quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Em resumo

Tem dias que dá vontade de jogar tudo pro alto e tentar ser quem você era quando tinha 17 anos. Mas quando você pensa duas vezes e olha pra trás, percebe que mesmo aos trancos e barrancos, você fez muita coisa da qual se orgulha. Aos 17 eu pensava saber exatamente o que eu queria. Aos 27, percebi que só faço idéia de poucas coisas que eu quero. Todas elas, no entanto, são vontades e desejos das quais duvido abrir mão, caso eu não os alcance com 37.
Não sei se posso dizer que meus valores são outros. Penso que meus valores são tão concretos que não imagino tê-los construído. Quase que herdados de vidas passadas. Hoje só tenho um pouco mais consciência deles. De tudo aquilo que me move e me paralisa. Do que me causa enjôo, desânimo e do que vale a pena ser vivido. Dos tipos de pessoas que causam frustração, das que merecem meu perdão, daquelas que ficaram para trás e das que ainda cruzarão a minha vida e só cruzarão. E até mesmo daquelas que ficarão pra sempre, mesmo a quilômetros de distância ou com escolhas diferentes das minhas.

Dos meus 17 anos pra cá, acumulei mais erros do que eu gostaria mas, aos 27, aceito que foram muitos desses erros que me fizeram ser quem eu sou hoje. Fiz milhares de escolhas erradas que foram as mais sensatas no momento em que eu as fiz. Revisar a própria vida por vezes e vezes seguidas também ajuda a crescer. E talvez seja por isso que não canso de me revisitar tanto e tanto. E hoje, se pudesse, mudaria quase tudo em quase todos os meus momentos passados. Não lamento o que já foi. Passar o tempo lamentando é se auto-apunhalar pelas costas e isto requer um senhor contorcionismo.

E nessas curvas seguimos, acumulamos histórias, multiplicamos amizades, colecionamos amores. Quebramos a cara e o coração milhares de vezes. Desejamos morrer muitas vezes e matar outras tantas. Mas não fazemos nem uma coisa nem outra. Eu sou uma eterna exagerada. Já perdi a conta de quantas vezes morri de amores pra me apaixonar de novo. Mas nenhum deles foi vivido pela metade. Nenhuma das minhas cartas não enviadas foram escritas em momentos de delírio e alucinação. Mas até certos amores vêm com o prazo de validade vencido e, mesmo assim, eu os experimentei. Toda a frustração verdadeira, toda a lágrima fundamentada. Claro que nem tudo é sofrimento e minha vida, apesar de bem parecida, está longe de uma novela mexicana. Já vivi momentos perfeitos ao lado de pessoas tão imperfeitas quanto eu. Já enrosquei minhas pernas em outras pernas, já passei noites em claro sem dizer uma só palavra experimentando outros corpos, já tive orgasmos múltiplos verdadeiros e já fingi ter um ou outro.

Eu também já fui muito filha da puta, com quem mereceu ou não. Com amigos e com amores. Já deixei de atender o telefone e já passei trote também. Dos 17 aos 27 anos. Já traí e me arrependi. Já traí e gostei, pra poder mudar de idéia depois e nunca mais fazer. Já fui traída e perdoei e deixei pra lá e também já perdoei sem ter me perdoado por isso. A traição é a forma mais fria da covardia e eu aprendi a não ter medo de sentir medo.

Já decepcionei as pessoas e já fui decepcionada por elas. Já senti tesão por admiração e já perdi o tesão por decepção. E se decepcionar com alguém muitas vezes é pior do que se decepcionar consigo mesma. Mas mesmo assim é possível perdoar. Porque cada um sabe a escolha e a decisão que pode suportar.

Aprendi a não desistir de certas coisas. Mas, pra mim, ainda tem mais valor aprender a desistir de outras. Aos 27, aceito a realidade que quase sempre certas coisas não dependem só de mim. Que tudo tem seu tempo certo e que só eu passei por determinadas situações. Aprendi que na maioria das vezes um conselho é só um conselho e que conselhos não têm ecos quando não se têm ouvidos.

Hoje, muito mais que aos 17, deixo pra lá o que não vale a pena e carrego comigo tudo aquilo que eu acredito. Continuo sem escutar a maioria dos conselhos e continuo escutando meu coração. E penso menos em jogar tudo pro alto pra continuar vivendo um dia de cada vez.

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