quinta-feira, 9 de julho de 2009

Naquele domingo

Algumas semanas atrás, conversando com um amigo desses espiritualizados, que mantém um diálogo com começo, meio e fim consigo mesmo e que foge pouco de todas aquelas coisas que resolvemos não enfrentar na maioria das vezes, ele me falou:

- Existe muita gente interessante no mundo. Nem todas servem para você, mas elas existem aos montes. Você só tem que parar e olhar ao redor. Além de abrir mão da sua mania de achar que todas as pessoas que cruzam seu caminho são interessantes potencialmente. Ou elas são ou não são. É simples.

Fiquei pensando depois que realmente acho que todas as pessoas são interessantes potencialmente. Mas o que se define como “ser interessante”? Um amontoado de características e só? Não… Vai muito além disso. Apesar da dificuldade que ainda tenho de definir o que seria. Acho que são os assuntos dos quais se conversa. Talvez não sejam assuntos específicos, mas a profundidade, o interesse e a fluidez com que esta pessoa trata todo e qualquer tópico da vida.

Talvez seja uma questão menos de assunto e mais de postura. Tem pessoas que mantém o mesmo brilho no olhar quando olham para o que os outros são e o que fazem, como pensam. Se interessam mais pelo abstrato do que pelo concreto.

Não me importa o seu nome, nem o seu salário, se você dorme numa cama king size ou num beliche. Me interessa a forma que você enxerga as pessoas, como as trata, independente do cargo que ela ocupa, seja numa multinacional ou na padaria da esquina.

Pessoas interessantes para mim não se escondem atrás das suas qualidades, aumentando e exacerbando o que tem de bom. As pessoas interessantes riem de si mesmas, das suas fraquezas. Pois estão sempre em contato consigo e sabem que nossos próprios defeitos, para serem superados, nem sempre somem. Às vezes só conseguimos lidar de outra forma com eles.

Naquele domingo que te conheci eu ainda duvidava um pouco desse meu amigo. Aos montes pessoas interessantes? Puf… A maioria das pessoas só resolvem conversar com você quando já sabem o seu cargo e a marca do seu carro. E se você é reconhecida pelas colunas sociais.

Você chegou e começamos a conversar em muito menos de cinco minutos. Você já bebeu do meu copo e, mesmo com o corpo cansado, os seus olhos sorriam de forma apaixonada. Não apaixonado por alguém. Apaixonado pela vida, pelo mundo. Eram olhos curiosos como de uma criança que olha tudo como o novo. Era lindo, mesmo não sendo novo, porque é a forma que muitas vezes eu me enxergo: como uma criança de olhar curioso, que sempre olha o mundo e as pessoas como algo novo.

Eu imagino que encontros assim não são frutos da ação dormente da vodka. Lembrei do slogan “Vodka, connecting people”. Mas não era só isso. Quando existe identificação, precisa de coisas muito menos superficiais do que vodka para se conversar em silêncio.

Não imaginei que nos beijaríamos naquele domingo. Não pela conversa, nem por nada. Eu só achei que uma pessoa tão interessante como você não se interessaria por mim. Pois é, o meu maior defeito ainda é a síndrome do patinho feio, ou da Cinderela que só é Cinderela por uma noite e é gata borralheira pelo resto da vida.

Ainda acredito que você só me beijou, no meio da frase que eu ainda não tinha terminado, quando percebeu que os meus olhos começavam a sorrir para outro. Fiquei imaginando se teria sido só porque você me sentiu indo embora ou se olhar para outro quando outro olhava para mim só te fez criar coragem para ser exatamente naquela hora, numa espécie de “agora ou nunca”. Mas aquele momento já passou e foi bom da forma que foi. Independente de motivos e justificativas.

Nos encontramos uma segunda vez. Eu estava estranha, fechada e triste. Talvez você nem tenha percebido, mas eu estava. Eu queria ter muito mais do que te visto naquela noite. Só não aconteceu. Passou. Talvez eu só não servisse para você. E você não servisse para mim. [Mesmo que eu não acredite nisso, mas fazer o quê?]

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