qual a altura que tem abaixo de seus pés. Naquela noite, não se importou com o que ele sentiu. Acreditou no que seriam as suas próprias lembranças e multiplicou por dois. Sentia pelos dois. Talvez fosse uma realidade inventada. Mas, para sentir, aquilo bastava. Tentou não pensar. Deixou pra lá.

Na primeira vez que ele foi a sua casa foi tudo perfeito. Sempre quis ter alguém para dividir o sofá, os filmes e a garrafa de vinho. Não era questão de romance. Ela só preferia mesmo ficar em casa, um silêncio compartilhado e histórias bem contadas. Era a forma que ela encontrava de acalmar todo o vazio que sentia. Não estava apaixonada. Muito menos sofrendo. Só era transparente demais.

Ele ainda parecia o mesmo do dia que se conheceram até a primeira vez que dividiram a mesma cama. Foi a última vez que se olharam nos olhos. Como quem já soubesse, ela trocou os pés pelas mãos depois disso. Escreveu sobre coisas que nem sabia sentir. Coisas que ela não gostaria de ler se estivesse no lugar dele. No fundo, era só medo. Ela nem sabe o que ele pensou. Nem se sentiu alguma coisa. Só sabe que ele leu seus textos. Queria ter olhado seus olhos nesse momento. Talvez eles resolvessem falar. Depois de tudo, ele continuou o mesmo. Indecifrável. E só se afastou.

Chegaram a se encontrar de novo. Dessa vez se beijaram sem se olharem nos olhos. Ela não sabia o que era, ele estava diferente. Indiferente. Antes desse encontro, ele também havia falado pouco. E agora era como se fosse outro. Escolheu outras mulheres depois de beijá-la. Ela não estranhou, de tão estranho que ele lhe parecia. Alguns dias depois, ela voltou a procurá-lo. Sem muita pretensão, sem muita empolgação, como deveria ter sido desde o começo. No fundo, ela já sabia que não havia mais nada ali. Nunca houvera, afinal. Talvez não fosse mais interesse o dela. Talvez só questão de querer entender o que não tinha sido dito por ele. Resolveu não perguntar, não tinha espaço. A transparência era dela, não dele. Ele só chegou a dizer a ela que não queria machucá-la. Só não sabia que ela mesma era capaz de fazer isso sozinha.

Já não era mais questão de idealizar a realidade nem de realizar a idealização. Queria ter feito diferente, dessa vez, sem as confusões que ela criava. Por medo, por desorganização. Por transparência. Informação demais muitas vezes atrapalha. E muitas vezes nem ela sabia o que fazer consigo mesma. Passou momentos de indecisão entre aqueles olhos indecifráveis, daquele menino de sinais ambíguos e outros olhos, mais claros e igualmente mais distantes dela. Sabia o que queria mas insistia em assuntos findos como quem tenta disfarçar o que se passa no coração.

Queria voltar no tempo, recomeçar o que ainda lhe era novo. Já não podia. Depois de tanto fantasiar, a menina já havia pisado na realidade. Só esqueceu que não sabia viver nela. Correu para os dois lados, tentando buscar o que, talvez, só pudesse realmente encontrar naquele que ainda não conhecia. Tentou restaurar o que já havia terminado. E correndo sem caminhos, não chegou. Deveria ter sentado e fechado os olhos, em silêncio.

Ela só queria as borboletas no estômago que ele trouxe da primeira vez que se viram sozinhos. Queria se sentir a menina insegura na frente daquele menino seguro. Queria perder seu tempo olhando praqueles olhos indecifráveis... e suspirar de novo. Sim, aqueles olhos sem que ela houvesse procurado por qualquer coisa.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Sobre as ressacas morais de todos os tipos

E também de impulsos se vive uma vida. Ressacas morais também servem para nos fazer pensar em como seria viver outra vida que não a nossa. Porque, convenhamos, só é ressaca quando não nos reconhecemos fazendo o que fizemos. E o que seria das nossas vidas sem o tempero das insanidades, quebrando os momentos de calma, a rotina, o mais do mesmo? Eu, por pensar demais, viveria numa cadeira, sentada, olhando para uma janela, vendo a vida dos outros passar e eu sem decidir fazer nada. Por medo, por tédio, por indecisão. Porque quase tudo, sempre tem dois lados. Por pensar demais, deixaria de viver.

Confesso que mesmo pensando demais em certas circunstâncias, penso pouco em outras. Talvez seja mesmo só um desequilíbrio, uma má distribuição de devaneios e pensamentos, em que a média continua alta mas completamente desequilibrada. Dispersão alta.

Os meus impulsos sempre surgem das minhas negações. Nego o que eu faria, boicoto um desvario. E nessas de me proibir, quebro minhas próprias regras e lá vou eu quebrar a cara. Confesso que sinto ressaca moral. Mas confesso só ao espelho. E dificilmente fico me maltratando por ter feito alguma coisa. O que está feito, está feito. Muitas vezes já sei que vou me arrepender até antes de começar alguma insanidade. Pois é, coisas de quem pensa demais. Até o impulso é, de certa forma, pensado. E nem assim deixo de vivê-lo.

Talvez não seja paradoxal. Talvez seja só eu mesma, um paradoxo. Mas a verdade é que eu penso melhor de ressaca - moral porque a alcoolica já é mais espaçada e ando bebendo menos.

Relendo pensamentos divididos no último final de semana e tentando encaixá-los nos últimos acontecimentos que me lembraram os meus 20 anos que não tive, percebi, mais uma vez, como as minhas fantasias se quebram feito cristal. Viram farelos ilumidados pelo sol, bem menos que pedaços sem sentido. Sempre me acostumei às minhas fantasias. Sempre vivi delas mas, hoje em dia, um pouco menos. Engraçado como em um dia eu me enxergo tão próxima, tão parecida de alguém e no outro dia já acho tudo muito diferente. Triste enxergar uma letra de Cazuza em alguém em um dia e no outro isso já não fazer mais sentido. Eu queria continuar pra sempre com os meus 20 anos: com as loucuras momentâneas e as minhas fantasias persistentes. Plástico imitando cristal, que era para não quebrar.

Já não tenho os meus 20 anos. São 20 e poucos agora. Mas a minha vida segue de loucuras e intensidades. Vidas em cinco minutos. E talvez um pouco mais de cinco para perceber o que eu realmente quero da minha vida inteira. O que eu espero do outro. Ando brincando de quebra-cabeça e tenho me surpreendido com a sensação e a euforia de juntar duas peças e elas fazerem sentido juntas, quando começam, então, a mostrar o início de um desenho, cores soprepostas.

Esses dias escutei de um menino que ele se divertia em sobrepor a minha imagem de menina boba e meiga à minha imagem de mulher sensual e independente. Fiquei pensando nas palavras dele e me perguntei quem eu era, lá no fundo. Talvez, para conseguir responder isso, eu devesse me perguntar que tipo de pessoa eu gostaria de ter do meu lado. Imaginei alguém que eu pudesse deitar no ombro e que me abraçasse e protegesse. Juntei com a ideia que sempre tive e que é sempre a minha resposta ilustrativa do que seria um relacionamento ideal para mim: "eu quero alguém que fique jogado comigo no sofá, rindo, conversando, vendo um filme e falando sobre coisas interessantes e que me olhe, em algum momento e, sem dizer nada, eu saiba que tudo o que ele queria era estar ali comigo".

Não cheguei a resposta alguma. Talvez eu tenha vivido só uma parte do que seria a minha ideia de relacionamento ideal. A parte ilustrativa, talvez. Mas sentimentos são muito mais que momentos ilustrativos.

Imagino que eu seja as duas pessoas numa só. Sou meiga, carente, romântica e tudo que eu quero é colo e ombro quando não estou bem. Todos os clichês "sessão da tarde". Preciso de um eixo que está fora de mim quando o meu próprio me falta. Mas sei que eu posso ser o eixo alheio também. Ser colo e ser cama. Talvez eu precise de alguém mais alto do que eu na horizontal e eu saiba que, na vertical, isso não faz diferença!

E foi bem no meio daquilo que se transformaria numa bela ressaca moral de segunda-feira percebi que não é paradoxal ser colo e ser cama. Que posso ser a menina meiga e viver no meu mundo cor-de-rosa e saber lidar com o mundo lá fora, que não é tão cor-de-rosa assim. Percebi, no meio do caos, para onde eu corro nos momentos em que me sinto acuada. Eram três: o desconhecido, o ideal e o parecido comigo. Corri para perto de mim mesma e percebi que além de ser a meiga e a forte, sou também aquela que questiona e se diverte em contrastar as outras duas. Eu me sentia protegida mesmo nos braços de quem era mais parecido comigo. Eu não estava brava, só estava com medo!

E na mesma noite, já em outra cama, escutei que - não por nada, é claro! - que o ideal preferia outros tipos de mulheres. Provavelmente aquelas que só existem no mundo das fantasias. Mulheres que se deixam ser protegidas, não no sentido de assumir seus medos e inseguranças mas no sentido de serem frágeis, ingênuas. Serem "menos" que ele. E talvez o ideal deixe de ser protetor para se sobrepor pela imagem que ele faz de quem ele busca ter ao lado dele. É triste e interessante o que senti quando escutei dele o que ele busca. De repente, desejávamos a mesma coisa. E deixamos de enxergar um no outro aquilo que desejamos só pelo fato de termos nos conhecido melhor. Negamos exatamente o outro por fantasiar da forma que fantasiamos. Só éramos interessantes aos olhos do outro enquanto estávamos suficientemente distantes e ainda éramos impossíveis e inalcansáveis.

Mas agradeço a ele por isso. Hoje gosto mais da minha realidade. Não sou quem eu gostaria de ter me tornado mas gosto o suficiente de ser quem eu me tornei. E é pra realidade que eu corro quando me sinto sem chão. Talvez não para o meu ideal de homem, o que só existe aos meus olhos. Eu corro para alguém parecido comigo, que talvez nem saiba, porque é inseguro como eu, que eu me sinto a menina mais boba e meiga nos braços dele e tenho certeza de que ali o mundo pode acabar que eu morrerei feliz.

Gostaria de ter escolhido um a ter escolhido tudo e, no fundo, continuar sem nada naquela noite. Na maioria das vezes deixamos de sentir o gosto dos cinco minutos de agora pensando nos cinco minutos seguintes. Olhamos só o que podemos ter e deixamos de aproveitar o que acabamos de conseguir. Por viver sempre nos próximos cinco minutos, esquecemos do agora. São cinco minutos perdidos e, em cinco minutos, se vive uma vida!

Eu trocaria todas as loucuras daquela noite para adormecer por cinco minutos na paz do nosso silêncio compartilhado. Não só a cama se divide. Mas precisava de todas as loucuras para saber do que era feita a minha realidade.

sábado, 9 de maio de 2009

Te deixo ir

Sem ressentimentos, te deixo ir.

Confesso que ameaço sentir frustração, um certo ar triste e morto, de quem quis - não muito, é verdade - e não enxergou possibilidade. E não falo sobre dias e dias seguidos, como quem quer construir algo, valores e lembranças. Pensava só em noites divertidas, conversas despretensiosas, horas a menos de sono. Gostos em comum. Um vinho a mais, o mesmo sofá.

Sem pretensão, te deixo ir.

Eu, que não chego a ficar triste. Não lamento, mal suspiro. De fato, espero pessoas que cruzam a minha vida para fazer diferença. Quase sempre, essas pessoas - as que cruzam a minha vida e não ficam - tem potencial para tal. Mas no mundo - e na vida - ninguém é nada só potencialmente.

A falta de uma notícia boa não chega a ser uma notícia ruim. Mas a falta - de sal ou de açúcar - traz um gosto estranho, insosso. Alheio.

E nisso de sobrar tanta falta para colorir até mesmo de fantasias a minha realidade, você se torna branco demais para contrastar com o meu branco e some.

Um vazio. E você vai. Já não preciso ou não deixar. E mais uma vida é vivida, em cinco minutos.

Te deixei ir. Sem me despedir...