quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sem conseguir dizer mais nada

Despediu-se rápido de todos com um sorriso no rosto. Rosto quente do calor que fazia dentro do pub, depois de algumas cervejas. Não via a hora de chegar em casa e esperá-lo. Só não sabia ainda que aquela noite seria a última que se sentiria verdadeiramente feliz, pelos próximos seis meses ou mais. Aquela noite já estava cheia de significados. Um quase-amor deixado, enfim, para trás. Ela chegou a supor que, depois de tanto tempo, quando enfim ele resolveu assumir tudo aquilo que ela já havia insistido um dia, ela não queria mais. Simplesmente porque não daria certo nunca. Nem antes nem naquele momento. Sua vida já caminhava em outra direção.

O novo ainda tinha gosto de novo. O mesmo suspiro, o riso bobo. Para ela era assim. Para ele talvez fosse só uma noite de sexo. Sexo como repetição de movimentos, liberação de hormônios de prazer, orgasmos seguidos, aventura. Para ela também era isso, mas era mais. Era inteiro. Ela nunca foi de fingir, nem mesmo orgasmos. Vivia de suicídios, de se atirar em precipícios. Perdia já as contas de quantas vezes morrera de amor. Talvez uma mistura de excesso de carência, paixão pela vida e ausência de medos. Quase um vício em quebrar a cara sem desmanchar o sorriso.

Em seis meses não só a sua vida mudaria. Também suas atitudes. Como forma de punir-se, talvez, agiu da forma que repudiava. Era mais uma forma de se maltratar. Como já não conseguia mais fazer esse tipo de coisa por si, aprendeu a agir para que os outros fizessem por ela. Sentiu nojo de si, sentiu-se suja. Mesmo assim continuava ser quem ela odiava ser. Foi exatamente quem ele gostaria que ela fosse.

Jogou-se nos braços do melhor amigo dele. Envolveu-se de forma rápida. Criou fantasias em cima dele e fingiu esquecer quem já amara um dia. Perdeu toda a sua razão. Odiou a si mesma por sentir-me mexida por tê-lo reconhecido pela sombra. Só queria esquecê-lo, como ele fez questão que ela o esquecesse. Por que, então, insistia em aparecer, fazer-se notar? Já era suficientemente difícil para ela...

Ele sabia de pouca coisa. Ela escondia muitas coisas além da carência e das confusões. O que mais lhe faltava eram certezas na vida e, mesmo assim, ela arriscava todas que tinha. Tornou-se inconsistente. Por querer fazer aquilo que ele esperava que ela fizesse e por fazer também o que sentia. Por fazer só o que sentia, sem pensar. Faria tudo ao contrário. Iria contra os próprios sentimentos, contra tudo o que já quis um dia. Como um bulímico que força o vômito, ela forçava sua auto-frustração. Como quem prova pra si mesma o quanto pode ser menosprezável.

Falou sobre muitas coisas, quis sumir. Até tentou. Até falou. Mais para si que para os outros. Não sumiu. Ainda precisava se maltratar um pouco mais, sofrer um pouco mais, doer um pouco mais. Foi inconsistente. In-consistiu. Deixou de consistir. Não existiu. Queria ela mesma deixar de existir, ser outra. Mudar de nome. Mais do que querer ser outra, queria ser qualquer uma que não ela. E ainda não sabe se consegue diminuir mais o que já está exageradamente sem pé nem cabeça. Consertar nunca foi pretensão. Ela bem sabe que tudo o que fez foi contra isso, por mais que negue. Negar a negação também é uma forma de inconsistência?

O que ela conseguiu foi afogar o amor-próprio. Talvez quisesse viver sem ele. Por precisar de um inteiro, não se contentou com pedaços soltos, nem de si mesma. Esqueceu que a verdade é muito mais simples e que ainda não aprendeu a lutar contra sentimentos. Principalmente contra os seus. Sentimentos se esquecem. Sentimentos diminuem e passam. Não se luta contra, nem a favor... e, afogada por sentimentos que não reconhecia mais, morreu. Sem conseguir dizer mais nada.

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