Ah, os amigos de uma vida inteira... Não dá pra medir esse tipo de amizade pelo tempo em que se conhecem. Amigos de uma vida inteira você conhece desde sempre. Quando você conhece, percebe que vocês já se conheciam. Amigos de uma vida inteira é aqueles que bate o santo de primeira.
Ok, nem sempre é de primeira a empatia que a gente sente pelos amigos de uma vida inteira. Graças a Deus a gente tem a oportunidade de mudar de ideia sempre que a gente quiser! Mas posso dizer que é difícil de acontecer um caso de que eu não ia lá muito com a cara da pessoa e me aproximei devagar e virei amiga pra sempre. Até porque é bem difícil eu torcer o nariz pra alguém, seja lá como a pessoa for.
Faz dois meses que eu estou longe de todos e quaisquer amigos. E faz dois meses que eu tenho sonhado muito com eles. Gente que fez parte da minha vida em todas as fases. Gente que fez parte da minha rotina em diferentes épocas. Porque meus amigos de verdade, de uma vida inteira, nem sempre conviveram comigo, me viram toda a semana, desde sempre. Mas tenho sonhado com muitos, todas as noites, e todos misturados. Grandes amigos da época do colégio, da faculdade, do mestrado. Do ballet, da rua, da internet, de outra nacionalidade. E acordo com uma sensação de segurança e leveza.
Você aprende a reconhecer amigos de uma vida inteira quando tira o peso e a cobrança dessas relações. Pára de criar expectativas. Sim, até em amizade a gente cria expectativa. Quer as pessoas sempre disponíveis e elas não são e não há nada que você faça que possa controlar isso se o outro não permitir. Amigo de uma vida inteira você fica muito tempo sem dar e receber notícia e nada muda na relação. Você sabe que o outro está vivendo a vida dele e quando o outro quiser dividir, ele sabe que vai encontrar a porta aberta. E assim é com você também. Eu não me preocupo em estar sempre em contato com os meus amigos de uma vida inteira. Mas eles fazem parte da minha vida sempre! E como é a dinâmica? É natural. É a mesma coisa que saber que meus pais e meus irmãos me amam. Que lembram de mim quando vêem algo relacionado à ballet, por exemplo, mesmo que seja um grampo de cabelo. Meu irmão não me avisou que ele vai casar, por exemplo, mas fiquei sabendo e não fiquei brava por ele não ter me contado. Fiquei feliz por ele, farei o que puder para ajudá-lo no que for. Sei lá porque ele não avisou. Acho que é porque deve ser chato ter que ficar contando pra todo mundo porque você está tão feliz! Mas isso não faz com que eu goste menos dele. Quero a felicidade dele e isso basta!
Com os meus amigos de uma vida inteira é a mesma coisa. Esses dias, passeando pelas lojas, vi um óculos de sol de bolinha, igualzinho ao que uma grande amiga minha perdeu uns tempos atrás e eu comprei. Eu não falei pra ela ainda, faz tempo que não nos vemos (se duvidar, mais de um ano!), mas ela está sempre no meu coração.
Tem também os amigos de uma vida inteira que eu acabei de conhecer. Eu sei que esses eu vou precisar do tempo pra me dar razão. Mas a gente reconhece ou se apega à isso. Se não nas coincidências, na empatia que sentimos na primeira conversa ou na disponibilidade recíproca pra ter pessoas de coração grande por perto. E a distância não é capaz de diminuir nem os recém-chegados à melhor condição de amigo! E eu tenho exemplos lindos de como isso é possível. De como amigos de verdade você não escolhe, reconhece. Mas como quase tudo nessa vida em termos de relação, depende de ambos pra dar certo! Da abertura e da disponibilidade.
A última vez que isso aconteceu faz poucos meses. Eu já estava de malas prontas e não tinha mais nada que me prendesse na minha vida antiga. E em plena véspera de feriado fui almoçar com uma menina (ou mulherão, depende do ponto de vista!) que eu não conhecia e fazia tempo que não me reconhecia tanto em alguém! Ela foi contando da vida dela e eu fui lembrando da minha. Dos desencontros filhos da puta que já vivi por aí. E rindo, feliz da vida, dos encontros como aquele que estava acontecendo, naquele minuto!
A gente nunca tinha se visto na vida e ela foi falando da vida dela e eu da minha. E por que falar assim da própria vida, dos piores medos pra quem você nem conhece? Olha, eu penso mais em “por que não falar?”. As coisas passam tão rápido e qual o problema em assumir por aí que você já foi burra, ou louca, ou impulsiva, nessa vida? Que já amou demais e se amou de menos? E quem não foi? E quem não fez? Eu só sei que foi ela quem segurou um super perrengue meu por aqui! E, ainda por cima, estando em outro hemisfério. É quando você está sem chão e, mesmo sem pedir ajuda, alguém te oferece – ombro, colo, ouvido e voz, muito obrigada! – que você percebe com quem pode contar.
Com amigo da vida inteira você não briga. Você se afasta, respira fundo e volta. Tudo bem, pode até rolar um bate-boca, uma alteração nos nervos, um descompensamento momentâneo da relação. E ainda bem que a gente não precisa dormir na mesma cama que os amigos pra uma vida inteira. Eu já me esquentei com alguns dos meus amigos e, quando é pra vida inteira, isso passa. Sempre passa. Geralmente é porque não concordo com algo mais sério e porque eu perco a paciência com a pessoa. Não por julgar. Mas porque sei que a pessoa vai se arrepender, perceber e sofrer pela decisão que ela tomou. Poucas coisas eu não consigo entender ou apoiar mesmo que, se eu estivesse na situação da pessoa, eu escolhesse diferente. Mas acontece. Nessas horas eu aviso que vou me afastar, que eu quero deixar de ficar sabendo certos acontecimentos da vida da pessoa e que ela pode contar comigo caso ela se foda e se arrependa. E que faço questão de continuar do lado dela pra todas as outras. Claro que é difícil de manter o contato. Mas as coisas sempre voltam ao normal quando a amizade é pra uma vida inteira. Já aconteceu algumas vezes. Sempre existe um certo estranhamento na reaproximação. Mas meus amigos pra uma vida inteira sempre me entendem (e me perdoam, é verdade! Porque tenho que admitir que sempre sou eu a cabeça-dura que tem dificuldades pra lidar com certas coisas).
Os meus amigos de uma vida inteira estão sempre na minha vida. Mesmo que eu não possa abraça-los tanto quanto eu gostaria. São as pessoas que eu amo mesmo que eu seja desleixada e deixe de dar notícias. Mas que sei que, quando eu o fizer, eles vão ficar felizes de saber de mim. São os amigos que tem meu sorriso no meio da tarde, quando recebo notícias pelos amigos dos amigos, pela atualização do facebook ou por emails e telefonemas. Amigos da vida inteira são aqueles que você sempre tem vontade de abraçar quando pensa neles.
Tá. Eu chorei mesmo. Tá feliz?
ResponderExcluirPor essas e outras que eu te odeio! ;o)
Beijos e abraços diários, e quando eu penso em vc!
Nossa, Mari, que SAUDADES que bateu!!! Já estou feliz de sentir o abraço gostoso que vou te dar a próxima vez que te ver...seja lá quando for...beijos
ResponderExcluirAi, chorei, Al... Hahaha... tbm estou com MUITA saudades! Vc sabe que faz parte da minha vida inteira, ne?
ResponderExcluirMari, vc ja sabia que tava no meio disso tbm! :)
Um beijo e um abraco esmagador pra ambos!
adorei seus textos!
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