quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Dia arrastado, madrugada finda

Chegou em casa esgotada. Aquele dia começou cedo, com gente demais falando às oito da manhã. Ela só precisava de um banho demorado e um café forte para se sentir viva e recomeçar a semana que já tinha começado. Aliás, ela mal sabia que dia era aquele. Já não conseguia mais viver de noites em claro e amores inventados. Precisava de noites de sono, de sonhos tranquilos e o ombro de alguém para se encaixar e esquecer de tudo, para poder só sentir.

O dia passou arrastado. Em alguns momentos suspirava fundo, lembrando do que não foi e tentando empurrar mais rápido aquele dia que começou cheio de vozes que ainda não haviam se calado. Já estava esgotada antes de chegar em casa.

Chegou, tirou as sandálias de salto, se olhou no espelho. Continuava inteira. Sorriu um sorriso espontâneo e lembrou que, apesar de não conseguir mais viver de amores inventados, os adorava.

Chegou e saiu. Precisava conseguir viver de outra forma. Um amigo de longa data, uma noite quente, uma mesa na calçada, dois copos para fazer um brinde. Brindaram a vida, os tempos que não voltam mais. Falaram deles, de cada um e dos dois, dividiram e somaram. Chegaram a dividir o sofá para rir abraçados. Tão bom não sentir medo de gostar de alguém!

Se despediu já quase renovada e se viu sozinha, como sempre pareceu estar. Ainda vivia de amores inventados mesmo sem conseguir. Não conseguiu dormir por mais esta noite. Ficou imaginando em como seria aquele novo amor, que só conhecia por entre as palavras. Imaginou o que sentiria nos seus braços, se beijariam assim que se vissem? Ela não sabia e sorria mesmo assim. Sabia quase como era estar frente a frente com ele, olhar nos olhos, ter seu rosto nas suas mãos, a textura da sua pele. Compartilhar o silêncio e o sorriso. Sabia exatamente como ele a abraçaria pela cintura e a puxaria pra mais perto de ti. Riu um riso quase triste, imaginando que ele talvez nem existisse.

Lembrou dos seus amores inventados passados e de todos os finais infelizes. Como poderia ser diferente? Ela não sabia responder. Ah, queria tanto não querer... Mas, sem querer, já pensava nele.

Quando o sol já ameaçava nascer, choveu. Uma chuva para acompanhar suas lágrimas, pensou. Deitou para dormir algumas horas antes de recomeçar outro dia. Fechou os olhos e prometeu a si que seria tudo diferente. Que viveria para conseguir amar de verdade. Abriu mão da madrugada de brilhos finitos demais para ela e adormeceu.

Desistiu.

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