quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Não

Fevereiro começou com ares de janeiro. Me surpreendo com as minhas próprias escolhas. A sensação é a de enxergar o meu umbigo, como quem olha pra uma flor azul turquesa no meio de um jardim cheio de margaridas brancas.

Sempre fui de dizer sim pra tudo. Sem pensar e sem querer. Ia aceitando o que os dias e a vida colocavam no meio do meu caminho. As pessoas se repetiam, com os mesmos gestos e atitudes, na maioria das vezes insuficiente para as minhas vontades e necessidades. E eu ia vivendo de pouquinho, as vezes dando um passo para voltar dois. Me doía um pouco mas dizer 'não" me doía mais. Talvez certas pessoas como eu se acostumem a viver com o lado triste maior que o lado alegre e mesmo assim não parem de sorrir.

Por algumas vezes suportei dizer "não", preferir o nada ao pouco, e ficar bem com isso. Essa paz sempre me foi passageira. Me sentir inteira pra me despedaçar depois. Eu voltava a viver da luz que entrava pela fresta da janela fechada. Tudo continuava mais do mesmo, sempre e igual. O mesmo pouco. E eu ia levando de espasmos de euforia, surgidas pela novidade de outro amor pequeno. Por amores pequenos, vivi minhas maiores dores. Não por doerem demais, só por doerem por pouco. Era quase inconsistente uma dor daquela para aquele amor pequenininho.

E foi por um "não", e não pelo novo, que fevereiro virou janeiro nesse ano que parece já querer me atropelar. Nem muito bom de beijo, nem muito bom de papo, nem muito bom de cama, ele só é bonito e me provocou, quando nos conhecemos, um espasmo de euforia. Durou, no máximo 2 semanas, se muito. Depois disso, foi só luz que entrava pelas frestas, aquele pouquinho. E eu fui levando o morno. E, de tempos em tempos, ele voltava com aquele muito do nem tão bom.

Agradeceu meus cumprimentos pelo aniversário e emendeu a desculpa de querer me ver. Queria me levar para cozinha antes de me levar para a cama. E foi com aquela não muito criativa investida dele que eu não fiz questão de ser criativa também, para dar uma desculpa esfarrapada. Disse "não, obrigada" porque educação nunca matou ninguém.

E um "não" sem espírito vingativo, sem tentar esfregar nada na cara de ninguém e sem meio sorriso no canto da boca, sem gosto amargo. É, não faço questão alguma de ensinar alguém coisa alguma quando o assunto é coração. Preferi o nada ao pouco, como deveria ter sido desde sempre. O nada sem culpa, sem cutucões.

Não te quero mais. Prefiro a mim. Estou com preguiça até de pensar em varrer meus pedaços quando você for embora levando esse muito e deixando quase nada.

Preferi a louça em número ímpar na pia. E não me desculpo. Não é que eu não te quero hoje, só não te quero. Deixa a cama ficar grande, só pra mim, aprendi a gostar assim. Seu ombro não era nem tão bom como as almofadas que ficaram para ocupar o seu lugar.

O dia amanheceu cedo, com céu de um azul tranquilo. Levantei com vontade de dançar com a música no rádio que ligou sozinho. Olhei para a cama vazia e você não fez falta. E eu abri a janela inteira para deixar entrar todo o azul do céu. Agora, só aquele tudo bastava.

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