terça-feira, 26 de outubro de 2010

Algumas horas atrás

Caiu na cama em prantos. Morreu de cansaço e de saudades. Quis mudar de hemisfério, de língua, de casa. Deixar o carro onde estava, trocar o calor pelo frio, ter mais noite do que dia.

Quis não ter voltado. Queria ter ficado. Lembrou de quem era quando teve coragem de deixar tudo pela primeira vez. E tudo, naquela época, era bem pouco. Fechou os olhos molhados e inchados e se viu como alguém que não queria ser. Arrependeu-se de ser quem havia se tornado.

Lembrou-se de quem havia sido, não tão longe, não há tanto tempo atrás. Gostava de ser quem ela era ao lado dele. Talvez não fosse ele. Talvez fosse só a distância e as circunstâncias. Mas era nele que ela pensava quando lembrava de si mesma.

Dormiu em meio às lembranças e vontades. Acordou com a mesma disposição de quem não precisa de lágrimas e de saudades para saber quem é e o que quer. Ela sabia. É só questão de tempo, pensou sem suspirar. Não havia mais sonhos, nem idealizações, nem planos. Ou era tudo isso junto, sem se preocupar com certezas ou duvidar da vida.

Ela pode não saber o que quer da vida, mas já sabia o que esperar dela. Preferiu olhar pro seu mundo de forma diferente do mundo lá fora. Sabia que era muito melhor que os problemas alheios que insistiam em jogar pra ela. Tanta gente lá fora prefere gritar e culpar o que está fora, ao invés de procurar o que está errado lá dentro.

Já não dormia oito horas mas percebeu que era só desabafar, chorar meias lágrimas pra se lembrar de quem era, separar seu mundo do mundo de merda lá fora. Ainda sentia saudade: do frio, dele, da outra língua. Mas não deixou de ser quem ela tinha aprendido a ser ao lado dele.

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