terça-feira, 11 de agosto de 2009

De verdade

Quando é de verdade, você não precisa mais ficar colocando no outdoor, demarcando território, gritando aos quatro ventos o quanto realmente vocês se amam e como tudo isso é perfeito. No começo, você sente aquela ansiedade, ainda existe o encantamento, e realmente é isso que você faz. Você fala sem parar, repete milhares de vezes as mesmas coisas sobre o novo amor da sua vida. Para os seus amigos, no twitter, no orkut dele e de todas as suas amigas. Para você.

Só para você. No fundo, você é a pessoa mais insegura do mundo e repete incansavelmente na sua mente, em voz alta, em negrito e em caps lock, pra se convencer. Para tentar acabar com a sua insegurança. Para não pensar no "se" e nas milhares de hipóteses negativas que surgem. Aí você abafa a parte negativa, grita o "tudo de bom que a sua vida se transformou depois do Fulano" e vive feliz pra sempre.

Olha, você não precisa sair espalhando por aí a sua felicidade. Pode ser pior depois. As pessoas já sabem que vocês foram feitos um para o outro e, sério, isso só é importante para vocês dois. Nada mudou na vida das outras pessoas porque agora você anda com cara de boba alegre e tem alguém que anda com cara de bobo alegre por sua causa.

Quando é de verdade, você percebe desde o começo que encantamento - as tais borboletas no estômagos - não passa de azia ou, na melhor das hipóteses, fome. No máximo, é alguma coisa em você tentando te avisar para tomar cuidado porque "ali tem". Quando é de verdade, não existe nenhuma borboleta. Você vai andando, com os pés no chão, talvez na ponta deles: o calcanhar sai do chão, mas a metade de cada um deles continua ali, bem firmes.

Não estou defendendo relacionamentos mornos, sem sentimento. Sentimento é diferente de encantamento. Eu também já confundi muito um com o outro, mas quando é de verdade, fica mais fácil separar. Para sentir e conseguir permanecer ao lado de alguém você precisa ter coragem. Coragem pra viver na realidade e da realidade. Vocês não são tão felizes juntos que se bastam. No meio disso tudo tem chefe, horários loucos, família, prioridades, pensamentos e valores que irão se confrontar vez ou outra e que irão conviver respeitando-se, com humor ou na falta dele.

Para que vocês se conheçam de verdade, vai demorar um tempo. Não 1 mês, nem 1 ano. Um tempo. Para duas pessoas se conhecerem precisa de tempo para convivência, dormir na mesma cama e conseguir olhar um pra cara do outro na manhã seguinte e conseguir se divertir com o mau-humor ou o bom-humor que o outro acorda, dependendo de qual lado você está. E pra conviver é preciso de coragem. Coragem e paciência, pra quando falta a coragem. Você tem que conseguir respirar fundo e contar até dez. Precisa de bom-humor para saber que nada nessa vida tem dois lados bons sempre. Saber que é na diferença que se cresce, que vocês podem brigar de vez em quando mas, ainda assim, você quer continuar ao lado dele por um motivo maior. Ainda vale a pena.

Você não conhece ninguém ainda antes da primeira briga, do primeiro stress, antes de saber qual parte dele é diferente da sua. Antes de saber se ele é capaz de gritar com você ou simplesmente sumir, dizendo que não se importa, ou se ficará em silêncio por 10 segundos antes de segurar a sua mão e olhar no fundo dos seus olhos. Não é de verdade quando você acha que só você o conhece ou que só ele te conhece, ou ainda que só vocês sabem. Ah, existe tanta gente na vida de cada um de vocês capaz de descreve-los de milhares de formas e cores! Só é de verdade quando vocês enxergam a possibilidade de prepotência conjunta e percebem que milhares de pessoas podem, e vivem, algo que vocês dois estão experimentando só agora juntos. Que as situações são sempre as mesmas, que as pessoas, mesmo sendo únicas, se parecem bastante umas com as outras. E nada é assim tão perfeito, ou tão único, que não possa acabar amanhã.

Você sabe que é de verdade quando consegue considerar a possibilidade de estar ao lado de milhares de pessoas parecidas com aquela que está do seu lado - e algumas até melhores - mas, ainda assim, sem explicar muito, você permanece onde está. Sabe que a vida é feita de escolhas e, cada um de vocês escolheu um ao outro. Independente de qualquer coisa - porque "coisas" sempre existem. E todo mundo sabe!

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