sábado, 18 de julho de 2009

Da solteirice

Sabe aquela história que todas as suas amigas casadas contam para consolar você, a amiga que já está solteira a anos? "Querida, você precisa sair mais, conhecer o amigo do fulano meu marido, vamos marcar um jantarzinho!" Você vai, completamente sem vontade pro programa insosso. Conhece o tal amigo do marido da sua amiga e quer matá-la, ali mesmo, na frente daquele prato minúsculo e caro, com direito a sobremesa diet, provavelmente uma fatia de abacaxi com uma raspinha de limão. Ácida, pra combinar com a dúvida que não sai da sua cabeça: "por que raios eu não estou em casa com um pote de Häagen-Dazs, jogada no sofá de pijama, chorando com uma comédia romântica?"

Geralmente os pretendentes que as suas amigas casadas tentam te empurrar é o amigo chato e sem assunto do marido dela que ela mesma não anda suportando. Claro que elas fazem com a maior boa vontade. Mas acho que geralmente as amigas - as suas e as minhas - esquecem dos seus gostos e das suas peculiaridades. Uma tristeza. Com sorte, você escapa do jantar sem que o fulano te dê uma carona pra casa e sem que você dê seu telefone pra vocês se conhecerem melhor.

Você continua solteira. Solteira, sozinha nunca. E pára de aceitar os convites para os tais jantarzinhos. Mas continua vivendo de amores sobrepostos, com ânsia de viver um amor só e uma agústia que não sabe de onde vem. Segue uma parte dos conselhos das suas amigas casadas, a de sair mais. Se distrai pelas noites mal dormidas, em lugares insuportavelmente barulhentos. No começo, você acha o máximo. Concordo que no início é legal se emperequetar toda, arrumar a postura e desfilar pela balada da moda, fazendo cara de díficil e usando aquele meio sorriso que você treinou tanto na frente do espelho enquanto se maquiava com vaidade. Aprende a tomar vodka com energético, que te ajuda a se manter acordada noite adentro, enquanto aguenta as mesmas conversas superficiais de sempre.

Suas preocupações se resumem a não parecer fácil demais, nem difícil demais, não falar demais, não comentar sobre suas frustrações e o que você pensa realmente sobre a vida. Pois é, você aprende que as pessoas que estampam aquele sorriso superficial no rosto não suportam as próprias frustrações, o que dirá das suas. No fundo, todo mundo só está mesmo preocupado consigo mesmo, poupe os outros da sua vida não superficial, dos seus medos e dos seus anseios. No máximo, isso só é importante pra você mesma.

Começa a considerar até a comprar um vibrador e enxerga isso não mais como um consolo, mas como um investimento. Resolve começar a ler livros de auto-ajuda, crônicas de mulheres fortes, solteiras e felizes e começa até a fazer terapia. Acha que se sentirá menos carente, mais segura, uma mulher independente. Prefere continuar olhando sempre pra fora do que começar a olhar pra dentro. Afinal, pensar que a culpa é do mundo e que você sofre de falta de sorte crônica é realmente muito mais fácil. Mas no fundo, sinto lhe informar, o problema está em você, sempre esteve.

E qual é este problema? Existe várias hipóteses possíveis e não desconsidere todas de uma vez só: talvez você não se sinta merecedora de alguém legal do seu lado, talvez seja carência ou até mesmo um grau forte de miopia. Talvez você seja insegura, traumatizada ou ainda não tenha construído seu ego e sua auto-estima seja baixa demais para suportar que as coisas possam dar certo com você. E aí é muito mais fácil deixar que tudo dê errado sempre, como você sempre achou que ia dar.

Chega uma hora que você cansa de se colocar como vítima das circunstâncias e de torrar tanto dinheiro com vodka, consolos sexuais, livros de auto-ajuda e até com terapia. Resolve namorar com você mesma e aceita que você não é tão ruim quanto você pensa e acha parecer. Larga mão daquelas pessoas que aparecem na hora errada (delas, porque você já sabe que os outros podem ter seus problemas e nem sempre o negócio é com você, thanks god!) e já separa quando o problema dos outros não está em você. Eles que resolvam o problema deles, que você está vivendo a sua vida muito bem, obrigada. Afinal, não é sempre que vale a pena insistir no que já não vai dar certo.

Nesse momento já existe espaço na sua vida para ser preenchido por alguém nem pior nem melhor que você. E você também já não se importa em colocar outras vidas em escala ao lado da sua. São só outras histórias vividas de outras formas. E nada mais clichê e mais verdadeiro do que dizer que é quando você menos espera alguém tromba em você e faz com que a sua vida se cruze com outra vida. Você já não é mais aquela que sofre de amor, que angustia do lado do telefone e se pergunta a todo momento se dessa vez as coisas vão dar certo. Simplesmente aceita que algumas vezes dá certo mas na maioria não. Aceita que um encontro de dois é diferente de um encontro inventado, que não há nada que você faça ou deixe de fazer para que as coisas sejam como você queria que fosse. Você vive o "eterno enquanto dure" e já sabe o que isso significa. Já sabe que ninguém morre de amor e que o que não é efêmero, fica. E vive assim, de dias inteiros, uma vida só. Definitiva. E já não importa o que vai e o que fica.

Texto dedicado às minhas amigas Milena, Fabi, Nina 1, Nina 2, Camila e Andreza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário