sábado, 15 de março de 2008

E o que é?

Seria muita pretensão a minha tentar definir felicidade. Já ouvi argumentações dizendo que ninguém é feliz. Que felicidade é estado de espírito. Que não se é feliz, sente-se feliz. E sentir, o que é? Não é ser?

Li ainda a pouco num livro o depoimento de uma mulher que já passou por depressão e que hoje vive uma vida extremamente corrida. E ela disse que ela era feliz na depressão e não sabia. Que hoje ela se sente comprimida.
Poucas pessoas sabem, mas eu já tive depressão. Daquelas bravas. Que não se entende de onde veio, quais os reais motivos. Puf… Como se depressão precisa-se de reais motivos. É depressão justamente por isso, por não existir motivo algum, nenhum acontecido fora do comum que te deixa naquele estado inerte profundo.
Hoje, muitas pessoas me olham e acham que eu sou depressiva, me chamam de “véia”. Nem ligo. Eu sou o que eu sou. Adoro passar os finais de semana na minha casa, conversar todos os dias com a minha mãe pelo telefone, me divertir durante a semana trabalhando, esquecer do salário que eu ganho porque realmente não faz a mínima diferença já que não tenho nenhum sonho de consumo. Adoro ter dias pra eu ficar sozinha e não fazer nada depois de dormir pouco durante a semana.
A bem pouco tempo atrás eu me sentia mal por não me esforçar nadinha para sair com os amigos pra beber durante a semana, ir pra uma “balada animal” e viver momentos ultra-mega-legais em um lugar caro onde todas as pessoas ali pareciam super felizes e animadas. Incrível como as pessoas precisam tanto se mostrar felizes, bem-sucedidas, bem-arrumadas e acompanhadas. Não entendo como as pessoas precisam de tantas roupas, conhecer tantos lugares e tantas pessoas, viajar em tantos finais de semana para serem felizes. São tantas condições sine qua non pra ser feliz que ser feliz parece até cansativo.
A partir do momento em que me permiti abdicar dessas condições, me sinto muito mais leve e muito mais inteira. Não sei se verdadeiramente feliz, mas viva e verdadeira.
Não preciso ir pra um restaurante super caro, vestindo uma blusa carérrima, uma bolsa super-fashion, cabelo em dia, unha em dia, pele de pêssego E uma aliança no dedo – ou só um namorado lindo, gentil, bem-sucedido, 10 cm mais alto que eu, moreno de sol e sorriso de propaganda de pasta de dente pra me sentir feliz. Porque a felicidade de muitas pessoas só existe se todos ao seu redor a julgam feliz. É a tal da coersão social.
Hoje, não me sinto culpada por não precisar fazer isso. Ao contrário, acho chato e banal demorar tanto tempo e gastar tanta energia para provar ao mundo o que nem eu tenho assim tanta certeza. Eu sou muito mais feliz na minha casa, vestindo pijama, jogada no sofá comendo um prato enorme de massa apoiado na almofada e falando sozinha do que cercada de pessoas superficialmente felizes e bem arrumadas. Como também me sinto muito feliz acordando cedo todos os dias da semana para me arrumar pra ir trabalhar, pegar trânsito pra correr o dia inteiro debaixo do ar condicionado congelante e escutar da minha chefe que ela adora tudo o que eu faço (mesmo ela me pedindo pra refazer a maioria das coisas que eu entrego a ela, rs…).
Talvez felicidade seja mesmo estado de espírito. As pessoas só esquecem de se perguntar, afinal, o que é isso.

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