sábado, 20 de junho de 2009

até... adeus

É com lágrimas nos olhos e tentando controlar o soluço que escrevo. Nunca fui de dizer adeus. Geralmente as coisas na minha vida terminavam e começavam de forma fluida e sempre preferi pensar em finais como começos já que o tempo não pára, como diria Cazuza.

Mas preciso confessar também que todas as mudanças na minha vida foram vividas de forma intensa e exagerada. Ainda lembro das sensações dos dias quentes de novembro em Porto Alegre. Vivi cada dia de novembro de forma inteira e, mesmo negando na época, aquilo foi uma despedida. Reviver de forma intensa dois anos em um mês é também se despedir. Imagino que é isso que as pessoas fazem no final da vida, quando descobrem que estão doentes e tem somente alguns meses de vida. Talvez, se eu pudesse escolher a minha forma de morrer, esta seria a forma: ter tempo de ver o que ainda restava da minha vida como dias a menos.

Não sei se chega a ser culto ao sofrimento, que melhor que amar e se apaixonar é sofrer, é isso que acabo fazendo nos meus relacionamentos. Não... na verdade não... Nos meus relacionamentos eu sempre tive a mania de não me despedir. Colecionava amores. E quando o sofrimento se tornava deveras insuportável, eu chorava uma tarde de domingo inteira para conseguir fugir logo na segunda-feira. Me distraía com trabalho, estudos ou só comigo mesma para encontrar o próximo grande amor da minha vida. E ele seria, ele era. Até ser tudo de novo. Ou quando o próximo grande amor da minha vida não era uma surpresa, era um dos grandes amores da minha vida que já não era tão grande assim. Era alguém que eu já não lembrava de porque não tinha dado certo e, se já não lembrava, por que não? Mas aí eu buscava na memória todo o amor que já tinha sido um dia e esquecia do que convinha e lá estava eu de novo, suspirando pelos cantos. Tapando o buraco de uma história mal resolvida com outra história mal resolvida.

Claro que relacionamento é o tipo de coisa que não depende só de um e sim de dois (e de um pouco de sorte e da conspiração de energias do mundo). Confesso, estou dizendo isso a mim mesma. Talvez eu ainda não tenha aceitado que não posso fazer certas coisas por mim e pelos outros. Nesse ponto, dizendo que nem tudo depende de uma só pessoa, eu poderia dizer que, sendo assim, o "tudo errado" não foi "culpa" minha. Mas acho que aqui o que menos interessa é falar sobre culpa, apontar o dedo, buscar réus, vítimas. Já está doendo demais pra qualquer tipo de confissão ou apontamento. E também, no fundo sei que as cofusões que pairam sobre a minha cabeça no assunto "relacionamentos" sou eu quem faço. Mas não quero falar sobre motivos e incentivos. Provavelmente a descrição de tudo isso soaria como resignação, como "tenha pena de mim", ou simplesmente "eu me odeio" e quero evitar esse tipo de coisa.

Aquele dia, quando te disse que te daria paz, era de certa forma uma vontade velada de me despedir. Na verdade, eu havia prometido a mim mesma que iria me manter longe. E não foi o que eu fiz. Talvez não seja difícil de entender a partir do momento que não era aquilo que eu queria. Mas na vida a gente não pode ter tudo o que quer e muito menos deve fazer tudo o que quer. A não ser que só dependa de você. E como já falei, não depende só de mim, independente do que seja.

Acho que talvez seja a hora de começar a me despedir. Colocar ponto no lugar das reticências. Talvez uma vida sem suspiros seja realmente mais leve. Queimar coleções. E parece que só agora percebi que amores que não passam, pesam. E me é insuportável pensar em você como um peso...

Eu queria ser civilizada o suficiente e dizer que a partir de agora podemos conversar como dois adultos que somos e que o botão que liga a vontade de te ver, temperada com vontade de te dar uma mordida na bochecha está desligado, mas seria mentira. Também poderia continuar como estava, nós dois conversando de vez em quando, sem pretensões, sabendo que em algum momento, quando desse um click nos dois ao mesmo tempo (afinal o meu click quebrou no "on", sério!) a gente se veria, terminaria na cama, depois de uma conversa inteligente, um vinho, umas coisinhas boas de comer... Mas ser civilizada foi sempre o que eu fiz. Mas lá no fundo, o que o meu espelho nunca me disse é que eu nunca soube desistir de certas coisas... Parecia como sangrar a conta gotas, abafar uma dor, disfarçar com o sorriso que nunca me deixa o rosto... Uma forma podre de incapacidade de enfrentamento, é verdade...

Você já deve ter percebido que eu não tenho muito problema para falar de mim. Não é assim, desta forma, com todo mundo. Mas algo em você (ou em mim, não sei) me faz sentir que você entende bem mais do que as linhas que eu escrevo e, talvez por isso, eu tenha tomado essa liberdade de te escrever tanto. Talvez essa minha vontade de me despedir - assim, de forma clara e nem tão objetiva - tenha vindo desta forma, falando tanto sobre mim, porque no fundo ainda é difícil. Ainda não aprendi a ir embora sem olhar pra trás... Mas sei que preciso. Por mim... Algumas coisas e certas pessoas deixam de ter sentido durante o caminho se continuarmos carregando-as. Da mesma forma que, se continuam tendo sentido, elas voltam pra nossa vida, sem que façamos nada pra isso acontecer. Por isso, a minha escolha de me despedir.

Faço isso por mim, e não por você, pra te afetar ou qualquer outra coisa... E, mesmo que não saibam, faço isso agora também com todos os "grandes amores da minha vida". Só não vou me dar ao trabalho de escrever pra eles... E como diz uma música da Ana Carolina "sempre chega a hora da solidão, sempre chega a hora de arrumar o armário"... Resolvi te escrever (e não a qualquer outro) porque você foi o último e porque é você que tenho vontade de encontrar nos meus sonhos, quando vou dormir (e quem eu mais encontro, com toda a certeza!).

E como os dias daquele novembro em Porto Alegre, esses dias de maio foram igualmente significativos. Obrigada pelos momentos breves. Foram realmente felizes. E, sinceramente, não sei se acredito conseguir sentir tudo aquilo de novo. Mas não importa...

Não estranhe se não me encontrar mais ou deixar de ter notícias minhas... Talvez seja melhor assim...

Adeus, menino bonito. Que sua vida seja linda... e que você tenha mais dias de sol do que de chuva.

Email enviado no dia 24 de maio.

De forma inconsistente, não sumi depois do email. Mas tudo aconteceu como deveria acontecer.

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