E te ofereço todo o meu vazio. Não aquele que enloquece, que entristece. Que faz com que eu me perca entre o "se", o "quase" e o "talvez". Não o vazio cheio de dúvidas e de incertezas. Não o meu vazio ausente de significados.
Te ofereço todo o meu vazio que encontrei. E que nunca busquei. O limpo. Límpido. Cheio. O que falta mágoas e ressentimentos. Aquele que varri tudo aquilo que me sobrava, que preenchia com fotos rasgadas. Fatos distorcidos, diminuídos em seu exagero. Toda a consequência dos dias vividos e remexidos.
Ainda não nos encontramos. Sequer nos conhecemos. Mas este será o meu presente. Todo o meu vazio, que sequer ansiei. Um vazio que não se enxerga, mas sabe-se lá. Aqui. Que me preenche da forma mais simples e singela. Se sente. E aumenta. Não se explica nem se entende.
Quase paz, não chega a ser minha calma. Talvez ainda não tenha transcendido meu vazio, que quase não cabe em mim. Por isso te entrego. Te dou de presente. Me dou. Em toda finitude sem fim.
Te entrego. Mas já te aviso que meu vazio não vai aos pedaços. É inteiro. Indivisível. Completo. Basta em si. Todo ele que consegui assim, sem querer. Preencheu sem completar. Pois não veio em partes. Um vazio todo composto por nada. O nada mais lindo que já senti sem entender.
E entrego a você. Que não conheço. Nem nunca vi. Só sei que sinto. A você que sorri com os olhos e, com todas as cores, muda meus sentidos sem mudar os significados.
A você, capaz de afirmar que, de vazio mesmo, ele não tem nada. A você que não o enxerga, mas acredita. E me sente, sem querer. E que seria incapaz de me separar do meu vazio. E que se basta com ele. Me basta.
Toma. Ele é teu. Para você.
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