sábado, 8 de setembro de 2007

E eu que pensei que esse dia nunca fosse chegar

Quem me conhece um pouco sabe que uma das coisas que eu mais abomino na vida é fazer compras no supermercado. Não me movimento até um deles até que a minha geladeira faça eco por, mais ou menos, uns dois meses seguidos. Geralmente o que acontece é que minha mãe sempre aparece antes disso e, abismada com o estado da minha geladeira, resolve o problema ela mesma. Mas dessa vez isso não aconteceu e, desde sexta-feira pela manhã, comecei a me preparar psicologicamente para sair da minha casa em pleno final de semana e enfrentar aquele carrinho medonho e aquelas prateleiras intermináveis.
O meu desafio estava marcado (na minha cabeça, é claro!) para sábado no final da tarde. Mas, como a minha maior diversão é remarcar as coisas de última hora (compromissos comigo mesma na maioria das vezes), achei que o melhor dia seria domingo, pela manhã. Foi uma mudança estratégica, já que a probabilidade de encontrar o supermercado menos congestionado num domingo de manhã é maior que num sábado a tarde.
Acordei, enrolei quase uma hora todinha pra conseguir levantar da cama e lá fui eu. Escolhi o supermercado que eu frequentava quando eu morava lá na Rua Cubatão, quando eu corria para comprar queijo de nózinho para o Sr. Eu me Acho. O trauma com a fila do caixa e as gôndolas era menor nessa época e a minha vida muito mais tranquila. Cheguei e minha sina começou bem, por incrível que pareça. Consegui lugar para estacionar logo na porta e eu nem parei na vaga para deficientes físicos. Fiquei feliz com a minha sorte toda e entrei um pouco menos mal-humorada.
Como eu previa (a-ha!), o supermercado nem estava tão abarrotado de gente. E ainda, logo na entrada, uma menininha linda, de uns 3 anos que babava numa uva, me deu um sorriso que fez valer meu dia! Como eu amo criança!
Andei por todos aqueles corredores com uma paz que nunca imaginei encontrar num supermercado. Lembrei de muita coisa boa que já aconteceu na minha vida, principalmente da época que aquele era o supermercado que eu frequentava. O supermercado que eu comprava queijo de nózinho pro Sr. Eu me Acho. Não senti saudades do Sr. Eu me Acho. Porque acho que eu sinto pouca saudades das coisas que realmente deixaram a minha vida. Mas senti saudades daquele tempo, de quando era divertido fazer planos e esperar o telefone tocar… e ele realmente tocar! Mais uma vez na minha vida, de uma forma estranha (e num lugar mais estranho ainda para se sentir esse tipo de coisa), me dei conta que não é nenhum absurdo se sentir tão bem fazendo coisas tão simples. E percebi que muitas das minhas angústias eu invento e aumento.
Andando, consegui não só lembrar daqueles anos que passaram devagar. Mas também olhar, como pontos estáticos, fotografias, minha vida acolá, lá e aqui. Hoje eu complico um pouco mais algumas coisas por opção. Hoje sou menos orgulhosa, mais carente. Hoje sinto quase uma pontinha de pena de mim. Lá, eu sentia uma raiva absurda do outro. Lá, eu até engolia certas coisas e deixava passar, apostando no que iria acontecer hoje. Mas acabou que lá, o hoje não chegou e, além de sentir raiva do outro, senti raiva de mim. Hoje, estou quase fazendo a mesma coisa. A única diferença é que antes, eu procurava queijo de nózinho no supermercado, no meio da minha bagunça toda. Hoje, eu procurei azeitona sem caroço e recheada de pimentão. E quando encontrei, me dei conta que, antes, quem me pedia queijo de nózinho podia não prestar muito, ser confuso e etc. Mas eu não duvidava daquele sentimento. E, mesmo depois de tanta graça e encanto, aquilo acabou, o queijo acabou estragando na minha geladeira e eu consegui viver até hoje muito bem, obrigada (tirando a parte que nunca mais comi esse tipo de queijo na minha vida!). Não me arrependi nunca de ter procurado este determinado tipo de queijo no supermercado. Até porque de queijo eu gosto e comer alguma coisa do lado de alguém que, mesmo por um momento, só tem você do lado para fazer esse tipo de coisa é uma delícia. A gente se identifica até no queijo. Mas de azeitona, eu nem gosto. Eu até me proporia comer um vidro de azeitona, sabendo que eu poderia voltar outras vezes no supermercado (e nas minhas lembranças) e recordar dos tempos em que eu me sujeitei a comer azeitona para dividir algo com alguém. Acontece que a coisa não é assim tão simples. Quem gosta de azeitona não anda se contentando com uma só! A divisão que ele gosta nada tem a ver com eu + ele. Tem coisas que não dá pra dividir. E eu não estou falando nem da azeitona nem do queijo.
Percorri, então, todos os corredores. Com a minha felicidade toda, querendo todo aquele sentimento que vinha a cada passo, comprei muita coisa lembrando de muita coisa. Até encontrei as azeitonas. Na última prateleira. Era a minha última opção. Na verdade, não gosta de pensar em última opção. Era, talvez, só a minha escolha naquele momento. Pode até ser que alguém, algum dia, consiga me convencer que azeitona é bom. Peguei o pote na mão e pensei: será que vale a pena ter alguém na minha vida (sem que eu esteja na vida desse alguém realmente!) que goste de azeitonas com pimentão?
Larguei o pote lá. Fui pro caixa que, felizmente, estava vazio. Nem peguei fila!
Voltei tão feliz, tão leve. Nunca pensei que um pote de azeitonas pudesse pesar tanto. Gostei tanto desta manhã de domingo no supermercado que certamente vou arrumar umas coisinhas para comprar na próxima manhã de domingo. E não penso que voltarei para buscar o pote de azeitonas não!

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