Antes, eu ficava triste e escrevia. Eu lembro até hoje do meu primeiro diário, das cartas que eu nunca enviei para os caras que eu me apaixonava no final de semana, para odiá-los logo na quarta-feira da semana seguinte, quando eles não me ligavam depois de ter dado uns beijos no sábado à noite. Quarta-feira era sempre o dia crítico. Minha ansiedade ia no topo, eu só tenho dois irmãos mais novos, minha mãe sempre achou de uma falta de valores tremenda sair por aí beijando os outros sem um pedido de namoro formal e minhas amigas eram tão adolescentes quanto eu e dormiam à tarde inteira. Eu nunca fui de dormir à tarde. Eu nasci e cresci ligada nos 220V e nem sei como me transformei nessa pessoa lerda e improdutiva que sou hoje.
Aí eu ficava mal com o sumiço e o desinteresse alheio e escrevia. Escutava música, fechava a porta do quarto e escrevia. Escrevia até começar a chorar de ódio e soluçar, até doer o dedo ou dar o horário da aula do ballet. Escrevia porque eu sou verborrágica e tímida. Era o meio que eu encontrei para colocar pra fora o que eu sentia. Deve até ser por isso que eu não tenho problemas para falar da minha vida. Na verdade, acho que isso é só um dos motivos.
Quando se nasce, cresce e vive numa cidade do interior, você precisa aprender a lidar com isso. Não precisa ser famosinho, nem muito bonito, nem ter um blog famosinho na internet para que as pessoas saibam o que você fez no verão passado. Nem que você tomou um porre e disse que ia morrer, depois de ter ido pro banheiro vomitar as 4 doses de whisky que você tomou antes das 2 da manhã. Tudo bem que fofoca existe desde a época de Jesus Cristo. Mas viver e aproveitar sua adolescência numa cidade do interior requer habilidade e maturidade para lidar com fofocas e verdades que as pessoas falam da vida uns dos outros.
Mas não foi por isso que eu comecei a escrever esse texto, apesar de querer escrever, um dia, sobre todo o processo que me fez ser quem eu sou hoje. E como eu sinto saudade da vida que eu levava e como eu entendo bem hoje porque eu cuspi na cidade que eu cresci e sinto tanta saudade hoje. Hoje eu digo em alto e bom som que eu era feliz e não sabia. Mentira. Eu sabia. Mas achava que era pouco. Mas já mudei de opinião sobre o assunto. É, vira e mexe eu faço isso. Eu acho que posso ter mais do que eu já tenho. Que o hoje não é o suficiente. E esqueço de viver a vida agora sonhando lá longe, achando que o melhor ainda está por vir. Que o lugar que eu estou agora é o pior que eu poderia estar. A sensação de não pertencimento ao lugar que eu pertenço agora é forte e eu sempre quero sumir dali. Daqui. E foi assim todas as vezes que eu me mudei. Eu fugi daquela cidade do interior pra ir pra São Paulo. Fui engolida por muito tempo por aquele emaranhado de prédios, com ninguém se importando com a minha vida e tomando cuidado para não beber demais porque, ao contrário do que acontecia lá na cidade dos 3 S’s, ninguém nem notaria se eu já estivesse só com ¼ da minha consciência às duas da manhã. Aí foi a vez de fugir para o Sul, como a música dizia: vou pra Porto Alegre, tchau. Fui ser feliz mas não via a hora de voltar nos primeiros seis meses, apesar de ter me acostumado e gostado da vida por um bom tempo. Mais uma vez, fugi novamente para Toronto, onde senti mais ou menos o que senti em Porto Alegre. E é quando eu percebi que não importa muito onde você esteja para ser feliz ou triste. Não importa se as pessoas falam ou não de você, se sua vida é vivida dentro de bares ou bibliotecas. Tudo o que acontece de verdade está do lado de dentro e como você coloca isso pra fora. Não importa se você confia ou não em que está ao seu lado ou pelas suas costas. E, por fim, eu fugi pra Buenos Aires.
E hoje deu vontade de escrever. Como eu escrevia aos 17 anos. Sem pensar muito mas suspirando muito pra tentar encher o que anda tão vazio. Tentando colocar pra fora o que eu não sei muito bem como organizar, se não, escrevendo.
[E, de repente, deu uma vontade enorme de sair por aí, vivendo da forma que eu vivia aos 17 anos. Voltando pra onde eu cresci. Sem ter que sair daqui.]
sábado, 30 de julho de 2011
sábado, 9 de julho de 2011
Amor em axiomas
Estava agorinha mesmo conversando com um amigo, que já foi um grande amor e terminou porque... bem, sei lá porque terminou. Acho que foi porque nunca começou de verdade e, olha, ainda bem que foi assim. Porque até mesmo homens entram na minha vida pra serem só amigos. E a maioria deles é assim mesmo.
Estávamos lá na janelinha, batendo papo, eu dizendo que estava pensando em ir pra cidade que ele está morando. Não por causa dele, mas pela cidade mesmo, que eu sempre quis conhecer. E ele vira e diz que não era para eu esperar que nos encontrássemos. Eu não entendi direito e perguntei, já que não nos vemos a uma eternidade e não é todo dia que eu pego o pau de arara e vou pra Nova Iorque. Aí ele me explica que ele não sai assim sozinho mais com meninas, mesmo que não exista nenhuma intenção de ambas as partes. Que agora ele só sai sozinho mesmo com a namorada dele.
Dizer o que depois disso, não é? Continuamos conversando, eu tentei dizer que a intenção não era encontrá-lo sozinho e ele me fez entender que o fato era de que ele não interagia com mulheres sem a presença da digníssima namorada, que aliás, nem lá mora. E ele disse que eu, no lugar dela, iria pensar o mesmo. Que também não iria gostar de saber que o meu namorado saísse na companhia de outras mulheres.
Parei, pensei, me coloquei no lugar dela. Me coloquei no lugar dele. E mesmo assim as coisas não fizeram sentido. Ele tentou me explicar que não quer perder o foco que tem na namorada, que sair com meninas é perder o foco. Me disse que amor é esforço.
Concordo com a parte do esforço. Mas não acho que seja só isso. Acredito mais que amor seja disponibilidade e vontade. Esforço carrega um peso desnecessário à boa convivência e boa vontade em estar junto de quando duas pessoas se amam. Acho que impor regras para que um bom relacionamento aconteça é limitar, forçar o que deveria ser natural.
Aí ele me mandou várias passagens de textos de escritores famosos. Como se aquilo corroborasse os axiomas que ele tentou me fazer engolir, sem provas. E vejo que até grandes escritores tentaram definir regras, delimitar o amor através de definições, como se fosse possível. Eu devo ser ingênua mesmo de pensar que não existe nada de mal em sair por aí com pessoas de outro sexo, sem me preocupar que possa acontecer algo com o meu namorado ou que eu vá me jogar nos braços de um cara e trocá-lo assim. Claro que eu gosto de ser a companhia preferencial do cara que me escolheu como namorada. Assim como eu também quero ter um namorado como companhia preferencial. Mas preferência não gera excludência.
Mas sei lá. Sorte a dele. Pelo menos ele tem uma namorada e ela tem um namorado. E que eles criem regras juntos. No fundo, não deixa de ser bonito ver duas pessoas decidindo juntas e defendendo uma a outra em relação à regras que eles criam juntos, com tanta peculiaridade. Deve ser por isso que eu ainda estou sozinha. Imagina ter que abrir mão de conviver com amigos que chegam na minha cidade sem poder vê-los sem a companhia de um general do meu lado.
Estávamos lá na janelinha, batendo papo, eu dizendo que estava pensando em ir pra cidade que ele está morando. Não por causa dele, mas pela cidade mesmo, que eu sempre quis conhecer. E ele vira e diz que não era para eu esperar que nos encontrássemos. Eu não entendi direito e perguntei, já que não nos vemos a uma eternidade e não é todo dia que eu pego o pau de arara e vou pra Nova Iorque. Aí ele me explica que ele não sai assim sozinho mais com meninas, mesmo que não exista nenhuma intenção de ambas as partes. Que agora ele só sai sozinho mesmo com a namorada dele.
Dizer o que depois disso, não é? Continuamos conversando, eu tentei dizer que a intenção não era encontrá-lo sozinho e ele me fez entender que o fato era de que ele não interagia com mulheres sem a presença da digníssima namorada, que aliás, nem lá mora. E ele disse que eu, no lugar dela, iria pensar o mesmo. Que também não iria gostar de saber que o meu namorado saísse na companhia de outras mulheres.
Parei, pensei, me coloquei no lugar dela. Me coloquei no lugar dele. E mesmo assim as coisas não fizeram sentido. Ele tentou me explicar que não quer perder o foco que tem na namorada, que sair com meninas é perder o foco. Me disse que amor é esforço.
Concordo com a parte do esforço. Mas não acho que seja só isso. Acredito mais que amor seja disponibilidade e vontade. Esforço carrega um peso desnecessário à boa convivência e boa vontade em estar junto de quando duas pessoas se amam. Acho que impor regras para que um bom relacionamento aconteça é limitar, forçar o que deveria ser natural.
Aí ele me mandou várias passagens de textos de escritores famosos. Como se aquilo corroborasse os axiomas que ele tentou me fazer engolir, sem provas. E vejo que até grandes escritores tentaram definir regras, delimitar o amor através de definições, como se fosse possível. Eu devo ser ingênua mesmo de pensar que não existe nada de mal em sair por aí com pessoas de outro sexo, sem me preocupar que possa acontecer algo com o meu namorado ou que eu vá me jogar nos braços de um cara e trocá-lo assim. Claro que eu gosto de ser a companhia preferencial do cara que me escolheu como namorada. Assim como eu também quero ter um namorado como companhia preferencial. Mas preferência não gera excludência.
Mas sei lá. Sorte a dele. Pelo menos ele tem uma namorada e ela tem um namorado. E que eles criem regras juntos. No fundo, não deixa de ser bonito ver duas pessoas decidindo juntas e defendendo uma a outra em relação à regras que eles criam juntos, com tanta peculiaridade. Deve ser por isso que eu ainda estou sozinha. Imagina ter que abrir mão de conviver com amigos que chegam na minha cidade sem poder vê-los sem a companhia de um general do meu lado.
domingo, 3 de julho de 2011
Dias que eu odeio BsAs
Tem momentos que eu odeio morar em Buenos Aires. E tem dias inteiros que eu também odeio. Hoje eu odiei Buenos Aires e resolvi voltar cedo pra casa porque parecia que duas horas a mais na rua, eu voltaria mesmo pra casa só pra arrumar as malas e voltar pro Brasil. Porque podem dizer o que for de São Paulo, mas é pra lá que eu sempre volto e que eu sempre me sinto em casa.
Primeiro eu achei que era a língua que me atrapalhava aqui. O fato de não conseguir se comunicar direito sempre me trouxe desconforto. Mas hoje, depois de 4 meses, eu até que eu já me viro bem, mesmo estando longe de ter um espanhol fluente. Mas não falo português esperando que as pessoas me entendam, acho de muito mal gosto esperar que as pessoas entendam a sua língua quando você está no país delas.
E eis que eu acordei hoje decidida a ir ao cinema. Porque faz 4 meses que eu não vejo um filme numa tela grande e isso nunca aconteceu. Nem em Toronto, quando eu ia ao cinema e saía com dor de cabeça e cansada, logo no meu primeiro mês, que eu perdia vários diálogos inteiros por falta de legenda. Então eu fui, entrei no metrô que graças ao frio e ao horário - antes das 15:00 - é bem mais vazio e civilizado que nos dias de semana. Fui morrendo de medo de que as pessoas, na hora de comprar o ingresso, também não fizesse fila.
Pois é, as pessoas aqui tem uma dificuldade enorme de entender que é de bom tom deixar com que quem chegou antes, entre antes. Seja no supermercado, no metrô, no restaurante self-service, naquele bistrô chique que você se dá ao luxo de ir uma vez por mês, logo que recebe o salário. Tudo bem que paulistano adora uma fila. Não pode ver uma que já vai entrando. Deve ser por isso que ando enlouquecendo aqui pela falta de organização para se conviver em meio ao caos.
Cheguei ao cinema e tinha uma fila. Fiquei até feliz, mesmo que fosse uma fila enorme. E eis que anunciam que todos os horários da tarde estavam esgotados. Senti raiva. Mas não sei por que, senti raiva de estar aqui. Senti raiva de que, às vezes, é difícil se acostumar com peculiaridades simples de uma cultura. Sabe, às pessoas tem mania de dizer que brasileiro adora dar uma de esperto, de dizer que adora tirar uma vantagem. Mas olha, eu nunca vi gente pra querer tirar vantagem como os portenhos. Pra vocês terem uma ideia, a galera pega o metrô no sentido oposto pra sentar. Aí sentam, esperam o trem ir no sentido oposto e enfiam a cara num livro e não levantam nem pra uma grávida de oito meses sentar. Tudo bem, eu já vi isso acontecer em São Paulo, mas não desse jeito.
Depois que eu saí frustrada no cinema, eu fui numa praça de alimentação de um shopping ao lado. Shopping grande, no meio de Palermo. Peguei um sanduíche e fui atrás de uma mesa. Eu estava lá, com uma bandeja, já pronta pra sentar, andando em direção a uma mesa vazia. E um casal de uns 50 e poucos anos saiu correndo e pegou a mesa. Aí eu coloquei a bandeja em cima da mesa para me ajeitar e eles quase foram pra cima de mim, dizendo que a mesa estava ocupada. Eu pedi desculpa dizendo que, mesmo que eles não estivessem nem com a comida ainda, eu só estava me ajeitando, que minha bolsa estava caindo e eu já ia sair dali. Terminei de almoçar em outro lugar e quando passei por eles, eles só tinham ocupado uma das duas mesas.
Depois disso resolvi bater perna no shopping, coisa que eu odeio fazer com todas as minhas forças. Resolvi entrar na Zara porque estava precisando dessas camisetas de usar por baixo das malhas, porque esfriou muito e eu não sou acostumada a andar agasalhada desse jeito. Peguei o que eu precisava e fui ao caixa pagar, entrei na fila. Antes de conseguir pagar uma mulher entrou na minha frente, claro. Porque, como eu disse, o conceito de fila é desconhecido nesse lugar. A mulher pagou, enrolou um montão e chegou minha vez. Dei meu cartão de débito e o meu documento brasileiro, como eu sempre faço nos poucos lugares que aceitam cartão de débito aqui. E a mulher disse que eu não poderia pagar com aquele cartão por ser de uma conta argentina, apresentando um documento brasileiro, mesmo que claramente eu fosse a mesma pessoa. Expliquei pra ela que eu não precisei de um documento argentino para abrir a conta e ela nem quis ouvir. Disse que não ia aceitar e "listo". Assim, desse jeito.
Resolvi ir embora pra casa antes que eu começasse a distribuir violência e palavras baixas de graça. Bem, não tão de graça... Não estou dizendo que Brasil é melhor que Argentina, nem nada. Mas tem coisas que eu não consigo me acostumar, como ser tratada mal nos lugares, ser atropelada no meio da rua por pessoas ansiosas que não admitem esperar alguém que está logo à frente, pelo fato dela ter simplesmente ter chegado primeiro, e de ser surpreendida por regras que não existem. Eu nunca tive problemas antes pra usar um cartão de débito, desde que apresentasse um documento. Aposto que se fosse pagar em dólar, ninguém ia achar ruim aqui.
Por enquanto, a parte legal de morar em Buenos Aires foi conhecer pessoas que não eram daqui. Hoje mesmo, voltando pra casa, conheci dois indianos que estavam perdidos, quando dois portenhos riam da cara deles por não entender uma palavra de inglês. Eu me aproximei e ofereci ajuda e os deixei na estação de metrô que eles estavam querendo chegar. E lembrei, uma vez, de uma menina em São Paulo, no meio da Avenida Paulista, que tentava entender o que um americano tentava perguntar para ajudá-lo.
Desculpa, mas ainda não consigo sentir orgulho e dizer que eu moro em Buenos Aires. Por enquanto, vou levando do jeito que dá, tentando manter a paciência e aceitando as diferenças culturais. Mesmo sem contar os dias pra ir embora, já é isso que eu quero. Pelo menos por hoje.
Primeiro eu achei que era a língua que me atrapalhava aqui. O fato de não conseguir se comunicar direito sempre me trouxe desconforto. Mas hoje, depois de 4 meses, eu até que eu já me viro bem, mesmo estando longe de ter um espanhol fluente. Mas não falo português esperando que as pessoas me entendam, acho de muito mal gosto esperar que as pessoas entendam a sua língua quando você está no país delas.
E eis que eu acordei hoje decidida a ir ao cinema. Porque faz 4 meses que eu não vejo um filme numa tela grande e isso nunca aconteceu. Nem em Toronto, quando eu ia ao cinema e saía com dor de cabeça e cansada, logo no meu primeiro mês, que eu perdia vários diálogos inteiros por falta de legenda. Então eu fui, entrei no metrô que graças ao frio e ao horário - antes das 15:00 - é bem mais vazio e civilizado que nos dias de semana. Fui morrendo de medo de que as pessoas, na hora de comprar o ingresso, também não fizesse fila.
Pois é, as pessoas aqui tem uma dificuldade enorme de entender que é de bom tom deixar com que quem chegou antes, entre antes. Seja no supermercado, no metrô, no restaurante self-service, naquele bistrô chique que você se dá ao luxo de ir uma vez por mês, logo que recebe o salário. Tudo bem que paulistano adora uma fila. Não pode ver uma que já vai entrando. Deve ser por isso que ando enlouquecendo aqui pela falta de organização para se conviver em meio ao caos.
Cheguei ao cinema e tinha uma fila. Fiquei até feliz, mesmo que fosse uma fila enorme. E eis que anunciam que todos os horários da tarde estavam esgotados. Senti raiva. Mas não sei por que, senti raiva de estar aqui. Senti raiva de que, às vezes, é difícil se acostumar com peculiaridades simples de uma cultura. Sabe, às pessoas tem mania de dizer que brasileiro adora dar uma de esperto, de dizer que adora tirar uma vantagem. Mas olha, eu nunca vi gente pra querer tirar vantagem como os portenhos. Pra vocês terem uma ideia, a galera pega o metrô no sentido oposto pra sentar. Aí sentam, esperam o trem ir no sentido oposto e enfiam a cara num livro e não levantam nem pra uma grávida de oito meses sentar. Tudo bem, eu já vi isso acontecer em São Paulo, mas não desse jeito.
Depois que eu saí frustrada no cinema, eu fui numa praça de alimentação de um shopping ao lado. Shopping grande, no meio de Palermo. Peguei um sanduíche e fui atrás de uma mesa. Eu estava lá, com uma bandeja, já pronta pra sentar, andando em direção a uma mesa vazia. E um casal de uns 50 e poucos anos saiu correndo e pegou a mesa. Aí eu coloquei a bandeja em cima da mesa para me ajeitar e eles quase foram pra cima de mim, dizendo que a mesa estava ocupada. Eu pedi desculpa dizendo que, mesmo que eles não estivessem nem com a comida ainda, eu só estava me ajeitando, que minha bolsa estava caindo e eu já ia sair dali. Terminei de almoçar em outro lugar e quando passei por eles, eles só tinham ocupado uma das duas mesas.
Depois disso resolvi bater perna no shopping, coisa que eu odeio fazer com todas as minhas forças. Resolvi entrar na Zara porque estava precisando dessas camisetas de usar por baixo das malhas, porque esfriou muito e eu não sou acostumada a andar agasalhada desse jeito. Peguei o que eu precisava e fui ao caixa pagar, entrei na fila. Antes de conseguir pagar uma mulher entrou na minha frente, claro. Porque, como eu disse, o conceito de fila é desconhecido nesse lugar. A mulher pagou, enrolou um montão e chegou minha vez. Dei meu cartão de débito e o meu documento brasileiro, como eu sempre faço nos poucos lugares que aceitam cartão de débito aqui. E a mulher disse que eu não poderia pagar com aquele cartão por ser de uma conta argentina, apresentando um documento brasileiro, mesmo que claramente eu fosse a mesma pessoa. Expliquei pra ela que eu não precisei de um documento argentino para abrir a conta e ela nem quis ouvir. Disse que não ia aceitar e "listo". Assim, desse jeito.
Resolvi ir embora pra casa antes que eu começasse a distribuir violência e palavras baixas de graça. Bem, não tão de graça... Não estou dizendo que Brasil é melhor que Argentina, nem nada. Mas tem coisas que eu não consigo me acostumar, como ser tratada mal nos lugares, ser atropelada no meio da rua por pessoas ansiosas que não admitem esperar alguém que está logo à frente, pelo fato dela ter simplesmente ter chegado primeiro, e de ser surpreendida por regras que não existem. Eu nunca tive problemas antes pra usar um cartão de débito, desde que apresentasse um documento. Aposto que se fosse pagar em dólar, ninguém ia achar ruim aqui.
Por enquanto, a parte legal de morar em Buenos Aires foi conhecer pessoas que não eram daqui. Hoje mesmo, voltando pra casa, conheci dois indianos que estavam perdidos, quando dois portenhos riam da cara deles por não entender uma palavra de inglês. Eu me aproximei e ofereci ajuda e os deixei na estação de metrô que eles estavam querendo chegar. E lembrei, uma vez, de uma menina em São Paulo, no meio da Avenida Paulista, que tentava entender o que um americano tentava perguntar para ajudá-lo.
Desculpa, mas ainda não consigo sentir orgulho e dizer que eu moro em Buenos Aires. Por enquanto, vou levando do jeito que dá, tentando manter a paciência e aceitando as diferenças culturais. Mesmo sem contar os dias pra ir embora, já é isso que eu quero. Pelo menos por hoje.
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