quinta-feira, 13 de maio de 2010

Durante a aula - Parte 1

Minha TPM sempre me deixou muito sensível. Digo, MUITO sensível. Porque muito sensível eu já sou nos dias mais comuns. Não no sentido de ser frágil, mas de não precisar de muito para me emocionar. Não precisa de muita coisa pra me fazer pensar em algo e, a partir disso, eu já expandir meus pensamentos em um milhão de outros sentimentos, costurar assuntos, enxergar novos caminhos.

Então, imaginem o que não vira esse meu traço de personalidade vivendo em outro país, experimentando outras culturas misturadas. Um milhão de estímulos novos e uma pessoa em especial canalisando e potencializando todas essas experiências, na figura de um professor. Além disso, misture TPM. É assim que eu estava hoje.

Todos os dias saio da aula um pouco transtornada. Hoje eu transbordei. O assunto da aula era: despedida. Me lembrei de como é difícil pra mim me despedir, de pessoas e de coisas. Abrir mão de algo. Penso que poderia ter poupado alguns sofrimentos - meus e, com certeza, de outras pessoas - se conseguisse continuar a minha vida deixando algumas coisas pra trás com mais facilidade.

Lembrei que 3 grandes amigos que fiz aqui já estão voltando para os seus países e senti saudades antecipada. Podemos nao perder contato, mas o que vivemos aqui, o que experimentamos juntos, não volta. Mas a vida segue. No fundo, sempre seremos sós. Lembrei daquilo tudo que já me despedi. Me despedi da casa dos meus pais, da minha posição de filha. Depois dos meus amigos de faculdade. De Porto Alegre, de um emprego e de uma vida financeira estável, de um salário bom. De um namoro falido acomodado. Me despedi do país que eu nasci e, daqui a pouco, vou ter que me despedir do lugar que mais aprendi a ficar bem comigo mesma, sem importar como e o que estava acontecendo. Eu sempre estou andando e deixando as coisas para trás. Por muitos motivos e até por motivo algum. Chega uma hora em que eu me despeço. Em silêncio, com lágrimas e soluços, sem querer me despedir, quando eu já sei que vou arrepender... milhares de formas possíveis e sentimentos misturados num mesmo gesto que significa sempre, muita coisa.

É claro que hoje eu sinto saudades dos meus pais, dos meus amigos. Sinto também muita saudades do meu apartamento e da comida. Mas é a primeira vez que experimento sentir o que estou sentindo aqui. É como se eu estivesse no meio de um furacão, sentada, parada. Como se tudo voasse, ventasse, e se tornasse uma enorme bagunça ao meu redor. Vento, chuva, pó, frio na minha pele. E, mesmo assim, estivesse tudo bem. Como se eu pudesse ficar ali sentindo tudo isso.

Depois de me emocionar e lembrar quantas vezes me despedi, percebi que, mesmo com dificuldades, eu consigo fazer. Consigo me despedir e, então, depois de feito, eu não lamento o que ficou pra trás. Sempre existe uma nova forma de viver a vida. Se adaptar com as faltas, com o vazio dos mesmos espaços que eram preenchidos. Talvez seja só uma impressão errada que eu tenho sobre eu mesma. No fundo, mesmo insegura, eu me despeço e sigo. Mesmo com dor, mesmo que algumas vezes eu pense que não possa suportar, eu ainda assim, faço.

Senti uma calma muito grande, senti paz em relação às minhas escolhas. Sorri ao perceber que nessas muitas vezes eu consegui me despedir... apesar da dor, apesar daconfusão, da solidão.

[continua...]

2 comentários:

  1. Mari querida, que lindas palavras!!!

    Ameeeei seu blog, vou passar a ser leitora pra matar a saudade de você!!! rsrs...

    Despedir é seguir o ciclo natural da vida pois, a única certeza que temos é que um dia ela acaba.. sendo assim, de uma forma ou de outra as coisas estão sempre começando e terminando.

    Fico muito feliz por saber que você está bem e que ficará bem por aqui, aproveite o amadurecimento que está sentindo e viva intensamente cada momento, mesmo que seja aquele em que você quer ficar em casa quietinha... até porque cada um tem o seu modo de viver intensamete!!!

    Te adoro muito!!!

    Beijo grande.

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  2. Hei, Maricota!

    Eu já falei isso em algum lugar e vou repetir aqui: sim, a vida é um alegre encontrar e despedir. Despedir-se do embrião para receber o feto, despedir-se da gravidez para receber a nova vida, despedir-se do velho e acomodado namoro para receber uma vida que se abre em turbilhão e novas possibilidades.

    A despedida nada mais é do que um ciclo. O que parte não se perde não. Faz a nós. Somos construídos do que já passou. É isso que somos.

    O porvir, as novas surpresas, os novos desafios, só existem porque aprendemos, por vezes a duras penas, com o que já passou, através das despedidas de nossas velhas carcaças.

    Imagine o que de pior te incomoda hoje. Despeça-se. O amanhã te trará um novo, em um degrau acima, porque nesse, você já pisou!

    Um beijo enorme!

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