domingo, 4 de janeiro de 2009

Meu único desejo para 2009

Sou bastante aversa a fazer planos nas viradas de ano. Apesar que, mesmo a contra-gosto, resolvi repensar um pouco nessa coisa toda esse ano e fiz um único desejo. Só um. Todo o resto eu vou resolvendo. O que eu quero, pra onde eu vou, se é que não fico. Conforme as folhinhas do meu calendário forem sendo arrancadas.

Quero esquecer todos os meus desamores. Aqueles amores vencidos. Vividos pela metade. Pela minha metade. Aqueles amores que passam pela sua vida e parecem que nunca vão embora. Continuam ali, meio que remexidos. Amanhecidos, feito pão de ontem. Meio esbranquiçados, sem muito gosto. Que você pega quando tem fome e que, no fundo, não mata a fome nem tira aquele gosto de ressaca da noite anterior.

Eu sempre tive uma quedinha por certas coisas mal-resolvidas. Sempre deixava a porta mal fechada. Um sofrimento em vão. Que não dói, só incomoda. E é como certos vícios. Você sabe que faz mal, as pessoas que cultivam um carinho sincero por você te avisam que faz mal, mas você mantém. Eu mantenho. Tenho a sensação de precisar desses desamores pra me sentir viva. Saber que eu continuo sentindo algo. Que não estou morta.

E, sendo assim, meu desejo para 2009 é morrer. Sentir o nada. Quero o nada de dor, de incômodo. Quero o vazio. Deve ser difícil para quem viveu boa parte da vida cultivando o pouco. Comendo o pão amanhecido [e as migalhas!]. Mas quero sentir todo o meu vazio. Fechar minhas portas, janelas, telhados e varrer tudo que ficou dos anos anteriores.

2008 passou e eu sobrevivi. 2007 foi um ano de cão nesse quesito. Bati meus recordes. Comi o pão que o diabo amassou, depois de 1 semana assado. E foi bem pior que pão amanhecido. Namorei um traste que até bem pouco tempo atrás eu ainda acreditava ter me ensinado alguma coisa. Pois é. Precisei me amarrar na frente do espelho e me forçar a enxergar que eu aprendi sozinha e que ninguém me ensinou nada coisa nenhuma. Juntei meus caquinhos até conseguir admirar o mosaico que se formou com todos eles. Minha avó bem dizia: “menina, você precisa se dar valor”. Pois é, vó. Demorou, mas eu estou começando a entender o que é que tinha atrás desta frase que sempre me pareceu banal e repetitiva. Mas ainda tenho um looongo caminho pela frente. Infelizmente.

Chegou 2008. Não pedi nada. Não me esforcei pra nada. Ou melhor. Olhei pra todas as outras partes da minha vida. Mudei de emprego, reatei amizades. Cuidei do meu corpo e da minha alimentação. Li muitos livros. Vi todos os filmes que tive vontade. Vivi minhas loucuras. Me aceitei nas diferenças. Fui segura de mim. Revisitei minhas características peculiares. Ri e chorei sozinha. Tomei alguns porres. De birita, de felicidade, de paixão e de tristezas profundas. E fui levando de desamores em desamores. Amores vazios.

De certa forma, fiz questão de não ter perspectivas. Aparentemente. No fundo, acreditei que tudo seria diferente com cada pessoa que cruzou meu caminho. E hoje me admira ter feito isso. Eu que sou tão cética. Seca. Que gosto tanto das coisas fundamentadas em bases sólidas. Só não chego a ser contraditória pois acreditei tanto no que não foi dito que me bastava acreditar por acreditar. Criei todas as minhas verdades. E fingi que não estava nem aí. Que estava tudo bem e era tudo muito bom para todos os meus pseudo-amores. Como se eu me bastasse. Como se…

Claro que hoje já sei que vivo muito bem sozinha, obrigada. Que minha felicidade e loucura não depende de nada nem ninguém. Não sou mais aquela menina que cruza os dedos e fica esperando a tampa da sua panela. Aquele cara que aparecerá de all star, cabelos bagunçados e que goste dos meus livros e interprete filmes e textos da mesma forma que eu. Mas de certa forma eu enxerguei tudo isso e mais um pouco nas pessoas erradas. Nas que eu escolhi durante o ano passado. Talvez todos eles tivessem um pouco de tudo isso. Mas ainda faltava tanto… Mesmo já sabendo que eu me bastava, esperei certas coisas de quem não tinha nada a me ofercer. Ou tinha muito pouco.

Entre a ressaca deste Natal e do Ano Novo, conversei com um dos meus desamores sobre o que parecia não ter muita relação com tudo isso. Pois é. Desses desamores, conversava com todos, até hoje. De certa forma, esse jeito cortês e educado de dizer que as coisas acabaram é só um disfarce pobre de se manter certo tipo de relação. “Tudo terminou, até o que não foi começado. Fiquei em cacos 1 semana e agora somos amigos”. Não éramos amigos até então. De onde veio toda essa amizade? Hoje vejo que perdi energia e espaço na minha vida pras reais coisas que não aconteceram no momento em que destinei espaço pra tudo aquilo que nunca deu certo. E logo eu que aprendi ainda no primeiro semestre da faculdade que os recursos são escassos.

Conversando com um entre tantos dos meus desamores, ele me disse que entre todos, eu tinha me apaixonado por ele porque eu sabia que ele poderia ser tudo aquilo que eu esperava de alguém. Cheguei a concordar com ele. Mas é aquele ditado: “de boas intenções o inferno tá cheio”! Cansei de ter vocação para caça talentos. Projetos mal acabados de homens para estar do meu lado.

E eu que sempre gostei das reticências, escolhi o ponto final para dar sentido pra 2009. Se não quero mais amigos? Claro que sim. Mas amizade se começa de uma forma diferente. Não acho que todos os homens das minhas relações que foram sendo levadas em banho-maria são descartáveis. Eles seriam ótimos amigos se não tivessem ocupado outro papel na minha vida. Já tive um teretetê dos bons com muitos dos meus amigos. Esses continuam amigos até hoje. Mas não é deles que eu estou falando. E eles sabem. Mas os outros nunca foram. Não nasce uma amizade de um relacionamento superficial. Já até cheguei a acreditar nisso. E hoje me parece algo como “finge que você diz a verdade que eu finjo que eu acredito”.

Não sou o tipo de pessoa que guarda mágoa. Eu prefiro perdoar, sempre. Só acho que agora eu preciso ME perdoar. E fazer as coisas por mim. Tentei sempre agradar a todos, ser A civilizada. Educada. Cortês. Fazendo as coisas pelos outros. Levando. E esqueci de mim. Não parei pra pensar no que preenche meu vazio. No que me alimenta. E fui vivendo de pão amanhecido [e de migalhas].

Sempre acreditei nas boas intenções que só se mantiveram como ótimas boas intenções. Agora, só quero acreditar vendo. Vendo, sentindo e vivendo. E quero, antes, viver meu vazio. Andar no chão mesmo que outras pessoas tentam me fazer acreditar que, nessas circunstâncias, é melhor andar em cima do muro.

Quero queijo no meu pão, por favor. Pão de hoje.

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