Dia lindo de sol lá fora. Me sinto como a única criatura que não quer sair pra viver o dia. Sol. E choveu a semana toda. Ainda chove aqui dentro.
Tento fugir através de textos bonitos que leio aleatoriamente. Outras vidas e até vida nenhuma. Textos de economia. São outros livros para preparar as aulas e são todos tão iguais. Os recursos continuam escassos.
É, essa coisa de recursos escassos não se trata só de economia. Hoje já é fevereiro e eu continuo aqui, cheia de dúvidas e angústias. Apertos. Sinto menos sangue no meu coração já morno. Recursos escassos e eu transbordando.
Era tão bom a época que eu escolhia morrer de amor e continuar vivendo... Depois que escolhi esquecer dos meus amores pra viver, enfim, a minha vida, me sinto completamente perdida.
Por que será que encontro a tranquilidade dos meus dias vivendo vidas alheias, criando meu doce mundo com alicerce nas fantasias? Talvez seja porque eu sempre soube só viver assim. E minha vida mesmo era construída por consequências de sonhos e frustrações surgidas no acordar assustado dos intervalos entre os sonhos. Acordar, assustar e sonhar de novo, outro sonho com outro amor inventado e real. E quando tudo mais não era possível, eu fugia pra trabalhar e ser perfeitinha. Arrumar a casa, plantar flores no jardim. Sorrir sangrando por dentro. E nunca ninguém soube.
Mas parece que de tanto dormir e sonhar, os sonhos de uma vida cor-de-rosa se esgotaram. Chegou a hora de deixar de morrer de amor para amar a prestações. Vivi de overdose em overdose e ainda me causa estranhamento viver devagarinho, com doses diárias bem dosadas. Ainda não me acostumei a sonhar de olhos abertos, olhando sempre e antes pro espelho. Tão difícil...
E como se faz para viver com os pés no chão? Eu queria realmente saber o que me move e o que me paralisa. O que é fruto da minha cabeça e do meu coração. Queria saber mais sobre os meus medos, do que sou realmente capaz de enfrentar pelo que eu gosto. Mas tem dias que eu não sei se o que eu quero é realmente o que eu gosto ou se é só algo que eu acho que deveria gostar.
Também me pergunto sobre os sonhos que eu abro mão. Alguns são realmente dispensáveis, isso é certo. Frutos de um disparate e uma euforia passageira. Mas quantos não são euforia sufocada, vontades reais mortas pelo medo?
"Você não é como as pessoas te enxergam", me disseram esses dias. Imagino que ninguém seja. Apesar que muita gente prefere acreditar que sim. Eu não acredito apesar que eu queria mesmo era que alguém me entregasse uma ficha escrita de qual deveria ser o meu próximo passo depois de acordar das minhas fantasias. E ninguém pode fazer isso por mim. Continuarei usando meus mesmos sorrisos para transitar de forma leve no mundo lá fora. Só eu devo saber qual a dor e a delícia que eu posso suportar.
Dar tempo ao tempo, tentar esquecer e acreditar que tudo o mais toma o seu lugar no mundo me parece uma atitude bastante alheia. Muito além do alheio que posso digerir. E, desde quando resolvi andar com os pés no chão, mesmo não sabendo muito bem como se faz isso, acredito que nem só de domingos de sol se vive uma vida.
Deixa chover. Joguei fora meu guarda-chuva pra poder sentir a água gelada na pele. Olhar pra cima, fechar os olhos e lavar o rosto sem a ajuda das mãos. Sem sonhos azuis e cor-de-rosa. Só um céu cinza e chuva. Sentir. Água batendo no rosto. Deixa chover que a previsão é de sol aqui dentro.
É porque a gente se vê nos textos e não se acha mais tão sozinha, né?
ResponderExcluirbeijas