sábado, 21 de fevereiro de 2009

Para onde eu não vou

Sexta-feira de Carnaval começou com um dia quente em plena seis horas da manhã. Acordei esperando já o dia terminar. Como a maioria das pessoas, eu mal via a hora de terminar uma semana de trabalho para ter cinco dias só pra mim.

Sem arrastar-se, o dia passou sem que eu o percebesse de fato. Mantive a concentração no meu trabalho e no meu umbigo, falei por quase uma hora e meia seguida numa sala só com seis pessoas e, ao invés de só deixar o tempo passar e o dia terminar mais rápido, vivi cada segundo daquilo. Sorri surpreendida por uma pergunta feita em voz alta, por outro que não eu: "é isso que você quer da sua vida, dar aula?"

Senti vontade de responder que era isso também que eu me perguntava quase todos os dias, que o que era só curiosidade alheia era uma das minhas maiores inquietações dos últimos meses. Foi quase essa a minha resposta. Sorri e disse que esperava respondê-la, quem sabe, antes de completar quarenta anos. E mudei de assunto rápido. Ou fingi mudar. E que escolhas na vida não são tradeoffs e custos de oportunidade?

Voltei da hora do almoço sem almoçar, mas satisfeitíssima. Não sobrou tempo nem para um suspiro e a tarde já estava terminando. Todas as pessoas já conversavam sobre os destinos do feriado prolongado e eu respondia, em paz, que escolhi ficar em casa e que, ainda na noite anterior, eu havia cancelado minha viagem para Florianópolis. Pra onde eu vou? Pra lugar algum. E não vou pra Florianópolis.

Algumas pessoas tiveram reações que variaram de desapontamento, passando pelo questionamento e indo até a reprovação. Sinceramente, isso não fez a menor diferença. Tenho consciência de que as minhas escolhas são as melhores no momento em que eu as faço. Não bati o pé para tentar convencer ninguém de que eu só preferi viver os meus cinco dias sem ter que cumprir o horário comercial fazendo tudo aquilo que eu tenho vontade - e que geralmente faltam horas nos dias curtos.

Aliás, não tenho a mínima intenção de convencer ninguém de nada. Me satisfaço com aquilo que sinto e que sei. E me fez tanto sentido não ir pra lugar algum que minha escolha não poderia ter sido diferente. Para mim, nada melhor do que viver cada um desses cinco dias sem pensar em horário, sem ter que se mostrar feliz e pular ao som de qualquer coisa. Meu silêncio me basta.

Gosto tanto de ficar em casa, aproveitar-me de mim mesma, que nenhum lugar seria melhor do que este que estou agora. Talvez essa quase necessidade venha do fato de conseguir me sentir inteira como nunca me senti antes. De uma forma tão intensa, tão verdadeira, que preciso me reconhecer assim antes de conseguir dividir com alguém. Alguém que ainda não é, que ainda não veio, que ainda não está. Ainda não. Será?

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