Não se conheciam. Só sabiam da existência um do outro. Também nunca haviam se visto. Começaram a se falar pela internet, num sábado morto, dia que provavelmente os dois estavam entediados demais, sozinhos demais. Era início de janeiro e ela ainda sentia que precisava se despedir de certas coisas do ano interior. Mas não era melancolia o que ela sentia. Era quase esperança de dias mais coloridos, uma quase vontade de tirar tudo dos lados, de não ter no que esbarrar e poder dançar sem música, sem espelhos, sem hora.
Dele, ela não sabia quase nada. Começou a imaginá-lo aos poucos e a desvendá-lo por alguns ângulos na medida que a conversa ia acontecendo. Enxergou semelhanças, procurou características em comum. Sorriu quando as encontrou mesmo sabendo que elas poderiam só existir na sua imaginação. Era isso que ela mais gostava: imaginar em como seria o jeito dele, quais seriam suas primeiras impressões quando se encontrassem.
Conversaram outras vezes na mesma semana. Mas era no silêncio das teclas que ela o tinha nítido nos seus pensamentos. Não era fantasia ainda. Ela já não sonhava acordada, não se permitia mais.
Escutaram a voz um do outro separados pela distância entre os bairros que moravam. Dormiram juntos mas não se abraçaram. Naquela noite, ela se encontrou com ele em sonho e o reconheceu na forma de sorrir pra ela. Sonhou com ele, não contou nada. Agora já imaginava seu gosto, seus olhos, suas mãos.
Teve medo, só não sabia bem do quê. Não, não era medo de sentir medo. Talvez fosse medo de colocar suas fantasias frente a frente com a realidade. Ela sabia pouco sobre ele, mas talvez já soubesse o suficiente. Sentiu medo da realidade, de como seria quando fosse. Preferia ainda o "se fosse", mas a urgência em vê-lo já começava a falar mais alto.
Ficaram dois dias sem se falar depois de terem escutado a voz um do outro. A distância permanecia enorme depois que se aproximaram pela primeira vez. Ela se desesperou algumas vezes neste tempo enquanto imaginava que talvez não fosse possível conhecê-lo, mesmo sabendo que ela mesma ainda era capaz de se surpreender consigo mesma. Pensou se seria possível realmente conhecer alguém sem se conhecer primeiro.
Ela ainda não saberia descrevê-lo. Só queria tê-lo ao lado. Seriam só primeiras impressões e, talvez, mesmo depois de muito tempo, permaneceriam como primeiras.
Se encontraram, enfim. Foram beijos e abraços quase desesperados. A voz dele era ainda mais bonita com a boca dele perto do ouvido dela. Sussurrada e sem fôlego. Uma voz que sorria em consonância com seus olhos. Se desvendaram no chão, se reconheceram nas conversas que separavam os beijos, se confundiram na cama.
Ela o olhou nos olhos. Era disso que ela precisava. Já conseguia confrontar as projeções feitas dias atrás com a realidade doce que estava bem a sua frente. Não precisou lidar com a frustração porque ele era quase o mesmo que ela havia imaginado. Agora com gosto, voz, toque, tudo ao mesmo tempo. Ela pensou em querer saber mais, mas ir além era difícil para ela. Estavam frente a frente, sem limites físicos. Preferiu calar perguntas e ansiedades que invadiam seus pensamentos e confundiam seus sentidos. Não queria sentir. Queria poder pensar e transformar tudo em equações matemáticas com respostas precisas. Agora tinha medo das respostas, de confirmar suas hipóteses feitas nas noites que pensou nele antes de se verem. Tentou sufocar a vontade de querer mais. Ainda existiam outros limites.
O querer mais existiu, mesmo abafado. Desejou segundas e terceiras primeiras impressões. Ela já sabia que só esta não bastaria antes mesmo de se concretizar. Mas calou. Sempre soube que gostava conhecer as pessoas além da superfície. Sabia quando o pouco era pouco e quis mais. Não pela impossibilidade, só pela incapacidade de lidar com a insuficiência e brevidade do pouco.
Talvez ela não saiba, mas ela já consegue aceitar as primeiras impressões como últimas. Só gostaria que fosse diferente com ela algumas vezes. Não pensou em quais seriam as primeiras impressões dele. (Dormiu e acordou sozinha. Guardou suas primeiras impressões com carinho, sorriu e, desta vez, não chorou.)
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