sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Não é saudade

Você foi embora. E é tão estranho! Hoje acordei com vontade de chorar, mas o choro não vinha da tristeza. Não, não é tristeza, você sabe. É uma saudade sem pressa, uma despedida. Um sentimento de quem sabe que o outro não volta mais, que os caminhos já mudaram ou ainda precisam ser reinventados, que a vida é breve. Mas não é saudade. E nada precisa ser discutido, pensado junto.

Hoje acordei com vontade de chorar porque você foi embora e nem eu estou mais aqui. Já faz algum tempo que você foi, mas só senti hoje, pelo menos da forma que estou sentindo. Talvez eu tenha levado um tempo para perceber e só me despedi hoje de você, quando acordei.

Comecei a me despedir quando nos conhecemos, você lembra? Eu havia me despedido do meu antigo emprego, da vida que eu tinha pensado pra mim. Depois me despedi das minhas loucuras, das minhas crises obsessivas, das minhas fantasias. Você me via crua, despida das minhas máscaras e eu comecei a me ver assim também. Me despedi de quem eu pensei ser por quase toda uma vida e percebi o quanto era bom soltar o meu corpo para trás, de olhos fechados, sem saber o que aconteceria . E aí, quando restava bem pouco, você foi embora sem se despedir.

Como se você só tivesse aparecido pra me deixar livre, no sentido mais simples e belo da palavra. E talvez você tenha ido embora para que eu pudesse realmente sentir tudo isso. Hoje, você não está mais aqui. E eu acho que eu também não. Não há nada que me prenda a lugar nenhum. Nenhum sentimento que perdure, nenhuma fantasia, nada que eu realmente queira. Nenhuma pessoa ocupando espaço no meu coração. Nada. Não estou triste. E parece que a minha felicidade já é diferente do que foi um dia. Parece chegar sem fazer alarde e de forma constante. A vontade de chorar não passa. As lágrimas escorrem devagar, como se não tivessem pressa pra terminar. Talvez seja a forma que a minha alma encontrou de tomar um banho, bem demorado e tranquilo, já que agora tem espaço e o vazio é muito maior que já imaginei conseguir conviver.

Talvez minha vontade de chorar tenha vindo daí. De perceber que é possível abrir mão de tudo e continuar. Perceber a efemeridade das coisas. Perceber que nos apegamos por insegurança, medo, necessidade de auto-afirmação. Personificamos o que temos de pior e nos agarramos com todas as forças naquilo e ainda nos enganamos (e ao outro também!) chamando aquilo de amor, cuidado .Por isso eu sei que não é saudade. Não lamento nada que se foi.

Eu acho que talvez eu continue assim por algum tempo. Me estranhando, sem querer entender por fórmulas o que anda acontecendo comigo. Que permaneça só o vazio e todas as outras coisas continuem efêmeras. E talvez minha alma continue a se banhar, lavar os cantos. E eu continue a chorar sem pressa até dormir.