sábado, 30 de julho de 2011

Do novo, do velho

Antes, eu ficava triste e escrevia. Eu lembro até hoje do meu primeiro diário, das cartas que eu nunca enviei para os caras que eu me apaixonava no final de semana, para odiá-los logo na quarta-feira da semana seguinte, quando eles não me ligavam depois de ter dado uns beijos no sábado à noite. Quarta-feira era sempre o dia crítico. Minha ansiedade ia no topo, eu só tenho dois irmãos mais novos, minha mãe sempre achou de uma falta de valores tremenda sair por aí beijando os outros sem um pedido de namoro formal e minhas amigas eram tão adolescentes quanto eu e dormiam à tarde inteira. Eu nunca fui de dormir à tarde. Eu nasci e cresci ligada nos 220V e nem sei como me transformei nessa pessoa lerda e improdutiva que sou hoje.

Aí eu ficava mal com o sumiço e o desinteresse alheio e escrevia. Escutava música, fechava a porta do quarto e escrevia. Escrevia até começar a chorar de ódio e soluçar, até doer o dedo ou dar o horário da aula do ballet. Escrevia porque eu sou verborrágica e tímida. Era o meio que eu encontrei para colocar pra fora o que eu sentia. Deve até ser por isso que eu não tenho problemas para falar da minha vida. Na verdade, acho que isso é só um dos motivos.

Quando se nasce, cresce e vive numa cidade do interior, você precisa aprender a lidar com isso. Não precisa ser famosinho, nem muito bonito, nem ter um blog famosinho na internet para que as pessoas saibam o que você fez no verão passado. Nem que você tomou um porre e disse que ia morrer, depois de ter ido pro banheiro vomitar as 4 doses de whisky que você tomou antes das 2 da manhã. Tudo bem que fofoca existe desde a época de Jesus Cristo. Mas viver e aproveitar sua adolescência numa cidade do interior requer habilidade e maturidade para lidar com fofocas e verdades que as pessoas falam da vida uns dos outros.

Mas não foi por isso que eu comecei a escrever esse texto, apesar de querer escrever, um dia, sobre todo o processo que me fez ser quem eu sou hoje. E como eu sinto saudade da vida que eu levava e como eu entendo bem hoje porque eu cuspi na cidade que eu cresci e sinto tanta saudade hoje. Hoje eu digo em alto e bom som que eu era feliz e não sabia. Mentira. Eu sabia. Mas achava que era pouco. Mas já mudei de opinião sobre o assunto. É, vira e mexe eu faço isso. Eu acho que posso ter mais do que eu já tenho. Que o hoje não é o suficiente. E esqueço de viver a vida agora sonhando lá longe, achando que o melhor ainda está por vir. Que o lugar que eu estou agora é o pior que eu poderia estar. A sensação de não pertencimento ao lugar que eu pertenço agora é forte e eu sempre quero sumir dali. Daqui. E foi assim todas as vezes que eu me mudei. Eu fugi daquela cidade do interior pra ir pra São Paulo. Fui engolida por muito tempo por aquele emaranhado de prédios, com ninguém se importando com a minha vida e tomando cuidado para não beber demais porque, ao contrário do que acontecia lá na cidade dos 3 S’s, ninguém nem notaria se eu já estivesse só com ¼ da minha consciência às duas da manhã. Aí foi a vez de fugir para o Sul, como a música dizia: vou pra Porto Alegre, tchau. Fui ser feliz mas não via a hora de voltar nos primeiros seis meses, apesar de ter me acostumado e gostado da vida por um bom tempo. Mais uma vez, fugi novamente para Toronto, onde senti mais ou menos o que senti em Porto Alegre. E é quando eu percebi que não importa muito onde você esteja para ser feliz ou triste. Não importa se as pessoas falam ou não de você, se sua vida é vivida dentro de bares ou bibliotecas. Tudo o que acontece de verdade está do lado de dentro e como você coloca isso pra fora. Não importa se você confia ou não em que está ao seu lado ou pelas suas costas. E, por fim, eu fugi pra Buenos Aires.

E hoje deu vontade de escrever. Como eu escrevia aos 17 anos. Sem pensar muito mas suspirando muito pra tentar encher o que anda tão vazio. Tentando colocar pra fora o que eu não sei muito bem como organizar, se não, escrevendo.

[E, de repente, deu uma vontade enorme de sair por aí, vivendo da forma que eu vivia aos 17 anos. Voltando pra onde eu cresci. Sem ter que sair daqui.]

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