Querido diário, se não fosse cômico, seria trágico. Ainda me surpreendo com certas coisas que acontecem na minha vida. Ainda nesta semana me disseram que eu deveria escrever um livro. Não pela forma bonita de escrever mas pelas histórias que eu tenho pra contar. Se fossem inventadas, não seriam tão criativas e surpreendentes. Ameaço dizer que engraçadas, mas só depois que elas passam.
Tudo começou a uns dez dias atrás. Bi bi bi, blá blá blá, tec tec tec. Ele escrevia de uma forma envolvente, parecia tão bonitinho pelas fotos e eu tinha tão pouco a perder. E é nessas horas que a gente esquece do que poderia estar fazendo que se envolve devagar, sem quase perceber. Os dias nublados e sem graça já pareciam quase azuis e eu já estampava um sorriso bobo no rosto. É, acho que no fundo mesmo escolhemos aquilo que queremos acreditar e sentimos só o que desejamos sentir. Pelo menos por algum tempo. Depois aceitamos que doce mesmo é a realidade, com cada uma das suas imperfeições.
Não aconteceu quase nada. Só conversas fragmentadas desconexas e textos coloridos dele que eu lia para poder me identificar com flores. Não havia promessas nem motivos para eu me sentir alheia ao mundo preto e branco, da forma que eu estava. O reconhecia a cada frase, no acaso e nas coincidências e ia traçando seu esboço e dando mais vida a ele através da imagem que eu construía.
Vamos nos conhecer, um dia. Mas aquele dia, sem data, sem hora nem local me parecia uma promessa vaga diante de uma “possibilidade de amor”. E das nossas pequenas diferenças interessantes, esta foi a que me chamou mais atenção pela incoerência. Não pela discordância entre eu e ele. Mas por ele negar ele próprio, que fazia questão de se mostrar sempre com as janelas abertas. Quase como redenção, foi ele quem falou sobre a noite, a sexta, a estréia e a esquina.
Me desesperei. De mais a mais, não queria uma possibilidade de amor com hora, data, assunto e local marcados. Reagi de forma previsivelmente louca, e tratei logo de manter o amor só como possibilidade. Meu medo ainda não conversa com a realidade. Era aquilo – quando passa a existir a mínima probabilidade, vou lá e estrago tudo. Não foi a primeira vez.
Eu já estava dentro de um buraco com a minha vergonha, dividindo com ela o silencio que falava sobre minhas frustrações e limitações . Não queria remendar os cacos que sobraram. Um remendo geralmente é pior que o estrago. Me retirei a minha insignificância quando, já acostumada aquele cenario, ele me chama.
Suas frases soltas não diziam quase nada de nada. Eu já havia desistido e me conformado. “Melhor mesmo é uma sessão sozinha”, eu repetia para me enganar. E ele ali, mudando os planos que já não existiam mais. Reli o diálogo de frases curtas e desculpas esfarramadas cuidadosamente escolhidas para se mostrarem assim e sorri. Primeiro de uma forma acanhada. Depois ri sozinha, um riso que libertou eu e a minha vergonha do buraco. Brincamos de tentar descobrir qual dos dois sofria mais de delírio e alucinação. E qual das duas reações era mais espontânea e criativa. Ridículas!
Em alguns minutos já sentia o tempo, a distância e as diferenças maiores entre nós dois. Certas coisas acabam sem terem começado. Mais uma vez eu estava sozinha. Eu e meu medo. [Que, no fundo, acredito não ter me deixado viver só das possibilidades.]
Fechei as janelas, peguei as chaves e fui assistir a estreia, em outra esquina. Sozinha. Deixei meu medo em casa, já não precisava me proteger. Guardei os detalhes das desculpas esfarradas como os melhores de todos os tempos e fui perseverante com o desespero da minha reação surtada.
Em casa, depois da chuva que caia na noite quente, sorrio. Dormirei por esta noite.
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