Dizer que confundi o real com o ideal e achar que isso basta ainda não me conforta. Não acho que é só uma questão de confusão. Mas não faz assim tanto sentido nesse meu jeito de sentir tanto...
Se conheceram por um terceiro. Nada demais, sem expectativas. Ou melhor, talvez expectativas, mas disfaçaram. Expectativas diferentes, é verdade, mas ainda assim, expectativas.
Depois do primeiro beijo, como sempre, ela ficou encantada. Ele já sabia que seria assim. Ela era inteligente, interessante e um pouco diferente das outras. Também era transparente e previsível. Obviamente encantada, perdia seu encanto. Ela não faz idéia do que passou pela cabeça dele depois daquela noite. E nem das outras que vieram. Só sentia. Não se tratava de não dizer, também não mostrava. Só um pouco dele, que ela via através de seus olhos. Ah, os olhos dele... Ela nunca havia encontrado com olhos expressivos que não pudesse decifrar, como os dele. Não era curiosidade o que ela sentia, só não conseguia explicar. Assim que se conheceram, ela queria ter conversado mais mas só disfarçou e deixou tudo como estava.
Na primeira vez que saíram só os dois, ela sentiu borboletas no estômago. Sufocou-as. Se sentia insegura na frente de alguém bastante seguro. Ele já sabia o que iria acontecer. Foi então seduzida, como sempre gostou de ser, pelos olhos dele. Gostava de se sentir como quem flutua e tem medo de abrir os olhos para saber qual a altura que tem abaixo de seus pés. Naquela noite, não se importou com o que ele sentiu. Acreditou no que seriam as suas próprias lembranças e multiplicou por dois. Sentia pelos dois. Talvez fosse uma realidade inventada. Mas, para sentir, aquilo bastava. Tentou não pensar. Deixou pra lá.
Na primeira vez que ele foi a sua casa foi tudo perfeito. Sempre quis ter alguém para dividir o sofá, os filmes e a garrafa de vinho. Não era questão de romance. Ela só preferia mesmo ficar em casa, um silêncio compartilhado e histórias bem contadas. Era a forma que ela encontrava de acalmar todo o vazio que sentia. Não estava apaixonada. Muito menos sofrendo. Só era transparente demais.
Ele ainda parecia o mesmo do dia que se conheceram até a primeira vez que dividiram a mesma cama. Foi a última vez que se olharam nos olhos. Como quem já soubesse, ela trocou os pés pelas mãos depois disso. Escreveu sobre coisas que nem sabia sentir. Coisas que ela não gostaria de ler se estivesse no lugar dele. No fundo, era só medo. Ela nem sabe o que ele pensou. Nem se sentiu alguma coisa. Só sabe que ele leu seus textos. Queria ter olhado seus olhos nesse momento. Talvez eles resolvessem falar. Depois de tudo, ele continuou o mesmo. Indecifrável. E só se afastou.
Chegaram a se encontrar de novo. Dessa vez se beijaram sem se olharem nos olhos. Ela não sabia o que era, ele estava diferente. Indiferente. Antes desse encontro, ele também havia falado pouco. E agora era como se fosse outro. Escolheu outras mulheres depois de beijá-la. Ela não estranhou, de tão estranho que ele lhe parecia. Alguns dias depois, ela voltou a procurá-lo. Sem muita pretensão, sem muita empolgação, como deveria ter sido desde o começo. No fundo, ela já sabia que não havia mais nada ali. Nunca houvera, afinal. Talvez não fosse mais interesse o dela. Talvez só questão de querer entender o que não tinha sido dito por ele. Resolveu não perguntar, não tinha espaço. A transparência era dela, não dele. Ele só chegou a dizer a ela que não queria machucá-la. Só não sabia que ela mesma era capaz de fazer isso sozinha.
Já não era mais questão de idealizar a realidade nem de realizar a idealização. Queria ter feito diferente, dessa vez, sem as confusões que ela criava. Por medo, por desorganização. Por transparência. Informação demais muitas vezes atrapalha. E muitas vezes nem ela sabia o que fazer consigo mesma. Passou momentos de indecisão entre aqueles olhos indecifráveis, daquele menino de sinais ambíguos e outros olhos, mais claros e igualmente mais distantes dela. Sabia o que queria mas insistia em assuntos findos como quem tenta disfarçar o que se passa no coração.
Queria voltar no tempo, recomeçar o que ainda lhe era novo. Já não podia. Depois de tanto fantasiar, a menina já havia pisado na realidade. Só esqueceu que não sabia viver nela. Correu para os dois lados, tentando buscar o que, talvez, só pudesse realmente encontrar naquele que ainda não conhecia. Tentou restaurar o que já havia terminado. E correndo sem caminhos, não chegou. Deveria ter sentado e fechado os olhos, em silêncio.
Ela só queria as borboletas no estômago que ele trouxe da primeira vez que se viram sozinhos. Queria se sentir a menina insegura na frente daquele menino seguro. Queria perder seu tempo olhando praqueles olhos indecifráveis... e suspirar de novo. Sim, aqueles olhos sem que ela houvesse procurado por qualquer coisa.
Dá última vez que senti borboletas no estômago, era azia.
ResponderExcluirNão sou de me encantar não.
Beijas