Ano passado, no final de setembro, escrevi um texto para o Papo de Homem. Esse aqui. O texto abaixo foi o texto que deu origem ao que está lá. Publiquei aqui porque também gostava desta versão.
Entrei na faculdade com os meus míseros 18 anos, sem ter a menor noção do que eu queria da minha vida. Achava que queria fazer Administração numa faculdade difícil, mas no fundo eu queria mesmo sair da casa dos meus pais e vir morar em São Paulo e fazer cursinho era um ótimo pretexto na época.
Depois de um ano, percebi que não conseguiria passar por aquelas aulas de novo, caso o pior acontecesse, e resolvi prestar economia também, com o intuito de pedir transferência interna. Era uma forma de eu diminuir a chance do pior cenário acontecer, já que economia era bem pouco concorrido. Mais tarde eu aprenderia que economia também fala muito disso: incertezas e retorno esperado.
E adivinhem? Passei no vestibular, só pra economia. Escutei muito da minha mãe que isso era profissão de homem, com perfil competitivo e que gostam de números e que eu não serviria nunca pra isso. Se fosse assim, eu não serviria mesmo. Mas eu fui. O meu custo emocional de continuar no cursinho sem nenhuma certeza era muito alto. Eu preferi continuar na minha estratégia: a da transferência. Até que eu tive a primeira aula de economia.
Eu nunca tinha aberto um jornal na seção financeira na minha vida. Achava chato, não entendia nada e muito menos me sentia encantada pelo assunto. Pois é, o que mesmo eu estava fazendo ali? Até que a criatura que estava em pé na minha frente, conhecido como “professor”, vira e fala o seguinte: tudo na vida é economia. Dá pra se aplicar economia em qualquer coisa que você queira.
Resolvi prestar atenção na aula a partir desse momento, duvidando e torcendo o nariz. Na minha cabeça já pensei: “nerd maldito, nunca deve ter comido alguém na vida dele e muito menos ter sofrido um pé na bunda”. É, eu era meio rebelde e cética com os meus digníssimos 18 anos. Acabei mudando de idéia sobre transferir meu curso pra administração depois das aulas daquele “nerd maldito” quando percebi que ele tinha razão.
Naquelas aulas aprendi que as escolhas da nossa vida sempre irão envolver custos de oportunidade. Custo de oportunidade é tudo aquilo que você abre mão de fazer para fazer outra coisa. Por exemplo, quando você começa a namorar, o seu custo de oportunidade em namorar é abrir mão de ficar com todas as outras mulheres bonitas e interessantes que você poderia ficar caso não estivesse namorando. Ótimo, eu estava começando a entender do que economia se tratava.
Para cada uma das coisas que você escolhe, você está deixando de escolher milhares de outras. Não poderia ser diferente considerando que os recursos são escassos. E o que isso significa? Significa que você tem restrições na sua vida: sua renda não é infinita; seu dia só tem 24 horas; você não consegue assistir um filme pornô, a final do campeonato e aquela comédia romântica com a sua namorada, tudo ao mesmo tempo; você não consegue transar com a loira, a morena e a ruiva ao mesmo tempo. Ok, talvez você consiga, mas com 10 de cada uma você seria um homem morto (ou Deus!). Pois é, entendi e aceitei que ninguém pode ter tudo na vida!
E é por isso que tempo é dinheiro! O tempo que você destina para fazer atividades não remuneradas você poderia estar destinando para fazer atividades remuneradas e ganhar dinheiro. Então, você pode ter uma medida monetária para os seus custos de oportunidade se você calcular o quanto você ganha por hora no seu trabalho. E mostrar pra sua namorada da próxima vez que ela quiser te fazer andar uma tarde inteira de sábado num shopping lotado. Se ela te pagar mais que o seu custo de oportunidade, andar no shopping é um bom negócio!
Economistas veem mercados se movimentando em qualquer lugar. Quem nunca escutou por aí um amigo dizendo “Voltei pro mercado”, logo depois de ter terminado um relacionamento? Oferta e demanda por homens bonitos e interessantes. Quanto mais características específicas e mais desejadas são estas características por todas as outras mulheres, menor a quantidade disponível no mercado e maior o preço. Lei da oferta e da demanda equilibrando o mercado!
Economistas também assumem que as pessoas tomam decisão comparando o benefício marginal com o custo marginal. Isso só quer dizer que você pensa nos retornos – monetários e não monetários – e naquilo que você vai ganhar, ficar mais satisfeito e compara com os custos que você terá em tomar aquela decisão, ou seja, o seu custo de oportunidade. Se os custos daquela decisão forem maiores que os benefícios que aquilo te trará, você esquece, parte pra outra. Por exemplo, eu poderia correr atrás do Brad Pitt, porque o meu benefício de tirar uma lasquinha dele seria enorme. Mas o custo é muito alto... Vou perder meu tempo com outra coisa. A mesma coisa acontece quando você está saindo com aquela mulher perfeita e quase nunca disponível: você continua a ligar pra ela até o momento que o que você ganha com isso ainda é maior do que o tempo que você perde indo atrás dela. Se você colocar uma segunda mulher na história, percebe que o seu custo de oportunidade de continuar indo atrás da primeira aumenta? Antes você não tinha nada a perder, agora você pode estar deixando de sair com a segunda.
Isso também explica por que vira e mexe acontece aquela coisa de você ficar com a primeira que aparecer na sua frente lá pelas 3 da manhã, no final da balada. Não é só pelo álcool, tenho certeza! Às 3 da manhã você já não tem quase nada a perder, seu custo de oportunidade é muito baixo.
Então, você começa a namorar quando a sua utilidade esperada em namorar é maior que a sua utilidade esperada em continuar solteiro. Utilidade esperada nada mais é que o grau de satisfação do benefício que aquilo te gera, levando em consideração as incertezas que podem surgir pelo caminho: pode aparecer outro cara melhor que você que ela queira assumir os riscos ou o custo de continuar o namoro começa a ficar alto demais e o benefício baixo demais. E a mesma coisa acontece com casamento.
Procurar por uma namorada ou uma esposa é bem parecido com o processo de procurar um emprego. Não existe um emprego perfeito, mas claramente existem empregos melhores e piores para você. Quando você para de procurar? Quando o que você tem na mão é melhor do que provavelmente tem no resto do mercado. Mas você nunca terá certeza, é claro. E é por isso que você para de procurar: o custo de continuar procurando se torna alto demais diante do que você já tem nas mãos.
Casamento não é nada além do que um contrato de duração infinita onde as partes envolvidas têm a opção de termino, talvez com penalidade. E por que as pessoas se casam se não por amor? Porque as pessoas acreditam que os retornos que terão investindo naquela relação compensam os custos de oportunidade em assinar um contrato com aquelas especificações.
Então, todas as suas escolhas são as melhores no momento em que você as faz. Mas a vida é cheia de incertezas e muda tudo muito rápido pra você tentar saindo por aí fazendo previsões. Não que economistas não gostem, eles adoram! Mas eles sempre dirão que existe certa probabilidade das coisas acontecerem de forma diferente. E aí está a graça da coisa.
Pois é, essa coisa de ver mercados se movimentando em qualquer lugar às vezes atrapalha quando aquele amigo tenta me apresentar o amigo dele. A maioria das pessoas acha que essa coisa de ver mercados por aí é coisa de esquizofrênica ou efeito de alguma droga forte. Mas eu ainda acho alguma graça em sair por aí fazendo relações dos conceitos econômicos com aquilo que aparece pelo meu caminho. E tentando explicar o que a maioria das minhas amigas define como paixão e dizem que não tem explicação.
Lindo é amar a profissão! Como eu procuro isso!
ResponderExcluirConfesso que me senti de maneira parecida... mas, errei na escolha da faculdade, só me encontrei agora, quando decidi fazer Jornalismo. Agora sim!
Quanto à Economia, tinha o mesmo preconceito. Ainda tenho um pouco. Mas, foi só quando comecei a ter aulas (nas duas faculdades, por incrível que pareça, ao mesmo tempo) que que percebi que esse troço pode ser muito legal. E explica muita coisa. Muita.
- Mas eu ainda tenho problema com números...