sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O que passa e o que fica

Muitas pessoas já passaram pela minha vida. Poucas permaneceram. E isso só dependeu da intensidade em que cada uma fez parte dos meus momentos. O tempo se perde.
E isso é bastante claro quando pondero meus pseudo-relacionamentos amorosos. A maioria passou pela minha vida e, quando paro e tento lembrar de algumas cenas, chego ao ponto de mal lembrar o rosto desses homens. Abro um sorriso inconformado e lembro somente que, em algum instante, cheguei a sofrer por eles. Não consigo mais ter claro o motivo que me levou a tal sofrimento. Muito menos o que eu esperava e, mais distante ainda, o que eu sentia.
Começo então a pensar no que me encanta numa criatura do sexo oposto e tenho muito claro que muitas vezes eu invento sentimentos pra preencher todo o vazio que basta em mim. Esqueço da beleza singela de receber um telefonema no meio do dia, ou pelo menos um email, que me pergunte como eu estou ou só aquele assunto-desculpa que o lado de lá inventa pra ter uma resposta. E, muitas vezes que as pequenas coisas belas acontecem, eu simplesmente não valorizo.
Quando eu esqueço do lugar que eu ocupo na minha própria vida é que eu desvalorizo certas coisas e valorizo outras. Mas eu sempre volto pro meu lugar. E é nítido que um encontro de almas é muito diferente de um encontro de corpos. Até aquele que faz parte dos top five na cama vira lixo nesse momento. Uma pessoa que consegue revirar seus sentimentos numa conversa de meia hora (mas que na verdade dura bem mais que isso quando se olha num relógio) ocupa bem mais espaço na sua vida do que aquela que te faz revirar os olhos numa transa completamente louca e vazia que dura duas horas. A pessoa sai da sua cama e não resta nada. Duas horas que se esvaziam depois de poucos minutos dormidos.
O melhor dos mundos é quando se consegue ter tudo de uma só pessoa. Perde-se a ansiedade da busca ensandecida por prazer. Porque o prazer é só consequência. É quando não precisamos mais viver no incômodo de pensar que tudo vai acabar. Mero engano este também. Porque o que não chegou a começar não pode nunca acabar. Não existe o fim sem os meios.
Já me vi em situações passageiras e certas. E que em determinado momento eu tentei me enganar, com toda minha força e minha vontade, tentando criar situações que nunca existiram, a partir das minhas fantasias. Senti saudades de coisas ocas, que faziam eco a cada grito que eu dava. Nunca houveram respostas. Só meu eco. E, por um tempo, o eco foi suficiente pra me manter nessa pseudo-relação.
Mas o eco não me encanta mais. Não por muito tempo. Eu ainda tenho discernimento emocional para me apaixonar por aquilo que é verdadeiro. Por alguém que não foi necessário construir fantasias em cima da sua imagem. E são essas que permanecem na minha vida.
São aquelas pessoas capazes de abrir meus olhos e meu coração sem impor nada. Confrontar as minhas opiniões e muitas vezes meus sentimentos com argumentos muitas vezes contrários aos meus. Mas que num abraço ou numa conversa se fazem realmente presentes, dividindo mais delas e tomando um pouco de mim.
Homens capazes de me carregar no colo e abrir minha alma. Que me deixam ser quem eu sou, invadindo minhas limitações e enxergando meus medos. Não me enfrentando de frente, e muito menos recuando nas minhas inconsistências. Esses homens muitas vezes nem tem a pretensão de permanecer na minha vida. Mas são tão inteiros que se bastam na sua própria existência. Têm uma autenticidade tamanha que se preocupam muito mais em serem quem são e me deixar ser quem eu sou e que não se importam com o que dizem, desde que seja a verdade, porque estes sim sabem o peso que a minha alma pode suportar. Eles sabem que não importa o que aconteça, que o que já se passou foi tão intenso e tão sincero, que não vai acabar.
Estes já diviram minhas lágrimas e me fizeram perceber que a vida continua. Já me encantaram com abraços sinceros. Já se encantaram com os meus risos de desespero, minha inconstância e intensidade. E permaneceram ali! (Mesmo que fosse pra me chamar de doce e levemente dissimulada!). Permaneceram porque estavam inteiros enquanto estiveram do meu lado, mesmo que soubéssemos que nada era para sempre.
Pessoas inteiras realmente me encantam. Talvez porque seja um pouco isso que eu enxergo quando olho pro espelho e consigo gostar do reflexo.

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