quarta-feira, 1 de julho de 2009

Quando tudo acaba

ou quando você faz com que seja assim...

É sempre assim: você vive de restos e de falta. Relacionamentos vazios e superficiais e cada semana se sente apaixonada por um. Todos os dias fantasia em como seria feliz ao lado de cada um desses homens que passou pela sua vida se tivesse oportunidade. Às vezes se pergunta se um dia eles parariam de procurar em outras mulheres aquilo tudo que você já tem e eles insistem em não enxergar. Ou enxergam e dizem que ainda não é suficiente.

Primeiro você sofre, se culpa. Depois percebe que não é se maltratando que chegará a algum lugar. Depois tenta convencê-los, um a um mas ao mesmo tempo, do quanto é gostoso ter alguém parecido ao seu lado, descobrir cada um dos detalhes que fazem vocês, dois a dois, diferentes. Fala sobre você, de como você consegue ser tantas em uma só, e que não há paradoxo nenhum nisso.

Tantas diferenças, tantas possibilidades. Um cesto inteiro de frustração. Até que passa.

Você para de insistir em erros tolos. Demora, mas você pára. Você se contradiz por vezes e vezes seguidas, mas chega uma hora, que você pára. Começa a rir de si mesma e vê que a vida é mais leve do que imaginou. Leve mesmo quando se caminha sozinha. E solidão é diferente de andar sozinha. Andar sozinha é poder acompanhar a si mesma e é assim que você caminha quando tudo, enfim, passa. E passa, sempre passa.

A lágrima seca, o drama se transforma em caricatura. Um risível exagero. Você percebe que implorar por migalhas vai continuar fazer você morrer de fome. E então resolve matar a sua fome de vida com vida! Tão simples quanto isso. As pernas ainda pesam nos primeiros passos, é normal. E um passo depois do outro, insistentemente, começam a te levar a outras pessoas, novos lugares e até aos mesmos, com a melhor companhia de todas: você. É a companhia mais clichê também, mas aposto que não é sempre que você consegue ter uma conversa civilizada consigo mesma.

E quando já não sente mais falta de quase nada, quando restos são só restos e deixa de ser a sua fonte de vida, você percebe que existe muita gente interessante no mundo. Ah, existe um monte de gente interessante nesse mundo! Mas muitas vezes deixamos de conhecê-las porque estávamos perdendo tempo na vida com coisa besta. Tentando convencer quem se acha interessante demais que somos, nós mesmas, interessantes.

E é quando essas milhares de possibilidades te ofuscam os olhos que já passou. Acabou. Fim, pronto. E você se pergunta: e como isso aconteceu? O que eu fiz?

E você só deixou de fazer, de insistir, de querer. Por cansaço, pela última gota de amor próprio que ainda te restava. Por desistir e não ter mais forças de gritar com surdos. Deixou de fazer e disse pra si mesma, em silêncio, que agora bastava. E se bastou.

Tirou os gessos que te deixavam sempre no mesmo lugar para dançar com total abandono, no meio da sala, vivendo a sua vida. Ah, quanta gente interessante nesse mundo! E você lá, amarrada no mesmo lugar.

O problema é quando você demora para tirar os gessos, quando as pernas ainda pesam, quando você ainda quer convencer alguém de alguma coisa. Perca esse tempo com você. Ou só pare agora tudo o que você estava fazendo. Pare e viva a perda. Pare agora tudo o que você estava fazendo. Deixe de agir e pense um pouco. Deixe as cores da sua vida de separarem do cinza. Pare até que você consiga enxergar e separar o que são sentimentos reais e o que você inventou para manter tudo aquilo que você continuava fazendo. Você vai perceber o quanto somos capazes de fantasiar e nos tornamos míopes em nossas fantasias.

Olhe pra si e você verá como o mundo ainda está cheio de gente interessante. E você perdeu todo esse tempo com coisa besta!

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