domingo, 11 de janeiro de 2009

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Dos gestos espontâneos, aquele que mais me faz sorrir é o iniciado antes de suspirar fundo e o coração parar de bater. Termina com um ponto, aproveitando o entre-vírgulas.

Mas certos gestos espontâneos não passam só de impulsos. Espasmos. Um "buh", bom ou ruim. Que morre no raso e cai no óbvio.

O espontâneo flue, emenda uma coisa na outra, sem quebras e sem quinas. Sai assim, sem querer: sorrindo, vivendo, dançando, abraçando, gerundiando. E leva na valsa qualquer te-re-tê-tê. Não desvia, só improvisa. Dissimula com malandragem, mas é só exclamação. Nada de interrogações e reticências para a espontaneidade.

Agora misture o intenso ao espontâneo. Multiplique tudo por cinco, pinte de cores vivas e fortes e feche os olhos para sentir melhor. [Confesso que, nesta parte, respiro fundo e tento disfarçar meu sorriso de culpa e de gosto, típico dos dias em que tento esconder o que eu fiz!]

Muitas vezes, se você for assim e não souber, desconfie quando quase toda a sua platéia ficar chocada e só um ou dois indivíduos não esboçarem reação. Um deles provavelmente é desligado demais e, com alguma sorte, o outro te entenda.

Demoraria uma vida para tentar descrever todas as formas, texturas, gostos e cores quando se mistura intensidade e espontaneidade. E, ainda assim, eu morreria frustrada. Aceito gostar e ser aquela única pessoa da platéia.

Mas não aceito o impulso, o susto e os espasmos. Um suspiro fundo no fim de uma tarde quente, ensolarada e azul. Um suspiro antes da morte. É tão difícil de aceitar, sabia? Diante de todo aquele cenário lindo, a morte. Uma ameaça de coisas boas para nada.

Eu aceito o não. O sim, eu também aceito. Mas só quando carregam significados, afirmam ou negam seja lá o que for. Qualquer um deles pode fazer doer ou fazer sorrir, para quem diz ou para quem fala. Palavras verdadeiras, curtas. Três letras para cada uma delas e elas podem começar ou destruir um mundo. Intensas. Sim, muito intensas.

Impulsos e espasmos evitam o sim e o não. Evitam endereços certos. Impulsos e espasmos são sempre saudades e nunca um horário para se encontrar. São quase sempre amigos daqueles homens que adoram seduzir. Que falam palavras bonitas e soltas, confundem pensamentos e inflam sensações, roubam promessas de abraços que se tornariam verdadeiros, que fazem por impulso. Depois disso, acaba. Se esvai. Como se tirassem o som no melhor da festa. E o impulso, que no começo parece intenso, é quem mata a espontaneidade, não deixa ela acontecer.

Certos medos sufocam a intensidade, fazendo-a impulso e morte da espontaneidade. Muitas pessoas preferem o silêncio a dizer sim e não. Eu prefiro o não e o sim. Mesmo que existam aquelas tais mudanças no meio do caminho.

Quem nunca quis num minuto e depois não quis mais? Quem nunca pediu uma cerveja e, quando ela chegou, percebeu que precisava mesmo era de uma vodka?

E por dizer sem querer que queremos o que nunca quisemos, o que mostramos(por impulso e por vaidade), é óbvio, se torna raso. Toda a beleza que as vontades tentaram mostrar se esvai. Por espontaneidade insuficiente de dizermos o que sentimos. E por separar tanto o que já me confundiu, assim que te senti, mesmo sem te ver, tive certeza: "primeiro eu quis e depois não quis mais tomar uma cerveja. [Mudei de idéia, minha flor!]."

E, por saber que não iria escutar, mudei de idéia eu. Pra você poder não se tornar óbvio e nem me assustar, num impulso.

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