quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre quase nada, de tudo um pouco

Conversando ontem com o meu irmão, eu dizia como eu me sentia, nessa época da minha vida, chegando aos trinta anos, com nada de concreto. Não tenho o emprego que eu imaginava pra mim, não casei, nem menos tenho um namorado, não tenho o corpo que queria, não tenho filhos. Além disso, os dias passam e vejo cada dia mais que as pessoas inteiras mais próximas a mim não passavam de metades. Pessoas essas que aparecem pelo caminho, porque a cada dia que passa percebo o quanto posso contar mais e mais com a minha família. Claro que família a gente não escolhe, mas no final, acho que é melhor assim. Parece que eu não sou muito boa para fazer escolhas.

Falei sobre isso com o meu irmão, de forma mais sucinta e direta, já que paciência não é a grande virtude dele. Ele sempre foi bom em simplificar as coisas, pelo menos as minhas. E é por isso que eu gosto tanto de conversar com ele. A primeira reação dele foi: "Que drama! Será que você não consegue ficar em paz com o dia de hoje e perceber tudo de bom que se passa na sua vida?". Chorei lágrimas de silêncio, com pena de mim mesma, para depois sentir raiva. Raiva de mim porque não sou digna do sentimento de pena. Não sou essa pessoa fraca que muitas vezes eu sismo em acreditar que sou. Não sou vitima de circusntância nenhuma, nem mesmo das minhas escolhas. E eu repito isso em voz alta, depois de desligar o telefone, tentando lembrar que eu sempre gostei de improvisar no palco e dançar conforme a música.

Tentei pensar um pouco sobre mim, sobre o que não acontece nesses últimos dias. Engraçado que tenho pensado pouco, analisado pouco. Sempre fui de torturar os meus sentimentos, até que eles confessassem o que eu tinha. Mas agora não penso, não sinto, não questiono. Até agora. Tem coisas na vida que não mudam nunca, mesmo quando insistimos em fazer tudo diferente. Enquanto outras, quando a gente menos percebe, já passaram. Voltei a me olhar do avesso, que é onde geralmente as feridas mal cicatrizadas aparecem a olho nu, sem cascas que nos fazem acreditar que já estão curadas. Não quero me resolver nunca, porque não sei o que seria de mim no dia em que tivesse certeza de como um dia começaria e terminaria. Os dias até ontem estavam demorando a passar. Pela superficialidade e falta do que sentir. Pela auto piedade de quem se deixa ser arrastada pela superficialidade das coisas não breves. A ausência de fatos me mostra, mais uma vez, que não se precisa de algo diferente todo dia. E que no silêncio do que é singelo, coisas novas surgem na mesmice do tédio. Que nem é tão chato assim.

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