Um dia aquela sua euforia de quem tem 18 anos passa. Também passa a necessidade de se sentir eufórico e você já não acha que esta é a sensação de felicidade que todo mundo sempre busca. Não, não estou falando em viver de forma intensa. Continuo sendo aquela que assume todos os riscos, que ri, que chora de soluçar, que suspira fundo e sorri com a alma. Ninguém deixa de ser inteira quando perde a euforia.
Aquela sensação de quem quer ter o mundo todo de uma só vez nas mãos some. Desconfio que é a sensação de quem já sabe o valor que tem e que já conseguiu equilibrar o mundo nas mãos. Ou que sabe qual parte do mundo quer para si já que não precisa tanto assim do mundo todo.
Acho que deve ser um pouco o que se sente quando você conhece alguém que você realmente quer ter do seu lado. Você não precisa mais do mundo inteiro nas suas mãos. Você equilibra o mundo nelas e tem os braços de uma só uma pessoa. Você se tem nos braços dela. É dela.
Não sei até que ponto o problema é de medidas. Acho mesmo que é só uma questão de contentamento.
Enquanto você não conseguir controlar a sua compulsão e conseguir medir os seus anseios, até o mundo todo será pouco. E não há nada que faça com que esse seu vazio seja preenchido. Sempre vai ser pouco, insuficiente, oco. Frustrante. E sempre será, já que o tudo é quase nada.
A compulsão e a não saciedade de beijar meia dúzia de pessoas no intervalo de poucas horas. "Você se importa?", tem quem pergunte de forma educada depois de acabar de te beijar. Não me importo mais e você?
Quem tem importância diante de um cenário desses? Pessoas são só bocas. E me pergunto se existiria a diferença entre bocas e copos com gelo. As pessoas ainda hoje preferem se manter superficiais e acreditam que algo de muito bom ou muito importante está acontecendo no raso do mundo. Existe necessidade de auto-afirmação de todos os tipos. Uns escrevem, outros trabalham e ganham salários altíssimos, outros beijam quatro ou cinco por noite emendando prazeres e excessos e vão dormir achando que se bastam. Nem se olham. Talvez se olhem, mas não se enxergam.
Mas um dia, junto com a euforia, a necessidade de auto-afirmação também passa. E aí o mundo inteiro se torna pouco se o mundo inteiro continua raso. Você só precisa mesmo de um dos dois ombros largos e que ele continue com todos os dias pra te ter deitada ali. Em silêncio, só suspirando. Que seja só duas bocas, quatro braços e quatro pernas se confundindo em risos e pranto. E gozo. Sentimentos, sensações, carinho e desejo. E que se percam no tempo e no espaço do quarto.
E foda-se o resto do mundo. Eu não preciso mais dele para ter tudo.