Agora a pouco, conversando com o meu irmão, ele colocou em palavras exatamente o que eu sinto. Ele disse: acredito que o sonhar também faz parte do viver. Muito diferente do que escutei da minha psicóloga essa semana: você entra de cabeça em tudo o que você faz. Apesar que, indo um pouco longe, essas duas falas até se complementam. Talvez eu sonhe tanto e tão alto, e acredite tanto nesses sonhos, que acabo entrando de cabeça neles. É… talvez seja isso que eu faço… Acho que o problema de entrar de cabeça nas coisas é que, muitas vezes, esqueço que posso acabar dando um salto triplo mortal numa piscina bem rasa. Mas no fundo, não me importo de quebrar a cabeça em cada um desses saltos. Geralmente o que acontece é que eu fico naquele estado meio inerte, meio confuso durante um tempo e, no final, nem restam traumas. Tanto que vou lá, preparo mais uma vez o meu salto triplo, e lá vou eu.
É como escorregar num baile, no meio do salão (e de escorregões eu entendo bem mais que salto em piscina!). Você finge que nada aconteceu, abre aquele sorriso amarelo, e segue! Meio zonza, com o vestido sujo, mas segue!
Mas entendo também o problema de levar as coisas muito a sério. Pelo menos no meu caso… O que acontece é que, quando se leva tudo muito a sério, se pensa muito. Se pensa em tudo! Em cada detalhe, em cada ponto de interrogação. A cada passo que se dá, você racionaliza os próximos dez passos, sempre planejando o caminho correto. E se esquece, muitas vezes, que antes de dar o décimo passo, você terá outros nove antes. E que nesse caminho todo, muita coisa pode mudar e o décimo passo nunca acontecer.
Interessante que hoje acordei com a estranha sensação que muitos padrões da minha vida tinham mudado. Não aquela mudança brusca, daquelas que você entra num cabelereiro e pede para pintar seu cabelo de rosa-choque. Mas uma mudança sutil, que você pede para cortar um mísero centímetro do cabelo e, quando acaba, você percebe como até seu rosto mudou.
Hoje foi assim. Não ganhei na loteria. Nem ganhei um aumento. Muito menos recebi um telefonema. Nem por engano. Mas acordei com a sensação de que aquela rigidez toda de quem planeja todos os dez passos não existem mais. Pelo menos é nisso que eu quero acreditar. Que, de agora em diante, um passo de cada vez é o suficiente. Mesmo que eu me jogue de cabeça neste momento. Não quero mais contar cada um dos passos, vivê-los antecipadamente, tentando entender cada vírgula e cada ponto de interrogação. Agora eu vou só sonhar com o décimo passo. E viver cada um dos nove anteriores no seu tempo. Sem fazer questão de chegar no décimo da forma que eu imaginei. E esperar pra ver o que acontece. Talvez eu nem chegue no décimo passo. Mas não vou ficar pensando em como isso pode ou não ocorrer. Muito menos calcular a probabilidade de cada evento. Tentar prever como tudo acontecerá até lá não me satisfaz. E nem me acrescenta.
Querer, por hoje, basta. Vou continuar sonhando, acreditando só que o sonhar também faz parte do viver. E se o sonho não acontecer, não faz mal. Já o vivi em sonho. E outros sonhos sempre virão…
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