Minha vida anda bem mansa. Mansa demais ao ponto de eu passar os dias entediada, não importa o que eu invente fazer. Porque, para mim, vida mansa significa fazer tudo o que eu quero fazer, sem me agoniar com aquilo que eu deixei de fazer. E eu sempre achei que tempo é relativo e que presença na ausência faz todo o sentido do mundo.
Não é difícil encontrar alguém muito ocupado, ainda mais em São Paulo, onde o trânsito muitas vezes toma um tempo desgraçado do seu dia, mesmo sendo você o tipo de pessoa que faz telefonemas, estuda inglês e lê livros enquanto fica parado na 23 de maio, 9 de julho ou na Marginal, indo e voltando do trabalho. Mas gente apaixonada que mora a quilômetros de distância existem aos montes nessa cidade em que as pessoas andam correndo pelas ruas.
Eu não sou o maior exemplo de alguém que arruma tempo e disposição para socializar, mas nunca joguei a culpa na falta de tempo e no cansaço. Porque não há cansaço que me impeça de fazer algo quando eu quero. Porque eu sou daquelas que quero porque quero e não é uma dor de cabeça ou sono que me fazem desistir. E todas as vezes que eu quis algo, quis realmente, eu fiz acontecer. Lembro com um sorriso nos olhos de quando eu ainda ia trabalhar de metrô, saía às seis da manhã de casa pra academia, corria pro trabalho às oito de banho tomado e mochila nas costas, emendava um curso de Mercado Financeiro que ia até às dez e lá vai da noite. Depois desse dia corrido e do cão, eu arrumava fôlego, quase todos os dias, pra ver aquele matemático doidinho e querido que me fazia esquecer dos perrengues da vida, nem que fosse pra ficarmos conversando até altas horas assistindo Jô Soares.
Às vezes o tempo e a distância complicam a vida de duas pessoas dispostas a ficarem juntas, independente do nome que a relação tenha. Mas quando se quer mesmo, se quer de verdade, a tecnologia nem tão avançada dá jeito das coisas se tornarem mais simples. Nada que um sms não faça por você no meio de uma tarde ocupada e estressante, um telefonema de boa noite, um email encaminhado com uma notícia que possa me interessar. Também sou bastante a favor de uma fugidinha no final do dia ou acordar uma hora mais cedo para tomar um café da manhã com alguém que nos importamos quando o tempo é escasso e as obrigações gritam alto por nós. Quem nunca matou uma aula ou uma ida à academia por um abraço demorado não sabe o que é se importar e não valoriza isso. Não ao ponto de merecer o respeito, a admiração e a reciprocidade do outro.
Falta de tempo, no fim, é só falta de vontade. É uma desculpa pobre que busca respaldo no próprio umbigo. De gente que tenta se justificar sempre e cada dia mais, pensando que a própria vida é tão cheia e que só cabe em si. Daqueles que se esquecem que pra viver, não basta estar vivo.