Sexta-feira 16. Bem teve cara de sexta-feira 13. O dia demorou pra começar. Incômodo. Estranhamento. O dia passou arrastado pra acabar só lá pelas 19:00 hrs. Chorei o dia todo sem saber direito o por quê. “Você só quer a parte boa, é isso?”. Não sei direito se foi nesta hora que meus sentimentos bagunçaram todos e veio tudo aquilo, mas desconfio que sim. Pelo menos foi nesta fala que fiquei pensando depois das lágrimas secarem e o dia acabar.
Chorar cansa. Cheguei exausta em casa. Sorte não ter ninguém pra conversar porque provavelmente eu não conseguiria. Melhor ainda porque não precisei explicar porque eu estava com a cara tão inchada e como eu consegui chorar tanto sem borrar o rímel. Deve ser treino… só pode ser…
Nessa noite dormi só de um lado da cama, como se eu dividisse a cama com alguém. Dormi um sono só. Nem sede, depois daquela desidratação toda, eu senti durante a noite.
Acordei no sábado como se já tivesse se passado um mês, distante de toda a minha confusão. Como se o efeito do álcool de uma noite de porre tivesse passado. Mas confesso que eu ainda estava de ressaca. “Você só quer a parte boa, é isso?”. Ainda tentava responder a pergunta. Não sabia se realmente só queria a parte boa. Olhei o outro lado da cama, vazio, e levantei.
Como eu não tinha a resposta pra minha pergunta, resolvi cortar o cabelo. Não resolve, mas sempre me ajuda a ter a sensação de que algo mudou. Nem sempre é possível mudar de dentro pra fora, então, lá fui eu tapar o sol com a peneira.
Demorei horrores no salão mas nada como um salão num sábado a tarde! Até amizade com uns travestis eu fiz! (E um pouco aí está meu motivo pra tanta demora: as duas fofas eram muito mais bonitas que muita mulher por aí! Muito mais do que eu!).
Pra completar a tarde de sábado, resolvi ir ao cinema. Mal lembrava qual tinha sido a última vez a ir. Me acostumei a ir ao cinema sozinha, já que o que não tem remédio, remediado está! E até gostava, ainda mais em São Paulo, onde geralmente eu não era a única criatura na sala de exibição sem ter com quem dividir a pipoca. Mas de uns tempos pra cá estava bem difícil ter disposição para a programação comigo mesma. Cheguei a me organizar algumas vezes para assistir alguns filmes, mas sempre desistia. Uma espécie de trauma, talvez?
Respirei fundo, contei até dez. “Um ingresso pro filme O melhor amigo da noiva”. UM ingresso… Podem rir. O filme mais água com açúcar de todos os tempos. Não precisava ser gênio pra saber. Mas eu quis assim. Pelo menos por aquela tarde. E até porque, já que eu precisava provar a mim mesma que ainda conseguia ir ao cinema bem, feliz e sozinha, não existiria maior provação do que assistir uma comédia romântica de “todos viveram felizes para sempre” do que esta!
Antes de entrar na sala, comprei uma pipoca grande e suco. Olhei praquele balde de pipoca, olhei pro meu lado. Ninguém… O que eu ia fazer com tudo aquilo de pipoca? Lembrei mais uma vez da pergunta: “Você só quer a parte boa, é isso?”
Já me entupindo de pipoca, pensei alto: não sei se SÓ a parte boa, mas a parte boa com certeza…
O filme se passou sem grandes dramas, até porque era uma comédia romântica. E claro que eu não comi nem 1/3 da pipoca! Mas a maior emoção foi que eu nem chorei no final feliz! Aquilo foi inédito e eu até anotei pra contar para a minha mãe que obviamente não acreditou em mim.
Cheguei em casa com uma leveza na alma. Não, eu não quero só a parte boa. Não é nada disso. Eu sinto falta mesmo é de dividir a parte ruim. Sinto falta de ser a voz que acalma e de poder dar apoio a alguém, que precise ou não disso. Da mesma forma que senti falta de um abraço no fim do dia daquela sexta-feira. É bom não ter que dividir a cama durante a noite. Mas é melhor ainda acordar e olhar do seu lado e ver que tem alguém ali. Não quero só a parte boa, quero o pacote completo.
Mais tarde, ainda tive coragem (!) e disposição pra sair com a MP e mais 3 amigas dela pra tomar uma cervejinha. Melhor aproveitar muito bem as amigas e rir do que não tem solução enquanto o meu pacote completo não chega.