domingo, 15 de agosto de 2010

As pessoas da minha vida #5 – Não por acaso

Não por acaso as pessoas entram na minha vida. Aliás, eu não acredito no acaso. Vivo procurando sentido em tudo que acontece. Confesso que é cansativo imaginar que vivo no Mundo de Trumman e que vivi as melhores épocas da minha vida quando tirei férias dos porquês, “deve significar que...”, essa pessoa veio pra me mostrar que...”.

De uns tempos pra cá parei de procurar explicação enquanto eu estava vivendo as situações, conhecendo novas pessoas. E, estranhamente, tem feito mais sentido. Nem sempre é óbvio, nem sempre é automático. Nunca percebo em cinco minutos. Difícil alguém significar ou mostrar algo pra outra pessoa em cinco minutos. Eu sou imperceptível em cinco minutos pra qualquer pessoa desconhecida. Não chamo atenção, não sou excêntrica. Nem tatuagem eu tenho. Mas voltando... As pessoas que aparecem na minha vida não aparecem por acaso. Às vezes elas permanecem por um breve período. Outras aparecem quando pareciam que sempre estiveram ali e me conhecem de outras vidas. Outras sentam do meu lado no metrô e puxam papo, contam sobre a vida e soltam frases, e fazem perguntas, e vivem o que já vivi ou o que estou vivendo. E me ajudam a questionar. E me ajudam a responder as perguntas que eu gostaria de ter feito a mim mesma. Já perdi a conta de quantas pessoas já conheci que estavam vivendo o que eu tinha acabado de superar. E que o meu melhor conselho foi: “viva o que você tem para viver. Não importa o que eu passei e não importa o que eu te fale. Você vai ter que viver e ver com os seus olhos. Ter o coração completamente quebrado, em pedaços que você não pode juntar, pra perceber que mesmo assim é forte. E que você não precisa juntar as partes pra ter um coração novo de novo”. E eu me enxergo nessas pessoas. Em situações delas que são minhas. No mesmo momento ou não. Na absurda semelhança ou na completa diferença. Porque as diferenças também nos ajudam a enxergar o que somos através daquilo que nunca fomos. Que queremos ou não ser.

Ainda estou aprendendo que, da mesma forma que certas pessoas não aparecem por acaso, elas duram o tempo que elas devem durar. Acho arrogância da minha parte pensar que posso mudar a realidade de alguém só porque simplesmente quero que ela fique mais ou volte sempre. Estou aprendendo a deixar que as pessoas saiam e entrem na minha vida e, principalmente, aprendendo a ficar em paz com isso. Porque o tempo de cada um comigo também não é por acaso. O que eu posso fazer é deixar a porta aberta pra quem quiser voltar.

Essa semana eu estava conversando com o Ryan sobre a vida. Comecei a sentir tudo aquilo misturado de quem está se despedindo de uma vida para começar outra. Olhei pra ele e lembrei de como nos conhecemos. Lembrei da paz que eu sentia dois dias depois de ter decidido ficar em Toronto mais alguns meses. Lembrei que estava sentindo uma espécie de vazio. Não aquele vazio de quem sente a falta, a necessidade de ser preenchido. Mas um vazio bom, de quem terminou de reformar a casa, jogar fora os móveis velhos e ainda sente o cheiro de tinta fresca. Era um dia de céu azul e sol, sem a umidade insuportável do verão de Toronto. Estava em casa de bobeira e resolvi para dar uma volta. Andei seis passos antes dele me encontrar. Eu ainda estava em frente de casa e ele parou para conversar, me fazendo girar rápido o botão do português para o inglês e sorrir com a surpresa.

Ele é meu vizinho e, desde a noite do dia seguinte àquele, estamos juntos. Nesse tempo, aprendi muitas coisas com ele. Uma delas foi viver um relacionamento que tem data pra acabar. (Bom, não sei se realmente aprendi porque, preciso confessar, comecei a chorar no “data pra acabar”). Aprendi que um homem pode me tratar bem, mesmo nessas circunstâncias. Porque, veja bem, eu não estava acostumada com isso. Nunca imaginei que ficar bem com alguém pudesse ser simples. Lembro de tudo que me permiti sofrer em outros relacionamentos, em que homens se justicavam tanto, complicavam tudo. Eu permitia e aceitava, sempre. Tão sempre e com todo mundo que até achava natural a vida ser tão difícil de ser dividida. Aprendi com ele que, pra ser feliz do lado de alguém, você não precisa se apaixonar, ficar cega, desejar uma festa de casamento e filhos. Você mal precisa de planos. Eu não sou apaixonada por ele e, tenho certeza, nem ele por mim. Foi importante conhece-lo e ficar com ele durante esse tempo. E só foi possível viver e aprender certas coisas agora. Não é por acaso.

Eu poderia contar aqui a história de muitas pessoas que conheci no momento certo, com os diálogos certos e que me fizeram olhar pra minha vida de forma distinta. Ou ficar em paz com o meu caminho percorrido. E me dá um aperto no coração em pensar quantas vezes eu me fechei, fiquei alheia às pessoas na rua, evitei conversas no metrô ou no corredor do supermercado. Tenho andado com os olhos mais abertos, com o coração mais tranquilo. Sem tensionar encontros que acontecem todos os dias, pelo meio do caminho. Tentando não procurar sentido, mas deixam que eles sejam. Que pessoas tomem seus espaços e mexam no que quiserem. E que vão quando não fizerem mais sentido, que voltem ou permaneçam o tempo que for necessário.

6 comentários:

  1. Eu sei para que apareci na sua vida: para dar um norte naquela enorme miscelânea que havia se formado!Pra ser a luz que iluminaria seus dias canadenses! hehehe ;o)))

    De verdade, Maricota? Olha só quanta diferença daquele monte de perguntas de 4 meses atrás!

    Eu dizia pra você: camla, o que vc está aprendendo vc só vai saber depois... Taí!

    Então, guarde bem esse momento no seu coraçãozinho, pra vc le lembrar quando a coisa apertar. A gente grita, a gente esperneia, tudo pq a gente quer CONTROLAR. E, pqp, A GENTE NÃO CONTROLA! Mas passa, né, Maricota? Passa e aprendemos, mesmo sem perceber. E de repente a gente acorda num dia qualquer, com um monte de respostas na cabeça, com um sentimento diferente no coração. Foi a mágica que se fez!

    Falta pouco mais de um mês, e eu estou te esperando aqui, ansiosa, pra ver se bofe canadense sabe cortar cabelo de brasileira!

    Um beijo muito mais que enorme!

    Ma

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  2. Ah, e eu adorei isso:

    "Na absurda semelhança ou na completa diferença. Porque as diferenças também nos ajudam a enxergar o que somos através daquilo que nunca fomos. Que queremos ou não ser."

    Pq eu adoro gente diferente de mim, eu vivo nelas o que jamais viverei em mim!

    + bjs

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  3. Mari! Claro que vc não apareceu na minha vida por acaso!

    Lembro direitinho daquela nossa conversa no restaurante do Masp, que vc começou a contar da sua vida, suas histórias... e eu fui me vendo em cada uma delas! Detalhes todos diferentes mas que despertaram os mesmos sentimentos que vc descrevia, em mim! Vi o quanto meu caminho percorrido tbm tinha sido longo, como o seu. E como cada uma das minhas escolhas erradas me fizeram ser quem eu sou hoje!

    Agradeço todas as minhas escolhas erradas... Cada homem que eu pude ajudar a mudar e seguir em frente. Mesmo que isso incluísse eles me deixarem para trás... Porque não, eles ainda não estavam preparados, não andaríamos no mesmo ritmo nunca!

    Eu me vi em vc quando eu estava completamente perdida. E, sim, vc foi meu norte enquanto eu estava no Canadá! Ou melhor, meu Sul! Porque é pra baixo da linha do Equador que eu quero estar daqui 1 mes e pouquinho!

    Muitos beijos!

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  4. Mari,

    Você é uma das pessoas mais incríveis que já conheci! Lembro do dia que você me contou sobre suas inseguranças e eu pensei "Como assim? Ela é tão bonita, inteligente, carismática, engraçada, envolvente...". E eu acho que cheguei a te falar isso, você não merece "aceitar a vida", você merece "viver a vida!".

    Te conheço pouco mas fico muito feliz de ver você vivendo, se permitindo, errando e aprendendo! Desejo que você seja sempre muito feliz!

    Bjo grande, Mô.

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  5. Mariana, tudo bem? Encontrei seu blog pelo Papo de Homem, fuxicando usn perfis aqui e lá ^^'. Bom, gostaria de agradecer imensamente por este post. Acho que as vezes, algumas de nossas visões, só as compreendemos melhor, vendo-as pelas palavras de outros. Sei que este post foi feito para si, mas gostaria de agradecê-lo, pois me veio em um momento muito a calhar de minha vida. Aliás, gostei muito do seu blog, já é um favorito :).

    Grata pela atenção.

    Leonora

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  6. Oi Leonora!

    Nossa, muito obrigada pelo seu comentário! Fico muito feliz quando as pessoas se identificam com o que eu escrevo... E acho que é exatamente isso que me motiva a escrever! Já me encontrei muito em textos alheios que, podem não ter resolvido, mas me ajudaram muito!

    Vc será sempre bem vinda!

    Um beijo!

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