quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Carnaval?

Saldo do Carnaval: Dois livros, três DVDs. Trinta provas corrigidas, dois relatórios findos. Média de dez horas dormidas por noite. Uma compra mega de supermercado. Cabelo hidratado. Quatro pijamas no cesto de roupa suja, zero calças jeans. Pessoas com quem conversei durante esses dias: uma (minha mãe, pelo telefone), desconsiderando a caixa do supermercado, que me perguntou: “débito ou crédito?”. Número de dias que eu entrei na cozinha para preparar almoço/ jantar: quatro.

São Paulo já estava vazia na sexta-feira a noite. Incrível como as pessoas que moram nessa cidade necessitam sair correndo daqui quando o final de semana excede o sábado e o domingo. Melhor pra mim, que só divido a cidade com pessoas acima dos cinquenta anos e mais meia dúzia de pessoas esquisitas como eu. Aproveitei pra ir na academia deixar meu incômodo e minha indiferença sair pelos poros. Almocei e aproveitei todo o tempo livre de sábado para andar pelas prateleiras quase vazias da Cultura. Não encontrei o livro que eu estava procurando: Contra o Amor. Nome bastante sugestivo este. Mas como minha compulsão é quase incontrolável dentro de uma livraria, peguei dois livros na mão – O Casamento, de Nelson Rodrigues e Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis, de Nathan Englander – e saí correndo, para não ter perigo de sair dali com tantas sacolas que meus braços não pudessem carregar.
Andei de volta pra casa. Coisa que quase nunca faço. Mochila, vestido e chinelos. As pessoas até sorriem na Paulista quando São Paulo está vazia. Ainda no caminho, parei na 2001 para outra crise compulsiva. Não por acaso, Ó Paí, ó e Crocodilo estavam na minha mão em cinco minutos. Suspiro. Lembro de como ainda me incomoda as pessoas me perguntarem sobre algum filme que eu ainda não assisti. Mas são tantos… Enfim, cheguei em casa. Meu feriado estava praticamente preenchido.

Sábado terminou, domingo começou com chuva. Só mais um estímulo (ou seria a falta dele?) para permanecer em casa. O dia se passou entre filme, livro, trabalho, pensamentos. Descobri que cozinhar também pode ser terapia. Sou capaz de percorrer minhas idéias cultivando a paciência durante o intervalo de tempo em que os alimentos cozinham e ficam prontos. Definitivamente não dá para colocar as coisas no fogo e voltar só quando elas estiverem prontas. Quase me arrisco a dizer que não sinto mais insegurança para cozinhar para outras pessoas que não eu depois desses quatro dias.

Dos dois livros, gostei pouco de Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis e acho que quase já sou incapaz de me sentir chocada com qualquer coisa nessa vida depois que li O Casamento. Mas reconheço que nem todos gostam de Nelson Rodrigues, uma pena. Dos três filmes, gostei dos três. Um completamente diferente do outro, nada de overdoses.

Segunda-feira começou tarde. Dormi demais. Minhas costas quase chegaram a doer. Mais do mesmo. Sinto uma pontada de tédio. Um amigo diria: hormônios! Mas não. Ainda não é TPM. Trabalho um pouco, leio um pouco. Os DVDs, já havia devolvido no domingo. Olho pro telefone e não tenho vontade alguma de falar com alguém. Não faz sol e nem chove lá fora. Tédio. No final da noite aquela quase ansiedade passa (talvez pelo dia ter acabado) e devoro Nelson Rodrigues para, quem sabe, fugir da minha própria realidade.

Acordo cedo terça-feira para ter a impressão que o dia passaria devagar. Mas incrível que toda vez que desejo isso, as horas voam. Supermercado pela manhã. Guardo compras, respondo emails, muitas janelinhas piscando no msn. Trabalho, escrevo, leio, penso, quase sonho de novo. Faço as pazes com o meu silêncio. Esqueço de almoçar. Suspiro. E mais um dia acaba…

Confesso que não foi o melhor Carnaval da minha vida. Mas não foi o pior. Não vejo problema algum em suspender a própria vida de vez em quando pelo simples fato de suspender a vida. Não sei realmente o que eu gostaria de ter feito durante estes dias se não fizesse o que eu fiz. Hoje, não faz diferença. Não faz diferença eu ter ido viajar pra um lugar espetacular ou ter ficado aqui. Ou pior, ter ido viajar com a ilusão de ser espetacular e ser frustrante, ou ter ficado aqui. Simplesmente, não importa! Hoje… Irá mudar tão logo os dias passem e outro feriado aconteça. Não tinha a pretensão de organizar coisa alguma quando decidi permanecer onde eu estava. Mas muitas vezes preciso parar com tudo para recuperar meu discernimento da proporção que acontecimentos, coisas e pessoas ocupam na minha vida. E, dessa vez, não achei conveniente me afastar de mim para conseguir isto. Uma viagem, uma aventura ou um retiro espiritual não preencheriam o espaço que nem eu sei se está vazio.

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