Bem de vez em quando, você me visita nos meus sonhos. Cruza meus pensamentos. Rápido. Questão de milésimos de segundos.
Talvez por tudo que não foi, pelo que tanto quis. Talvez não. Talvez não seja pelas fantasias não vividas. Talvez seja só pelo gosto do seu beijo que eu ainda não esqueci. Cada um deles. Cada vez que não me deixavam pensar em nada e só viver cada momento em cada centímetro do seu corpo.
Mas se eu tivesse que apostar em um por quê, resumir em uma só palavra, em um substantivo concreto, eu diria: seu rosto. Não pelos traços, nem pelo sorriso e pelos olhos. Nem pelo conjunto. Mas pela sua barba por fazer, que você sempre achou que me incomodava.
Em cada um dos milésimos de segundo sinto por um minuto inteiro minha espinha arrepiar da cintura a nuca. Endireito a postura e ainda tem dias que fecho os olhos e enclino a cabeça devagar pro lado esquerdo, como quem espera você chegar mais perto, a ponto de sentir a sua respiração levemente mais ofegante. Meu pescoço se confundindo com a sua boca, antes das nossas bocas se juntarem numa coisa só. E era só o início de tudo. [Um beijo no pescoço nunca para num beijo no pescoço!]. Questão de pele.
A sua barba por fazer me fazia cócegas. Eu arrepiava, me sentia mais leve. E sorria. [Como estou sorrindo agora, nesse milésimo de segundo].
Não é história mal resolvida. Já me livrei de certos fantasmas. Quase não sinto mais todas as borboletas no estômago que você me trouxe. Já existem poucas. Mas vira e mexe elas brincam e me confundem com o azul e lilás das suas cores. Cores vivas [suspiro eu!].
Já não restam palavras engasgadas. Escrevi todas cada vez que me sufocavam. E você se afastava devagarinho cada vez que isso acontecia. Pra não me machucar, você me disse algumas vezes. É, você nunca mentiu pra mim. E hoje cada qual está na sua dimensão exata. Me sinto bem nessas suas ausências eternas. Já nem acho que seríamos perfeitos juntos. Já fomos.
Mas bem de vez em quando, você ainda me visita. E eu abro um sorriso nesses milésimos de segundo que são seus. Nossos. [E isso, você não me tira].
Saudades dos nossos silêncios compartilhados, madrugadas atravessadas e pernas trocadas.
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