domingo, 25 de janeiro de 2009

Uma semana depois

E pela primeira vez depois de muito tempo, ela disse sim. Sem pensar no que seria, nos porquês, se já conhecia ou se deixava de conhecer. Disse sim a ela mesma. Não fazia mais diferença se os outros entenderiam ou não. Não era questão de entender. Ela só se sentia viva.

Depois de muito tempo ela precisava fazer aquilo por si e não pelos outros. Tomou banho, vestiu um decote, passou lápis nos olhos e calçou sandálias pretas e altas. Aumentou o som do rádio, fechou os olhos e soltou o corpo no ritmo da música que tocava. Ninguém estava vendo.

Muitos minutos depois do horário marcado, o telefone tocou. Nenhum nome no visor, só números. Ainda não se conheciam. Ele a esperava na frente do prédio. Ela desceu as escadas devagar, sentindo uma mistura estranha de sentimentos em relação a si e sensações antigas que pareciam novas, depois de quase esquecidas. Desceu as escadas rindo. O que será que era tudo aquilo?

Respirou fundo nos passos que separavam o hall de entrada e o portão do prédio, numa tentativa quase frustrada de disfarçar tudo aquilo que nem ela sabia o que era. Olhou pelo vidro do carro para se certificar que era ele. Sorriu. Sorriram sem se conhecerem. Era ele, ela sabia.

Entrou no carro, tomou cuidado para não falar sem parar sob o efeito da ansiedade. Ele era mais bonito do que ela imaginou. Conversaram durante todo o caminho. Nunca teve problemas para conversar sobre tudo ou sobre qualquer coisa e mesmo assim parecia tudo diferente. Como se já se conhecessem. Como se… E não se conheciam até então. Como? Só até então.

Chegaram. Foram para a fila da balada da moda, onde todos, já na fila, se preocupam só em como alimentar o ego por algumas horas. Ele, preocupado dela não gostar, já que ela gostava mesmo dos bares com mesas na calçada e cerveja gelada com amigos dividindo a vida. Ela, despreocupada. Já se sentia viva e isso bastava.

Entraram. Ele perguntou por que ela tinha resolvido ir pra um lugar que teoricamente ela não gostava com alguém que ela não conhecia. Ela riu e respondeu que foi porque ele tinha chamado. Ela só disse sim. Não havia porquês.

Conversaram a noite toda, mesmo com a música alta. Beberam vodka a noite inteira e sorriram a noite inteira. Para eles e por eles. Já se conheciam. Ele contou sobre histórias passadas. Ela falou sobre ela. Sobre o que pensava do que ele contou. Na verdade, ela falou sobre si, só não sabe se ele soube naquele momento. Falou sobre muita coisa que ela não lembra e que o deixaram com os pensamentos embaralhados. E ela só soube porque ele falou: “estou meio atormentado com tudo o que você disse, preciso pensar”. E neste momento ela já não sabia quais as palavras exatas que ela usou, mas não perguntou.

A noite passou rápido a partir disso. Ele bebeu uma garrafa de água e ela, mais uma vodka. E, a partir disso, ela não lembra de mais nada. Voltaram juntos. Conversaram no caminho e ela só lembra dela sorrindo e falando, da música que tocava no rádio e dele prestando muita atenção. Não lembra de nenhuma palavra, só do que passou pela sua cabeça e pelo seu coração.

Ele estacionou na frente do prédio dela. Ela se despediu três vezes, que era pra dar sorte. Ele não subiu. Ela desceu do carro rindo. Não precisava disfarçar, estava de costas. Não se beijaram. E a noite foi perfeita. Se conheceram. Era ele.

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